Brasil

Sem comprovação, médicos sofrem pressão para prescrição de tratamentos

De acordo com o estudo, quase metade dos profissionais de saúde, 48,9%, relatam que sofrem pressão de pacientes e familiares pela indicação de tratamentos sem comprovação científica

Correio Braziliense
postado em 08/07/2020 15:34
De acordo com o estudo, quase metade dos profissionais de saúde, 48,9%, relatam que sofrem pressão de pacientes e familiares pela indicação de tratamentos sem comprovação científicaAlém de ter que combater a pandemia do novo coronavírus, os médicos brasileiros têm que lutar também contra as fake news sobre a covid-19, que atrapalham no enfrentamento à doença. É o que mostra a terceira edição da pesquisa feita pela Associação Paulista de Medicina (APM) com médicos de todo o Brasil. De acordo com o estudo, quase metade dos profissionais de saúde, 48,9%, relatam que sofrem pressão de pacientes e familiares pela indicação de tratamentos sem comprovação científica.

"Isso interfere negativamente no tratamento de modo geral. Quando o paciente chega com solicitação específica, não quer que examine, diagnóstico, planejamento de acordo com o quadro clínico. Quer uma receita, prescrição. As relações começam enviesadas e esse não é o caminho", explica o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral. 

O presidente reforça que, por não existir um medicamento específico para combater a doença, essa boa relação entre médico e paciente se torna ainda mais necessária, mas "notícias falsas de remédios miraculosos acabam fazendo com que as pessoas se descuidem, a partir de uma falsa ilusão de segurança". Os profissionais entrevistados também afirmaram que as notícias falsas sobre tratamentos do novo coronavírus levam algumas pessoas a minimizar o problema, e dessa forma, não seguir as recomendações de isolamento social e higiene. 

Um dos principais tratamentos no combate à covid-19 sem comprovação científica mais comentados pelos brasileiros é o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. A medicação está sendo utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro, que confirmou a infecção pelo novo vírus nesta terça-feira (7/7). O chefe do executivo chegou a mostrar por vídeo que faz uso da cloroquina e afirmou que confia no remédio. 

No entanto, não há comprovação científica de que o uso da medicação seja eficaz no tratamento de pacientes com covid-19. Em maio, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) desaconselhou a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes leves de covid-19. Mesmo assim, no mesmo mês, o Ministério da Saúde incluiu os medicamentos no protocolo de tratamento de paciente com sintomas leves.

A pressão exigida por tratamentos faz com que o clima do ambiente de trabalho fique tenso. A pesquisa comprova isso ao indicar que 63% dos profissionais caracteriza o clima como apreensivo. 

"É necessário frisar que vários fatores provocam ansiedade, depressão, frustração. A possibilidade de desfecho desfavorável é angustiante. Trabalhar com doença desconhecida e, muitas vezes, fora da especialidade, também. É como dirigir em uma estrada perigosa que você não conhece, não sabe prevê quando virão as curvas", exemplifica Amaral. 

Somente 28% dos médicos entrevistaram se dizem plenamente capacitados para atender casos de Covid-19, em qualquer que seja a fase do tratamento. 72% admitem não ter conhecimentos aprofundados, a despeito de permanecerem na linha de frente por uma questão humanitária.

Desempenho do Ministério da Saúde

A pesquisa também mostra que a aprovação da atuação do Ministério da Saúde em meio a crise do novo coronavírus vem caindo desde a primeira edição do estudo. Em abril a aprovação era de 72%, mas em maio caiu para 17,9%. Atualmente esse número é ainda menor e apenas 15,6% dos entrevistados avalia a atuação da pasta como boa ou ótima. Outros 32,2% avaliam como regular o desempenho do ministério, 25,1% como ruim e 24,1% como péssimo.  

Já em relação a subnotificação de casos e mortes da covid-19 no Brasil, fenômeno observado por diversas pesquisas, mais da metade dos médicos e profissionais de saúde entrevistados pela Associação Paulista de Medicina consideram haver subnotificação dos números divulgados pelo Ministério da Saúde. Enquanto 21,5% acredita que tem sido divulgado número menor de óbitos do que a realidade, 45,4% acredita que tem sido divulgado número menor de infectados. 

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