Brasil

Não há relaxamento sem leitos de UTI

Correio Braziliense
postado em 26/06/2020 04:04
O médico Paulo Hoff, profissional com reputação mundial na área de oncologia, é um observador atento da pandemia de covid-19 no país. Entrevistado do programa CB.Saúde, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, ele comentou o afrouxamento da quarentena e os desafios que a doença traz ao combate ao câncer. Confira os principais trechos da entrevista.

O governo fala que fez uma testagem considerável da população, mas a ocupação de UTIs é alarmante. Como saber se um país, um estado ou uma cidade está preparados para promover uma flexibilização do isolamento?

 Em um primeiro momento, estabelecem-se medidas mais duras de distanciamento e, à medida que a situação vai ficando sob controle, é possível começar o relaxamento. A grande questão é como fazer isso. É preciso fazer uma série de avaliações, como a velocidade de disseminação, quantas pessoas estão sendo infectadas. A testagem em massa ajuda muito para ter noção da velocidade do contágio. No caso da covid-19, é impressionante, mais da metade dos pacientes precisa de UTIs  — algo muito diferente do usual. Por isso, há toda a preocupação com máquinas de ventilação. De maneira geral, não faltam leitos comuns, faltam UTIs. Então, não pode haver o relaxamento se não tiver uma disponibilidade de leitos para atender a um eventual aumento da demanda. No caso da covid-19, o tempo de permanência na UTI, geralmente, passa de um mês. É possível regionalizar as decisões de reabertura dos serviços. Em algumas regiões, os indicadores pioram, e é preciso dar um passo atrás. Isso ocorreu em outros países e pode acontecer aqui. Mas, para tanto, é fundamental a testagem.

Testes rápidos não são considerados tão confiáveis. Além disso, o país parece ter falhado na testagem em massa. Fica mais difícil tomar decisões acertadas sem uma testagem ampla e confiável?
 Os testes têm bastante confusão. Existem hoje três tipos de teste. O primeiro é o PCR, em que há a coleta de material pelo nariz. É o mais confiável, detecta se a pessoa está com o vírus naquele momento. Mas é o mais complexo de fazer em termos de infraestrutura e que possui menos disponibilidade. Os testes rápidos, aqueles feitos com uma gota de sangue, determinam, em linhas gerais, se o paciente teve exposição e se foi por muito ou pouco tempo. É mais para determinar um histórico da população do que realmente sobre o indivíduo. Tanto que se você está com suspeitas no hospital, faz o PCR. O de sorologia também só conta uma história depois que já aconteceu. É possível ver se o paciente desenvolveu resistência.
 
Algumas pessoas estão há três meses em casa, no isolamento. Há questionamentos se o esforço foi realmente necessário, uma vez que os números são alarmantes. O isolamento ajudou a conter a pandemia?

 No Brasil, houve um achatamento da curva. Nas regiões Norte e Nordeste, há uma dificuldade no sistema de saúde, mas no Sudeste, mesmo com todos os problemas, os hospitais não entraram em colapso. Conseguimos dar atendimento em UTIs para todos os que precisaram. Em Brasília, acontece a mesma coisa, as pessoas ficam doentes, mas o sistema consegue atendê-las e garantir que elas sobrevivam. Nós não temos, infelizmente, um tratamento que seja individualmente eficiente contra o vírus, mas temos várias medidas que melhoram as chances de o indivíduo com a doença grave sobreviver.
 
Para quem lida com o tratamento de câncer, que desafios a covid-19 trouxe para esse setor da medicina?
A covid-19 é um problema que está monopolizando nossa atenção e a estrutura de atendimento médico. As pessoas continuam tendo outros problemas de saúde, como problemas do coração, diabetes e câncer. Duas situações na oncologia nos preocupam. Até por estímulo nosso para o isolamento, houve uma redução de cirurgias para tratamento de câncer e quimioterapia. As pessoas deixaram de fazer tratamentos que auxiliam contra a doença a longo prazo. É algo que estamos tentando reverter. É muito importante que se continue o tratamento.
 
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

CBAgro
Guilherme Nastari, diretor da Datagro, é o entrevistado
desta sexta-feira.

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