Brasil

Reencontro entre pai e filho após covid-19 comove a internet

O vídeo do reencontrou entre Luiz Filipe, de 5 anos, e o pai, Filipe Augusto, recuperado de covid-19 conquistou inúmeros corações

Na noite de terça-feira (23/6), Luiz Filipe, de 5 anos, ganhou uma surpresa. "Como você apareceu aqui, pai?", pergunta o menino. Aos prantos, ele abraça o pai, o coordenador pedagógico Filipe Augusto, 35, que estava internado há mais de 20 dias se recuperando de uma cirurgia de esofagectomia (retirada cirúrgica do esôfago), mas acabou contaminado pelo novo coronavírus. A emoção de pai e filho logo tomou conta da internet e confortou inúmeros corações. 

O vídeo foi gravado pela mãe de Luiz Filipe, Gisele Sabino, 38, que preparou a surpresa para o pequeno. Ao ver o pai sentado na cama, o menino perde a fala e fica sem acreditar. "Não vou chorar", repete Luiz Filipe controlando a emoção. "Viu como ele está melhor, não está mais gordinho", comenta apontando para Filipe. E basta o primeiro abraço para as lágrimas virem à tona. "Papai voltou!", reiteram os dois abraçados.


Morador de Itupeva, no interior do estado de São Paulo, o coordenador pedagógico compartilhou o vídeo nas redes sociais na quinta-feira (25/6). Além da gravação e de uma foto na porta do hospital, ele escreveu um texto no qual relata um pouco do que vivenciou:  


"Após 28 dias internado, destes, uns 20 na UTI, finalmente estou em casa. Ainda não estou 100%, mas estar em casa é outra coisa. Primeiramente, fiz uma cirurgia de esofagectomia e estava tudo indo bem graças a Deus, e quando estava para ter alta infelizmente recebi a notícia da covid. Mas graças a Deus estou aqui. Vitória em dose dupla para honra e glória de Jesus. Não tenho palavras para agradecer todo apoio que eu e minha esposa recebemos. Agradeço a equipe médica que me acompanhou, estive em todos os momentos muito bem assistido pelos melhores, tanto na cirurgia como na covid. Além da equipe médica tive as orações de muitas pessoas que fizeram muita diferença nesta batalha que passei. Sei que não são poucas, pois tive a experiência de ter uma visão e ver a quantidade de pessoas que batalharam junto comigo, e isso me sustentou nesses dias internado. Nessa visão pude ver pessoas que nem conheço. Aqui é apenas uma síntese do que passei nesses 28 dias, pois a história é longa. Deixo o meu eterno agradecimento a todos que de alguma forma estiveram comigo. Sintam-se abraçados. Muito obrigado e que Deus abençoe grandemente cada um."


Ainda se recuperando, Filipe conversou com o Correio na manhã deste domingo (28/6). A união e o amor entre a família ficam evidentes. Para o coordenador pedagógico, o apoio dos familiares foi determinante em todo o processo. Desde janeiro, ele vinha tratando um câncer de esôfago e estava com a cirurgia marcada para maio.

Após o procedimento cirúrgico e perto de receber alta médica, Filipe foi diagnosticado com a covid-19. "Quando você recebe a notícia do vírus, seu mundo cai um pouco. Estava em um momento muito feliz, prestes a ter alta. A partir desse momento, você tem que estar confiando em Deus, com a cabeça boa para entender que existe um propósito naquilo tudo", relata. 

Internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Filipe não precisou ser entubado e esteve consciente durante todos os dias.

"A covid não é brincadeira. Via nos médicos uma preocupação. O vírus é instável. Para alguns pode ser mais agressivo, para outros não. Eu ainda era pós-cirúrgico", relembra. O nível de oxigênio no sangue do coordenador pedagógico caiu e ele viveu a ansiedade, a angústia e o medo de ser entubado. "Você vai vivendo um dia de cada vez", descreve. 

Para se recuperar, além de todo o cuidado da equipe do hospital, Filipe contou com uma base de oração que o fortaleceu. "Sabia que tinha muitas pessoas, pessoas que nem me conheciam, orando por mim, pela minha família, pela minha esposa", comenta. Ele também aceitou participar de uma pesquisa que usa o plasma de pacientes recuperados no tratamento de infectados pelo vírus. "Falo que foi uma vitória ao quadrado, porque estou curado da cirurgia e da covid", resume. 

Emoção

Com o coração cheio de saudade do filho e de toda a família, o coordenador pedagógico detalha que voltou para casa chorando. "Mesmo com o melhor atendimento médico, com as bases emocional e espiritual que te ajudam muito, ficar 20 dias na UTI te cansa. Quando minha esposa foi me buscar no hospital, já comecei a chorar. Você sente falta. A gente é muito unido. Isso também te mobiliza a querer vencer. E o momento do reencontro não tem preço", conta. 

Luiz Filipe desconhece a contaminação do pai pelo novo coronavírus e, talvez, a proporção que a doença tem tomado no mundo. Contudo, o menino não perdeu a sensibilidade, nem muito menos, deixou de contar os dias para estar de novo com o pai.

"Foi muito legal, estava com saudade. Saudade de ficar do lado dele", conta. O pequeno tem planos para o futuro: o primeiro é celebrar o aniversário de 5 anos, mas desta vez assoprando a vela com pai e mãe, já que no dia oficial, o pai ainda estava internado; o segundo,ser engenheiro para construir casa para os moradores de rua. 

Vitória

Saiba Mais

Reunido ao lado do filho e da esposa, Filipe comenta que os últimos dias mudaram a sua vida. "Posso dizer que você dá valor a coisas simples que você não dava. Ir ao banheiro, tomar banho, escovar os dentes, você conseguir levantar, ficar de pé. No hospital, você fica imobilizado. São coisas simples que a gente, na correria do dia a dia, não dá valor, entra no piloto automático. Você começa a rever algumas coisas na sua vida, vê pequenas coisas de modo diferente. Dá mais valor para a saúde, para a alimentação", afirma. Mesmo tendo enfrentado as dificuldades com clareza, a força da oração e, principalmente, com o amor de amigos e familiares, o coordenador pedagógico também confessa que a relação familiar ganha outros ares, e deixa uma mensagem: "Sei que não é fácil, mas tentar ter a cabeça no lugar, tentar ter uma consciência de que existe um propósito naquilo. Ter confiança em Deus, saber que Deus é com você. Que é possível ver a situação com outros olhos, para você crescer, para amadurecer. Se apegue também na família. E vida que segue, é preciso ter garra para vencer".