Correio Braziliense
postado em 12/07/2020 08:30
A feijoada tradicional de sábado e o chope gelado (ou a salada e o suco, ao gosto do freguês) tiveram de ser interrompidos pontualmente ontem às 17 horas em São Paulo, de acordo com o limite de funcionamento para bares e restaurantes estabelecido pelo protocolo municipal. Embora o movimento fosse bom, principalmente na zona oeste, a limitação de horário levou a reclamações de proprietários e clientes no primeiro sábado após a reabertura. Houve bares cheios, mas com a obrigação de fechar cedo.
Por causa do horário permitido, entre 11h e 17h, muitos clientes tiveram de mudar hábitos para poder retornar aos bares e restaurantes depois de aproximadamente 120 dias - a reabertura foi permitida na segunda-feira. A empresária Claudia Pessoa, de 51 anos, por exemplo, combinou com os amigos às 13h30, mas só ela cumpriu o horário. "Mesmo assim, foi bom voltar. Estava com saudade disso."
Os bares começaram a fechar as contas das mesas às 16h30. Quinze minutos depois, as pessoas começaram a ir embora. "Acredito que, com todo esse protocolo de segurança, os bares poderiam ficar abertos até mais tarde", diz a professora Roberta Falveno Di Nizo, de 38 anos. Os representantes dos bares concordam. Humberto Munhoz, sócio proprietário de O Pasquim, um dos endereços mais procurados ontem na Vila Madalena, afirma que, ao longo da semana, conseguiu faturar apenas entre 6% e 8% do que seria no horário integral.
"É mais caro abrir parcialmente do que manter o restaurante fechado", avalia o empresário Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares, empresa que administra dez casas em São Paulo, mas que decidiu reabrir apenas uma por enquanto. "Quando estava fechado, o proprietário até conseguia negociar com os fornecedores", explica.
Questionada pelo Estadão sobre o tema, a Prefeitura informou que "para que a reabertura continue de maneira segura, promovendo distanciamento social, foi definido um protocolo detalhado para a retomada das atividades de bares e restaurantes, estabelecido em comum acordo com as entidades representativas". Como o Estadão relatou ao longo da semana, as medidas de prevenção já foram incorporadas pela maioria dos estabelecimentos. Funcionários com escudo de proteção no rosto oferecem álcool em gel na porta, aferem a temperatura do cliente e aumentam a distância entre as mesas.
Ritmo lento
Na região central, alguns endereços tradicionais ainda nem abriram, como é o caso do Bar Brahma, que só deve retomar suas atividades na próxima semana. As razões são econômicas, aquelas citadas por Cairê Aoas. Mas há outras. O funcionamento do local é prioritariamente noturno.
Outros locais transformaram a reabertura em um acerto de contas com a própria história, resgatando os laços afetivos que unem os dois lados do balcão. Foi o caso do Bar Léo, localizado na esquina das Ruas Aurora e Andradas. Frequentador do bar há 50 anos, o advogado Manuel Paredes, de 74 anos, retornou ontem ao local onde gosta de tomar seu chope com três dedos de colarinho - ali, ele custa R$ 9,40. Para celebrar os 80 anos de funcionamento, os funcionários instalaram balões coloridos na entrada para receber os clientes. "Fiquei emocionado quando vi que ele estava de volta", disse o advogado.
Fiscalização
A reabertura provocou uma mudança significativa na "cara" dos bares. Para evitar aglomerações, o protocolo proÃbe a utilização de mesas nas calçadas. "Ficamos restritos", avalia Flavio Pires, de 55 anos, proprietário do Seu Domingos, bar localizado nas esquinas das Ruas Aspicuelta e Fidalga, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Realmente foi estranho perceber a entrada do Pirajá, endereço da Avenida Faria Lima inspirado nos botecos cariocas, sem nenhuma mesa na calçada, sob a árvore frondosa que se tornou sua marca registrada - antes da pandemia, um lugar debaixo daquela sombra era bastante disputado. No salão, todas as mesas estavam ocupadas, mas sem o mesmo charme.
Além disso, o primeiro sábado após a reabertura foi de fiscalização intensa da Prefeitura. Alguns bares não respeitaram e acabaram autuados - 11 só na zona leste. No bar 224, na Pompeia, por exemplo, os fiscais recolheram bancos e mesas na calçada, com auxÃlio da PolÃcia Militar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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