Protesto na volta aos jogos

Correio Braziliense

postado em 29/06/2020 04:12

O retorno do Botafogo aos gramados não ficou marcado apenas pelo placar elástico de 6 x 2 sobre a Cabofriense, no Nilton Santos, mas, também, pelos protestos do time alvinegro, que é contra a retomada das partidas, neste momento, em que a pandemia ainda não está controlada no Rio de Janeiro e no país.

A equipe entrou em campo, às 11h, carregando uma faixa com a frase “protocolo bom é o que respeita vidas”. Além disso, o técnico Paulo Autuori preferiu não participar do jogo, em sinal de protesto, e acompanhou a partida das cabines, deixando o auxiliar Renê Weber no gramado. O treinador havia sido suspenso pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) do Rio de Janeiro, por 15 dias, após criticar a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) em uma entrevista, mas obteve liminar no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para dirigir o time. Mesmo assim, preferiu ficar fora.

“O Botafogo retorna triste, foram mil mortos ontem. A gente só ouve falar de futebol no Rio de Janeiro, todo mundo preocupado com a doença, nosso técnico sob protesto, não aceitando essa situação, jogadores preocupados... Vamos entrar em campo achando tudo muito esquisito, não é o futebol que estamos acostumados a assistir e acompanhar, é uma outra coisa”, desabafou Carlos Augusto Montenegro, ex-presidente e atual membro do comitê gestor do clube, em entrevista ao SporTV antes da partida.

O movimento Vidas negras importam também foi lembrado. Após o início do jogo, na primeira falta que o Botafogo teve para cobrar no campo de defesa, os jogadores ajoelharam-se repetindo o gesto que vem sendo feito por personalidades do esporte em todo o mundo.

A atitude, no entanto, não foi combinada ou faz parte do protocolo como se tem visto em outros países. Prova disso é que os jogadores da Cabofriense e o árbitro foram pegos de surpresa e apenas um atleta adversário aderiu ao movimento, que durou poucos segundos.

Jogadores do Fluminense também protestaram. Eles entraram em campo, também no Nilton Santos, à noite, com camisas pretas em apoio ao movimento Vidas negras importam e para criticar a volta aos jogos neste momento da pandemia. O presidente do clube, Mário Bittencourt, usou as redes sociais para reprovar o retorno precipitado. “Hoje (ontem), pela primeira vez, saio de casa triste para ver meu tricolor. Jogadores de máscara, estádio sem público e um campeonato que volta às pressas, sem sabermos a que interesse querem atender”, escreveu. “Milhares de pessoas ainda morrem no Brasil, enquanto somos obrigados a jogar futebol sem nenhuma segurança.” O tricolor enfrentou o Volta Redonda e perdeu por 3 x 0. Também ontem, o Vasco ganhou do Macaé por 3 x 1.