Maior liderança indígena do país, o cacique Raoni está internado na UTI de um hospital em Mato Grosso, após agravamento do seu quadro de saúde. No mês passado, o líder da etnia caiapó perdeu a mulher, Bekwyjkà Metuktire, e, desde então, tem apresentado um quadro depressivo.
Indicado ao prêmio Nobel da Paz em 2019, Raoni estava internado em um hospital de Colíder (MT), mas foi transferido para Sinop (MT), depois de seu estado de saúde piorar. Segundo o boletim médico, divulgado ontem, ele se alimenta com dificuldade e se queixa de fraqueza e de falta de ar — exames da covid-19 deram negativos. A piora do quadro é devido ao agravamento de uma anemia e problemas renais. “Raoni foi transferido para Sinop (MT), onde vai fazer novos exames. Estou muito preocupado com meu tio. Vamos fazer tudo para ele ficar bom”, disse o intérprete do cacique e sobrinho dele, Megaron Txucarramãe.
Em setembro do ano passado, Raoni esteve em Brasília, onde se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para falar sobre direitos dos povos indígenas. Um dia antes dessa visita, o presidente Jair Bolsonaro havia feito críticas diretas ao cacique. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, disse, ao citar Ysani Kalapalo, liderança indígena que viajou com o chefe do Executivo aos Estados Unidos.
Em junho do ano passado, em entrevista ao Estadão, Raoni fez críticas duras à forma como o governo tem conduzido as políticas indigenistas e disse que seu povo corre o risco de desaparecer, se nada for feito. “Queremos dialogar com o governo, mostrar a ele que nós, indígenas, não aceitamos o que Bolsonaro pensa sobre nós, não aceitamos a violação dos direitos indígenas e dos territórios indígenas. Essa gestão é contra o povo indígena”, frisou, na ocasião. Desde o início do governo Bolsonaro, as demarcações de terras indígenas no país foram paralisadas. O que se pretende é abrir as áreas atuais para exploração das áreas, o que hoje é proibido por lei.
Ícone da luta dos indígenas brasileiros, Raoni ganhou notoriedade internacional no fim da década de 1980. Em 1987, o músico britânico Sting iniciou uma série de viagens pela Amazônia, onde conheceu o cacique, em 1989. A amizade com o líder da tribo dos caiapós levou o astro a se engajar na causa ecológica e na luta pela demarcação das terras indígenas no Xingu. A parceria levou à criação da Rainforest Foundation, entidade que atua na proteção da floresta e de seus povos tradicionais.
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