Um novo estudo desenvolvido por pesquisadores do Brasil, Portugal e Reino Unido estima que a imunidade coletiva ou de rebanho pode ser alcançada em uma determinada região se uma média de 10% a 20% da população for infectada, criando uma barreira natural contra a infecção. O percentual para a chamada imunização rebanho ajuda a definir estratégias de políticas públicas e serve como referência para estimar a quantidade de pessoas que precisarão receber uma vacina para que a transmissão da covid-19 seja interrompida.
Publicada na plataforma medRxiv (site de arquivamento e distribuição de artigos que ainda aguardam revisão por pares), a análise usa a curva epidêmica de países nos quais a epidemia está em fase avançada para calcular o coeficiente de variação e estimar a suscetibilidade da população em contrair o novo coronavírus.
“Em locais onde o limiar de imunidade coletiva já foi alcançado, a tendência é que o número de novos casos continue a cair mesmo se a economia for reaberta. Mas caso as medidas de distanciamento forem relaxadas antes de a imunidade coletiva ser alcançada, os casos provavelmente voltarão a subir e os gestores devem estar atentos”, explicou o coautor do estudo e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Rodrigo Corder. “Conceitualmente, após atingir a imunidade coletiva, a transmissão tende a se prolongar caso as medidas de controle sejam retiradas rapidamente”, alertou.
Segunda onda
Caso a projeção se confirme na prática, o estudo indica, portanto, ser baixo o risco de uma segunda onda de casos do novo coronavírus com picos tão altos quanto na primeira; e que é possível alcançar uma imunidade coletiva nos municípios que aderiram à quarentena e que não deixaram a doença se espalhar sem controle. Vale dizer também que houve ganho quando os gestores equiparam os hospitais para evitar um colapso no sistema de saúde, e que essas medidas não foram somente uma tentativa de retardar um “cenário inevitável”.
Inicialmente, estudos revelavam serem necessários mais de 60% de infectados em um determinado espaço para se atingir a imunidade coletiva. Apesar da mudança nas análises, isso não significa que a manutenção do distanciamento social seja menos importante. “Se algum gestor defende a imunidade coletiva como política pública, ele está equivocado. As medidas de controle são importantes para não sobrecarregar o sistema de saúde. Mas o novo entendimento da dinâmica de transmissão da covid-19 que nosso modelo traz aponta para um cenário mais otimista”, explicou o pesquisador Rodrigo Corder. (BL e MEC)
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