A Central de Regulação de Oferta dos Serviços de Saúde (Cross), órgão do governo do Estado que controla a oferta de vagas de internação para direcionar a demanda aos locais adequados, já trabalhava com a previsão de que essa situação poderia ocorrer, e informa que, com os arranjos necessários, até o momento nenhuma pessoa que precisou de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ficou sem vaga.
Só neste domingo, 28, em Campinas, a 97 quilômetros da capital, por exemplo, o governo do Estado informa ter recebido 40 pedidos de internação de pacientes vindos da rede municipal. Destes, três foram encaminhados para a capital.
"Temos uma 'grade' de rede de referência, que é regionalizada. Por exemplo: se temos um paciente em Sertãozinho, a referência é Ribeirão Preto. Valinhos, é Campinas. O paciente em Tatuí, vai para Sorocaba. É uma grade com que a gente trabalha há muitos anos", disse o gerente médico da Cross, Domingos Guilherme Napoli. "Eventualmente, a gente tem de expandir essa grade", explica.
Napoli ressalta que as transferências acima dos 40 quilômetros de distância são raras e não devem ocorrer com frequência. Destaca ainda que cidades menores, como Jaboticabal, Sertãozinho, Batatais e Monte Alto receberam recentemente respiradores, reforçando as redes locais, para evitar transferências. "Com isso, criou-se mais leitos de UTIs, expandindo a possibilidade de leitos de UTI na própria região. Não vou trazer pacientes de Ribeirão Preto para São Paulo. Agora, Campinas é mais perto", afirma.
Há três regiões que, segundo Napoli, exigem maior atenção, devido ao maior número de pedidos por vagas para internação: Ribeirão Preto, Campinas e Sorocaba, nesta ordem.
Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), o número de internações na semana passada na capital, na comparação com a última semana de maio, caiu 10,26%. No caso de Ribeirão, o número aumentou 146%, de 221 para 546 internações Na média do Estado, o aumento foi de 9,21%. São Paulo tem, ao todo, 8.915 leitos de UTI exclusivos para atendimento da covid-19.
Uma das preocupações relatadas na capital por técnicos da área da Saúde é que, caso o município de São Paulo, que tem 3774 leitos de UTI (somando as redes pública, filantrópica e privada), passe a receber muitos pacientes do interior, a cidade poderia voltar à classificação "laranja" do Plano São Paulo, que determina o fechamento de bares, restaurantes, barbearias e salões de beleza. O porcentual de lotação das UTIs é um dos critérios para a classificação por cor, e haveria temor de que o dado da capital poderia ficar artificialmente elevado, inflado por pacientes de outras cidades.
O médico Napoli, entretanto, afirma que o número de pacientes que a capital já recebeu ou deverá receber ainda é muito pequeno ante a infraestrutura instalada, e afasta essa possibilidade.
Campinas pede transferências para outras cidades
Na sexta-feira, 26, Jonas Donizette informou ter enviado um pedido ao governo estadual para que as cidades da região pudessem absorver parte dos pacientes da covid-19 que moram em municípios do entorno de Campinas. O objetivo seria evitar que o envio desses pacientes para hospitais estaduais em Campinas, como o Hospital das Clínicas e o Ambulatório Médico de Especialidades, causasse sobrecarga na rede hospitalar da cidade, que é polo regional.
Donizette lembrou que a cidade já havia socorrido a Grande São Paulo quando a pandemia era mais forte no entorno da Capital. "Lá atrás vocês lembram quando São Paulo passou apuros, Campinas recebeu pacientes de Ferraz de Vasconcelos e de Franco da Rocha, cidades da Região Metropolitana. Nós estamos pedindo agora uma via de mão dupla." Se houver a ajuda, Campinas pretende usar os leitos do HC e AME também para moradores da cidade.
Nesta segunda-feira, Campinas tinha lotação em torno de 90%, com 39 leitos de UTI desocupados. Segundo o secretário Carmino de Souza, a média de permanência em UTI, que era de 20 dias no início da pandemia, caiu para 14 dias.