Correio Braziliense
postado em 05/07/2020 04:04
Dados compilados pela consultoria IDados no mês passado evidenciam essa realidade pelo recorte dos beneficiários do Bolsa Família. Entre os municípios com mais de 100 casos confirmados de covid-19 no país até maio, aqueles que têm até 10% da população composta por beneficiários do maior programa de assistência nacional registraram, em média, 3.900 casos confirmados da doença. Nos municípios de 10% a 20% de beneficiários, a média subiu para 5.200. E naqueles com mais de 20% beneficiários, a média foi de 5.900.
“As cidades com percentual maior de beneficiários do Bolsa Família em 2019 são as que mais tiveram casos de covid-19 por milhão de habitantes”, explica o pesquisador Matheus Souza, autor do estudo. Como os dados sobre o programa de assistência social podem ser uma referência das pessoas que vivem em situação de pobreza, a conclusão do pesquisador é de que os municípios mais afetados são os que têm parcela maior da população em situação vulnerável.
A última análise socioeconômica da taxa de letalidade da covid-19 no Brasil realizada pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), publicada em junho, também evidencia maior grau de letalidade da doença entre negros. Dos 8.963 pacientes negros internados analisados pelo estudo, 54,8% morreram nos hospitais. Entre os 9.988 pacientes brancos, 37,9% não sobreviveram à doença.
Ao todo, foram analisados 29.933 casos ocorridos em unidades de saúde públicas e privadas, considerando apenas os encerrados, ou seja, que resultaram em morte ou recuperação até maio. “Esses números levantam questões que podem explicar diferenças como pirâmide etária, distribuição geográfica e desigualdades sociais, que afetam diretamente o acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, os desfechos das internações”, pontuam os autores da pesquisa.
O nível de escolaridade também tem impacto nas chances de ganhar ou perder a batalha contra o coronavírus. Entre as pessoas com caso grave da doença que tinham nível de escolaridade superior, 22,5% morreram. Já entre aquelas sem escolaridade, a taxa de mortalidade foi de 71,3%. “Este efeito pode ser resultado de diferenças de renda que geram disparidades no acesso aos serviços básicos sanitários e de saúde”, reforçam os pesquisadores do Nois.
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