Enquanto os números do novo coronavírus registrados, ontem, pelo Ministério da Saúde seguem a tendência de crescimento vista nos últimos dois dias, a falta de insumos para intubar pacientes infectados é sentida na rede pública. Segundo levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), 22 unidades da federação têm estoques zerados para ao menos um medicamento deste tipo. A indústria de medicamentos afirma que tem estoque dos produtos, mas não consegue atender a licitações de longo prazo. Com mais 39.483 infecções e 1.141 mortes, o país possui 1.228.114 brasileiros atingidos e 54.971 vidas perdidas.
Deputados federais da comissão que acompanha a resposta à covid-19 prometem questionar se distribuidores de medicamentos estão estocando produtos para vender a preços mais altos. Estado com maior número de casos e óbitos, São Paulo tem, no SUS, estoques zerados de 10 dos 22 produtos usados para intubar pacientes listados pelo Conass. Outros cinco fármacos se esgotam em menos de uma semana.
A elevação da taxa de transmissão do vírus observada por estudos internacionais e o aumento significativo de novos casos na 25ª semana epidemiológica mostram que o país parece distante de uma estabilização. Até o momento, a média dos registros diários da semana epidemiológica de número 26, que termina amanhã, confirma isso, com 32.107 casos. De acordo com o levantamento feito pelo Correio, mesmo sem os números de infectados de hoje e amanhã, a média já mostra crescimento em relação à última semana avaliada pelo governo. Entre 14 e 20 de junho, período da 25ª semana, a média de registros diários de novos casos foi de 31.009.
Especialista em Políticas Públicas e Gestão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Leandro Safatle reforça os dados expostos ao declarar que a situação tende a se agravar. “O Brasil está, ainda, em uma situação bem complicada, porque a curva de casos ainda não está mostrando descendência. Está tendo mais de 40 mil casos novos sendo diagnosticados por dia no país. A situação tende a se agravar ainda, um pouco, porque o nosso histórico de doenças pulmonares e de vias aéreas vem aumentando, ano a ano, as mortes nesse sentido no país”, avalia.
Promessas
Uma saída para a falta de insumos nas redes pública e privada é debatida pelo menos desde o começo de junho. O Ministério da Saúde promete mediar compras de estados e municípios, abrindo uma “ata de registro de preços”, para centralizar as compras e evitar uma espécie de leilão entre os entes. Além disso, a pasta promete realizar uma busca emergencial no mercado internacional por meio de fundo rotativo da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
A chegada dos medicamentos, no entanto, não deve ser imediata. O assessor da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde Alessandro Glauco afirmou, ontem, a deputados, que uma licitação ampla só será lançada daqui a duas ou três semanas.
Estados
Ao registrar 9.765 casos nas últimas 24 horas e bater o recorde pelo segundo dia consecutivo, São Paulo continua na liderança dos números brasileiros da pandemia, com 248.587 atingidos e 13.759 mortes. Apenas 34 dos 645 municípios do estado não registram infecções pelo novo vírus. A interiorização no estado é visível, já que, em apenas quatro dias, o percentual de diagnósticos fora da capital praticamente dobrou em relação ao mesmo índice da semana anterior.
Segundo os dados da Secretaria de estado da Saúde, entre os dias 14 e 20 de junho, o interior de São Paulo registrou 17.932 novas infecções, enquanto a capital confirmou 15.342 casos. O avanço da pandemia fora do município de SP foi 14,5% maior. Outros oito estados já ultrapassaram a marca de mil óbitos cada. São eles: Rio de Janeiro (9.450), Ceará (5.875), Pará (4.748), Pernambuco (4.488), Amazonas (2.731), Maranhão (1.871), Bahia (1.601) e Espírito Santo (1.463). Juntos, os nove estados somam 46.013 mortes, ou seja, 83,7% de todos os óbitos.
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