Brasil

CNBB fará reunião sobre carta em que bispos chamam Bolsonaro de incapaz

Segundo dados da CNBB, o país registra 368 padres infectados e 21 mortes. Nos próximos dias, conselho discutirá carta vazada com críticas ao presidente Jair Bolsonaro. No texto, bispos acusam o chefe do Executivo de ''inércia e omissão'' no combate à pandemia

Correio Braziliense
postado em 30/07/2020 06:00

Assembleia Geral da CNBB: de acordo com boletim, o número é aproximado, porque nem todas as dioceses conseguiram encaminhar os dadosSegundo dados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), 21 religiosos morreram em decorrência do novo coronavírus e 368 padres estão infectados no país. De acordo com o boletim divulgado ontem, o número é aproximado, pois nem todas as dioceses conseguiram encaminhar os números. Ainda no boletim, o número de bispos com diagnóstico positivo para covid-19 chega a 11. Destes, dois não sobreviveram — Dom Aldo Pagotto, da diocese Emérito da Paraíba; e Dom Henrique Soares da Costa, da diocese de Palmares, em Pernambuco.


A divulgação de que o número de padres e demais religiosos infectados por covid-19 no Brasil se aproxima dos 400 ocorre dias após o vazamento de uma carta assinada por 152 bispos e arcebispos brasileiros, com duras críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro. No texto, que foi a público no último domingo, os religiosos acusavam o governo de “omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres” no combate à pandemia e de “incapacidade e inabilidade para enfrentar a crise” instaurada no país.


A manifestação já é considerada por alguns religiosos como sendo uma das mais declarações políticas mais fortes da Igreja nos últimos anos. Como o clero brasileiro tem cerca de 470 bispos, a quantidade de apoiadores que teriam assinado o conteúdo chega a quase um terço e de todas as regiões do país. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se eximiu de qualquer responsabilidade com relação ao texto, intitulado “Carta ao Povo de Deus”, comunicando que a responsabilidade é dos signatários.


“Cada religioso pensa de maneira diferente. Algumas observações devem, sim, ser feitas. Mas tanto o governo federal não deve ver esse posicionamento só como uma crítica negativa, como os religiosos devem se atentar ao que pode ser construtivo. O momento pede união”, opina o padre José Adelson da Silva Rodrigues, da Arquidiocese de Natal, que reza para o fim da pandemia. Enquanto não é atendido, porém, aconselha: “Que tenhamos o cuidado necessário para colocar a vida em primeiro lugar”.

 


Segundo o sacerdote, a presidência da CNBB deve convocar, ainda esta semana, uma reunião com diversos representantes da Igreja para dar uma resposta mais concreta à sociedade. A princípio, a carta estava programada para ser publicada no dia 22, data em que os católicos comemoram o Dia de Santa Madalena, mas o texto foi suspenso e encaminhado para análise do conselho permanente da CNBB. No último domingo, no entanto, documento foi vazado. O Planalto do Planalto disse à época que não comentaria o caso.

Despedida


“Estou cansado de lutar, tem dia que nem consigo rezar. Mas Deus vai ajudar”, afirmou o padre brasiliense João da Silva, 52 anos, antes de ser internado com covid-19. Ele morreu há uma semana, em São José dos Campos, após lutar contra a doença por um mês. Na última terça-feira, perdeu a batalha com o novo coronavírus o clérigo Aryclenes Rodrigues Barbosa, 86 anos, em Ribeirão Preto, também no interior paulista. 

 


Segundo o padre Iuri Ribeiro dos Santos, para quem a participação dos fiéis na igreja é fundamental, o distanciamento tem sido difícil para os religiosos. “O clero está se esforçando para usar as redes sociais e manter o contato com essas pessoas, mas não atinge a todos”, lamenta. Entre aqueles que ficam mais isolados nessa situação, estão os idosos, que acabam tendo que depender de filhos ou netos para poder acompanhar uma missa on-line, por exemplo. “Isso traz angústia”, lamenta o clérigo. 

A despedida de um ente querido se tornou momento com ainda mais sofrimento diante das condições impostas pelo risco de contágio do coronavírus. “O velório é outro ponto muito difícil. É muito marcante a presença da Igreja nesse momento de luto. É a última despedida, que a Igreja sempre acompanha e, neste momento, não está sendo possível”, ressalta o sacerdote.


Ele comenta ainda sobre o papel do catolicismo naqueles locais que precisam de assistência social. “O grande desafio é chegar até eles e levar condições a lugares que precisam”, pontua o padre, sobre a atuação da instituição religiosa em regiões isoladas. Entre as situações difíceis e potencializadas em meio à pandemia estão a falta de infraestrutura, que acaba gerando uma situação mais vulnerável, tanto para a comunidade assistida, quanto para o religioso que vai ao local vulnerável. “Nós somos pastores e, nessas horas, não devemos fugir e abandonar as ovelhas”, avalia. 

Mais afetadas

A regional Norte 2, que compreende Pará e Amapá, é a que concentra mais casos de covid-19 entre presbíteros. Só entre os padres que receberam diagnóstico positivo para a doença, são 58. A regional também foi a com maior número de mortes: seis clérigos não resistiram. Sozinha, Belém do Pará registrou um total de 40 religiosos com covid; quatro morreram.

 


Na segunda posição da triste estatística está a regional Nordeste 2 — Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas —, com 57 casos confirmados e três fatalidades. Em Natal, por exemplo, 11 sacerdotes foram infectados e um não sobreviveu. No estado de São Paulo, ao todo, foram confirmados 39 padres com a doença.

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