Enquanto o brasileiro comemorava o Carnaval e recebia milhares de turistas para a festividade, mais de cem tipos de linhagens diferentes de covid-19 entraram no país. A maioria acabou ficando restrita nas grandes metrópoles do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Minas Gerais. No entanto, poucas dessas ramificações, que foram separadas em três grupos transmitidos basicamente pela Europa, percorreram os quatro cantos do país. A avaliação faz parte de um estudo formado por 15 grupos de pesquisadores brasileiros e britânicos para analisar as características de contágio do novo coronavírus no Brasil.
No âmbito da análise, publicada nesta quinta-feira (23/7) na revista Sciece, os autores executaram ensaios de PCR em 26.732 genomas virais. Seqüenciando 427 desses genomas, os pesquisadores identificaram mais de 100 introduções de vírus de origem internacional no Brasil, estimando que mais de 75% das cepas brasileiras de covid-19 se distribuíram em três categorias introduzidas na Europa entre 28 de fevereiro e 11 de março.
"A primeira fase foi dominada por migrações de vírus de fora do Brasil, enquanto a segunda fase é marcada pela disseminação de vírus dentro do Brasil [...]. Isso indica que a transmissão dirigida pela comunidade já estava estabelecida no Brasil no início de março, sugerindo que as restrições internacionais de viagens iniciadas após esse período teriam um impacto limitado", infere a pesquisa.
Outro fator que proporcionou uma distribuição do vírus para o restante do país foram os aumentos dos vôos de maiores distâncias em relação aos de curtas distâncias, apesar da redução do número de passageiros voando durante a pandemia no país. Foi observada uma redução de 8,8 vezes no número de passageiros que voam nas pernas de vôo inferiores a mil km, enquanto a redução de quem percorre mais de dois mil km foi a metade disso. "Essas descobertas enfatizam os papéis da mobilidade dentro e entre estados como um fator-chave da propagação local e inter-regional de vírus, com conurbações urbanas altamente povoadas e bem conectadas na região sudeste, atuando como principais fontes de exportação de vírus no país."
Mesmo diante dos resultados, os pesquisadores concluíram que as medidas de distanciamento conseguiram reduzir a transmissão do vírus, ainda que de forma limitada. O fechamento de escolas e lojas, no fim de março, por exemplo, reduziu o número de reprodução da covid-19 de mais de 3 casos para aproximadamente 1 caso em São Paulo e no Rio de Janeiro, as duas maiores cidades no Brasil.
Ainda assim, os aumentos contínuos nos casos e nas mortes no país "sugerem que essas intervenções permanecem insuficientes para controlar a transmissão". Por isso, a mensagem é clara: há a "necessidade urgente de impedir a transmissão futura de vírus, implementando triagem diagnóstica rápida e acessível, rastreamento de contatos, quarentena de novos casos e manutenção das medidas de distanciamento em todo o país."
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