Correio Braziliense
postado em 29/06/2020 04:12
A decisão do governo de Jair Bolsonaro de investir no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus trouxe esperança para milhares de brasileiros. O estudo mostra-se o mais avançado e promissor do mundo contra a covid-19. Por isso, é, também, o mais demandado. A “vacina de Oxford”, desenvolvida pela Universidade de Oxford, já está na terceira fase de testes, mas só terá sua eficácia comprovada em setembro ou outubro deste ano. Ainda assim, a farmacêutica britânica AstraZeneca preparou uma operação de guerra para produzir dois bilhões de doses nos próximos meses, quase todas encomendadas. Se não decidisse aportar US$ 127 milhões na transferência tecnológica da vacina agora, o Brasil correria o risco de ficar de fora do primeiro lote de imunização. A decisão, apesar de arriscada, ocorre no momento certo para garantir uma chance de vacinação aos brasileiros, segundo o diretor executivo de Relações Corporativas, Regulatório e Acesso ao Mercado da AstraZeneca, Jorge Mazzei. Confira os principais trechos da entrevista:
Descoberta
A descoberta foi feita pela Universidade de Oxford. A AstraZeneca entrou no processo para viabilizar a produção em larga escala para atender a uma pandemia. Antecipamos o trabalho para ter as vacinas prontas antes da conclusão dos estudos clínicos. Porém, mesmo que todas as nossas fábricas trabalhassem nisso, não conseguiríamos atender ao mundo todo. Por isso, estamos desenvolvendo fornecedores e parceiros. Dando certo, teremos de entregar dois bilhões de doses em um período curto de tempo. Vamos mandar o insumo e o parceiro vai fazer a produção, envasar e distribuir. É uma logística complexa, quase de guerra.
Parceria
Fechamos parceria com a Inglaterra, Estados Unidos, Índia, Itália, Holanda, França, Alemanha e duas ONGs que vão distribuir as vacinas em países de baixa renda. E, agora, com o Brasil. Reconhecemos a capacidade de produção da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em dezembro, já teremos brasileiros sendo vacinados.
Custo
A decisão da AstraZeneza foi de, durante a pandemia, não buscar lucro no desenvolvimento e na produção da vacina. É nossa responsabilidade social enquanto empresa. Então, estamos oferecendo com lucro zero. Os investimentos são para a transferência de tecnologia e fabricação.
Demanda
Nossa capacidade de produção é de dois bilhões de vacinas, todas praticamente encomendadas. Se não entrasse agora, o Brasil teria que esperar a produção de mais matéria prima. Lógico que estamos buscando mais capacidade, mas não é fácil. Desde que começamos a conversar com o governo, a companhia deixou reservado o lote de 100 milhões de unidades.
Negociação
Foram três a quatro semanas de conversa. A discussão foi sobre como o governo poderia se comprometer com recursos agora sob o risco de a vacina não ser aprovada. Sabemos que é uma decisão difícil. Foi em tempo célere, dada a complexidade que existe no processo de compras do Poder Executivo. A AstraZeneca deixou essas vacinas reservadas para o Brasil, porque temos um compromisso com o país. Nós estamos presentes aqui e há uma preocupação com a situação da pandemia no Brasil. Nós tentamos trazer a tecnologia de forma muito rápida, tanto que 5 mil voluntários estão sendo vacinados e testados aqui.
Quantidade
A quantidade de vacinas foi uma decisão do governo brasileiro. Não tivemos interferência nisso. Poderiam ter decidido 50 milhões, 150 milhões, mas decidiram 100 milhões. Pelo que a Saúde falou, fizeram estudos de imunização do grupo de risco e do restante da população. Acredito que seja o volume que o Brasil precisa. Recebemos a carta de intenções e agora vamos sentar com a Fiocruz para definir os detalhes do contrato. Temos muito trabalho pela frente, porque transferir a tecnologia não é uma coisa fácil.
Fases
No primeiro momento, o insumo virá pronto de fora, concentrado, e a Fiocruz vai fazer o processamento e o envase da dose. É uma operação complexa. No segundo momento, o objetivo é passar a produzir esse ativo aqui. Mas, isso vai depender dos processos que serão conversados, agora, para a transferência de tecnologia da produção e do ativo em si.
Prazos
A previsão é de que as primeiras 30,4 milhões de vacinas fiquem prontas entre dezembro e janeiro. As outras 70 milhões vão depender dos prazos do contrato e de quando, após a comprovação de efetividade, o governo vai reiterar o compromisso de compra. Nossa previsão é de que o primeiro lote de 2 bilhões de vacinas seja concluído até junho do ano que vem. Estamos conversando com a Anvisa, porque precisamos trabalhar no registro sanitário. Queremos aprovar a vacina no país até o fim do ano.
Teste
Estamos na fase três de testes, que é a última. Para garantir a segurança e a eficácia da vacina, precisamos testá-la em certo número de pacientes. Por isso, teremos 50 mil indivíduos sendo testados no mundo — 5 mil aqui no Brasil, 30 mil nos Estados Unidos, 10 mil no Reino Unido e 5 mil na África e na Ásia. Aqui, começamos em junho e vamos até abril de 2021. É possível perceber a reação do sistema imunológico em 28 dias. Até setembro ou outubro teremos o resultado.
Imunidade
Nesses 28 dias, a gente percebe a imunidade, mas vamos acompanhar os voluntários por um ano para entender o tempo que a vacina mantém a imunidade e quantidade ideal de doses. Se a pessoa fica imune o resto da vida ao ser vacinada na infância ou se é preciso uma dose todo ano. As primeiras 30,4 milhões de doses do Brasil vão começar a ser preparadas nos próximos meses para estarem prontas caso a aposta dê certo.
Confiança
São mais de 100 vacinas em teste no mundo. Mas, a nossa é a que está na fase mais avançada, então, a probabilidade de dar certo é maior. A própria OMS (Organização Mundial de Saúde) disse que é a mais promissora. A grande solução é a imunização da população. A vacina será o divisor de águas entre a pandemia e o pós-pandemia.
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