Correio Braziliense
postado em 23/06/2020 10:46
A população contaminada pelo novo coronavírus em Belo Horizonte é duas vezes e meia maior que os registros confirmados de infectados em todo o Estado, aponta pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que tem como base amostras de esgoto coletadas em 17 pontos da cidade nas duas bacias que cortam o município (Ribeirão Arrudas e Ribeirão do Onça). Minas Gerais tem 21 milhões de habitantes, enquanto na capital são 2,5 milhões de pessoas.O levantamento da UFMG, que leva em conta as semanas epidemiológicas, mostrou que, processada a coleta mais recente, finalizada em 12 de junho, mais de 50 mil pessoas estavam contaminadas pelo vírus na cidade. Na mesma data, conforme o boletim diário da Secretaria de Estado de Saúde, o total de infectados em todo o Estado de Minas Gerais era de 20.106 casos
Na data da coleta, o número de casos confirmados na capital era de 3.028. Nessa comparação, a cidade tinha, conforme o estudo da universidade, quase 17 vezes mais casos que todo o Estado. As amostras foram recolhidas em 8 pontos da bacia do Onça, 7 pontos na bacia do Arrudas e em pontos de entrada das estações de tratamento de esgoto que existem nos dois ribeirões.
Segundo uma das professoras da UFMG responsáveis pelo estudo, Juliana Calábria, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da universidade, as amostras identificaram material genético do novo coronavírus a partir de fezes e urina da população. "É uma forma de testagem indireta", diz a especialista. "Se foi encontrado no esgoto, é porque as pessoas estão excretando o novo coronavírus", explica.
Procurada pelo reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte se posicionou por meio de nota. "A tomada de decisões para políticas de enfrentamento à pandemia do Coronavírus em Belo Horizonte leva em consideração os números qualificados pela Secretaria Municipal de Saúde. Os casos divulgados no Boletim Epidemiológico e Assistencial se referem a pessoas sintomáticas e com a COVID confirmada por meio de exame laboratorial. Já a pesquisa da Universidade Federal de Minas traça uma estimativa indireta que inclui os casos assintomáticos, que são mais de 80% dos portadores do coronavírus. A Secretaria Municipal de Saúde destaca que nos pontos de amostragem não se pode separar de maneira clara e objetiva a carga viral decorrente da capital e de Contagem. Por isso, a SMSA sugeriu aos pesquisadores que nas próximas coletas fossem estabelecidos pontos mais definidos. A Prefeitura reconhece a importância destes estudos que possibilitam o acúmulo de conhecimentos que podem nortear as políticas públicas."
O diagnóstico apresentado pela UFMG é feito utilizando-se o volume total de esgoto que entra no sistema dividido pelo que cada morador da cidade que contribui para a rede expele individualmente. Esse número relativo a cada habitante é referencial e determinado a partir de estudos laboratoriais. "Assim, dividimos a carga viral que chega nas estações de tratamento de esgoto pela carga viral individual, e alcançamos um bom grau de segurança nas estimativas", diz o professor Carlos Chernicharo, também responsável pelo estudo.
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Baixa testagem
O resultado é mais uma prova da baixa testagem registrada no Estado. "Todos os países que conseguiram conter minimamente a disseminação do vírus fizeram testagem muito alta, para implementação de medidas de isolamento", afirma a professora da UFMG.
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