Brasil

Bares lotados no Rio indicam que população abandona cuidados com a covid

Cenas de aglomeração e de descuido na noite carioca mostram que população praticamente abandonou os cuidados necessários contra a pandemia. Rio, São Paulo e DF se preparam para voltar à ''normalidade'' com reabertura de bares

Correio Braziliense
postado em 04/07/2020 07:00
Bar do Leblon, no Rio, quinta-feira: cenas de aglomeração e pessoas sem máscara chocaram porque nem parecia que se está em plena pandemiaA lei que praticamente acaba com o uso da máscara de proteção facial contra o coronavírus chega justamente no momento em que o país vive uma onda de flexibilização, vista com a retomada de atividades em diversos estados. E a maior preocupação dos especialistas é a mensagem que os vetos do presidente Jair Bolsonaro passam à população neste momento. Antes mesmo da publicação da lei no Diário Oficial da União, a cidade do Rio de Janeiro exibiu cenas de aglomerações nas ruas durante a reabertura de bares e restaurantes. As imagens, feitas na zona boêmia do Leblon, apresentavam pessoas sem máscaras e concentradas na porta dos estabelecimentos.

A cidade de São Paulo se prepara para abrir bares, restaurantes e salões de beleza a partir da próxima semana. As condições são de funcionamento com 40% da capacidade, redução de jornada e funcionamento até, no máximo, 17h. Ontem, em coletiva, o governador de São Paulo, João Doria, criticou os vetos de Bolsonaro, apesar de ele mesmo estar promovendo a reabertura do comércio.

“Ele foi coerente com ele mesmo. O presidente Bolsonaro não usar máscaras, não recomenda o uso de máscaras, não recomenda isolamento social, adora cloroquina. O presidente Jair Bolsonaro foi o presidente Jair Bolsonaro ao fazer esse veto”, comentou.

O governador esclareceu que, independentemente da decisão presidencial, no estado de São Paulo a regra continua valendo. “Para o governador, para o prefeito e para todos os cidadãos que vivem no estado de São Paulo. E por quê? Porque aqui nós apreciamos a vida e queremos viver”, atacou.

No Distrito Federal, dias depois de declarar calamidade pública e diante do crescimento de casos e óbitos pela covid-19, o governador Ibaneis Rocha autorizou a reabertura total do comércio e a volta das aulas presenciais em escolas e universidades das redes pública e particular no Distrito Federal. As escolas devem começar a funcionar presencialmente em 3 de agosto (leia mais na página 15).

Divergências
Em abril, o STF garantiu autonomia para que prefeitos e governadores determinem medidas para o enfrentamento ao novo coronavírus. No entanto, a falta de um discurso convergente entre o presidente e os governadores, desde o início da pandemia no Brasil, preocupa especialistas.

 “Ainda que prevaleçam as legislações locais, Bolsonaro produz o que se chama dupla mensagem”, afirma o especialista em gestão da Saúde da Fundação Getúlio Vargas, Walter Cintra.

Na avaliação dele, Bolsonaro insiste em fazer das ações de combate à pandemia um instrumento de disputa política. “Com isso, demonstra, mais uma vez, o seu desprezo pela saúde pública e o bem-estar dos brasileiros e brasileiras”, completa.

O médico infectologista Leandro Machado também vê com preocupação os vetos em relação ao uso de máscaras no combate ao coronavírus, sobretudo neste momento em que o comércio se escancara e as pessoas deixam de lado cuidados básicos. Ele defende a necessidade de orientar a população. 

“As medidas de prevenção passam pelo uso do equipamento que faz barreira mecânica no controle do vírus. O uso de máscara é uma medida de prevenção efetiva que o mundo usou e está usando. Tirar isso é um risco muito alto”, observou.

Para Leandro, “é preciso educar as pessoas a adotarem não porque é lei, mas porque é necessário. Acredito ainda que isso vai se tornar um caso de vigilância pública, onde o próprio cliente vai fazer essa cobrança de que se o estabelecimento não atender aos requisitos de higiene sanitária, a pessoa deixa de frequentar”, salientou.Ou seja, tudo que não se viu na noite carioca.

Bia Doria: quem  vive na rua “gosta”
Bia Doria, primeira-dama de São Paulo, declarou em entrevista ao programa da socialite Val Marchiori que não se deve doar marmitas para moradores de rua porque “as pessoas gostam de ficar na rua” e elas “têm que se conscientizar e sair dessa situação”. O encontro foi gravado no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, e publicado em uma rede social na noite de quinta-feira. De acordo com a prefeitura da capital, a pandemia de coronavírus matou 28 sem-teto. No vídeo, elas dizem que os moradores de rua “não querem ter responsabilidades”. Mais tarde, Bia disse que tiraram a frase de contexto e se desculpou.

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