Brasil

Bolsa Família denuncia avanço da doença


Dados compilados pela consultoria IDados no mês passado evidenciam essa realidade pelo recorte dos beneficiários do Bolsa Família. Entre os municípios com mais de 100 casos confirmados de covid-19 no país até maio, aqueles que têm até 10% da população composta por beneficiários do maior programa de assistência nacional registraram, em média, 3.900 casos confirmados da doença. Nos municípios de 10% a 20% de beneficiários, a média subiu para 5.200. E naqueles com mais de 20% beneficiários, a média foi de 5.900. 

“As cidades com percentual maior de beneficiários do Bolsa Família em 2019 são as que mais tiveram casos de covid-19 por milhão de habitantes”, explica o pesquisador Matheus Souza, autor do estudo. Como os dados sobre o programa de assistência social podem ser uma referência das pessoas que vivem em situação de pobreza, a conclusão do pesquisador é de que os municípios mais afetados são os que têm parcela maior da população em situação vulnerável.

A última análise socioeconômica da taxa de letalidade da covid-19 no Brasil realizada pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), publicada em junho, também evidencia maior grau de letalidade da doença entre negros. Dos 8.963 pacientes negros internados analisados pelo estudo, 54,8% morreram nos hospitais. Entre os 9.988 pacientes brancos, 37,9% não sobreviveram à doença. 

Ao todo, foram analisados 29.933 casos ocorridos em unidades de saúde públicas e privadas, considerando apenas os encerrados, ou seja, que resultaram em morte ou recuperação até maio. “Esses números levantam questões que podem explicar diferenças como pirâmide etária, distribuição geográfica e desigualdades sociais, que afetam diretamente o acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, os desfechos das internações”, pontuam os autores da pesquisa.  

O nível de escolaridade também tem impacto nas chances de ganhar ou perder a batalha contra o coronavírus. Entre as pessoas com caso grave da doença que tinham nível de escolaridade superior, 22,5% morreram. Já entre aquelas sem escolaridade, a taxa de mortalidade foi de 71,3%. “Este efeito pode ser resultado de diferenças de renda que geram disparidades no acesso aos serviços básicos sanitários e de saúde”, reforçam os pesquisadores do Nois.