Brasil

Com 97% dos leitos de UTI ocupados, saúde de Roraima entra em colapso

São 22.627 infectados e 397 mortos em um Estado com menos de 600 mil habitantes

Apesar dos esforços das autoridades e recomendações de prevenção, o novo coronavírus tem avançado em Roraima, que se tornou o Estado do Norte mais atingido proporcionalmente pela contaminação da covid-19. São 22.627 infectados e 397 mortos em um Estado com menos de 600 mil habitantes.

Apesar de já ter atingido o pico da curva de contaminação, a situação não prevê melhora. No Hospital Geral de Roraima, o HGR, o maior do Estado, no atendimento a pacientes com covid-19 faltam leitos e sobram doentes. A unidade possui 29 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, destes, 28 estão ocupados. A taxa de ocupação atingiu 97%. Dos 99 leitos clínicos para pacientes com a doença, a situação também não é diferente. A taxa de ocupação é de 78%.

Sendo a mais antiga do Estado e tendo sofrido poucas reformas, a unidade de saúde não está resistindo à ação do tempo e ao descaso de administrações passadas. Em junho, um paciente na UTI foi atingido com a chuva de uma goteira no telhado. Nesta semana, outra parte do hospital também sofreu com a chuva forte do inverno.

O secretário estadual de saúde, Marcelo Lopes, que assumiu o cargo há 40 dias, explicou que os hospitais estaduais possuíam infraestrutura debilitada pela ação do tempo e ausência de manutenção adequada. "Em alguns casos tínhamos hospitais com até 15 anos sem intervenção ou reformas. Mas nos últimos 30 dias conseguimos melhorar esse quadro e, no momento, encontram-se em reforma e ampliação sete hospitais da cidade, incluindo o maior deles, o Hospital Geral de Roraima", disse. "Também começamos a reformar os hospitais do Interior, em Rorainopolis, Bonfim, Pacaraima, Mucajaí, São João da Baliza, São Luiz do Anauá, Alto Alegre", continuou Lopes.

O auditor-fiscal da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz) José Carlos Gonçalves da Costa, conhecido como Zé Carlos, morreu em decorrência da covid-19 este mês. Em carta enviada à imprensa, sua esposa, Socorro Costa, narra com sofrimento e indignação as 52 horas de angústia que passou tentando salvar a vida do marido.

"O uso do respirador era dividido no bloco A, onde estávamos. Enquanto um paciente utilizava o respirador, outro dessaturava. Lutamos arduamente por um leito de UTI. Ficamos sabendo no dia 13 de julho que tinha um leito disponível na ala vermelha do hospital, mas não podiam colocar meu marido porque ele estava infectado. Infelizmente, quando conseguimos um leito de UTI em outro hospital, meu marido teve uma parada cardíaca e não resistiu", disse o texto.

Reabertura do comércio


Epicentro da doença no Estado, a capital Boa Vista possui mais de 17,7 mil casos de covid-19, representando 4,4% da população - estimada em 400 mil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Hospital Municipal, que atende pacientes com idades entre 29 dias e 13 anos, há dez leitos de UTI, dos quais, até as 17h desta terça-feira, 14, apenas três estavam ocupados, totalizando 30% da capacidade. Três pessoas morrem vítimas da doença por dia, em média, mas o número já chegou, há duas semanas, a atingir a média de oito mortes diárias.

Na capital, oito postos dos 36 existentes atendem a pacientes com sintomas de covid-19. Há denúncias por demora no atendimento. A empregada doméstica Neuzilene Alves, de 39 anos, precisou percorrer 17 quilômetros e atravessar a cidade para receber auxílio. Com dor no corpo e na cabeça, febre, e sem olfato e paladar, Neuzilene teve de esperar cerca de sete horas para se consultar. "Não tinha senha no posto perto de casa. Meu marido veio pedalando em busca de atendimento. Foi muito difícil, mas precisava do remédio", disse.

Saiba Mais

Apesar do número de casos e dos problemas no atendimento, o comércio, que só funciona nos sistemas delivery e drive-thru, será reaberto no próximo dia 20 de julho, segundo anunciou a prefeita Teresa Surita (MDB). Também devem reabrir shopping centers e igrejas.

Em nota, a Prefeitura de Boa Vista esclareceu que a gestão tem investido "muito" desde 2013 na reforma, ampliação e modernização das unidades de saúde e que não há problemas estruturais no hospital administrado pela Prefeitura de Boa Vista.