Brasil

Isolamento poupou R$ 17,5 bi na Saúde

Estudo revela que distanciamento social, além de ter evitado mais de um milhão de casos graves de covid-19, representa uma economia importante para o sistema hospitalar. Sem essa medida, país poderia estar com 13 milhões de infectados

Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:04
Economia pode ser ainda maior, já que o gasto por um dia de internação na emergência do sistema privado é R$ 4.035


Diante de um isolamento social cada vez mais fraco, pesquisas mostram que a medida salvou vidas, mas também economizou dinheiro. A continuação de um estudo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) aponta que o setor de saúde como um todo, público e privado, economizou, no mínimo, R$ 17,5 bilhões ao evitar mais de 1,095 milhão de casos graves do novo coronavírus por meio da quarentena aplicada desde o início da pandemia. 

Na avaliação de Joilson Cabral, um dos pesquisadores responsáveis pelo levantamento e professor do programa de pós-graduação em economia regional e desenvolvimento da UFRRJ, a economia pode ser ainda maior, já que os autores levaram em conta o custo de uma diária de internação na unidade de terapia intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS), que é de R$ 1,6 mil. “Falamos que foi uma poupança para o setor de saúde como um todo, público e privado, adotando como premissa os gastos do SUS. O valor possivelmente é maior porque o gasto por um dia de internação na emergência do sistema privado é R$ 4.035 reais, por exemplo”, disse. 

O especialista explica que a conta pode ter outras variações, como o número de dias que o doente precisaria ficar internado. “Em média, um paciente de caso grave fica 10 dias na UTI, logo calculamos que ele custaria R$ 16 mil ao sistema de saúde e multiplicamos isso pelo número de casos graves que foram evitados com o isolamento”, resumiu. 

O estudo, que está na fase final de redação para ser enviado à uma revista acadêmica, tem como objetivo de mostrar a importância do isolamento social nas diferentes vertentes. “Os pneumologistas falavam muito que a medida era necessária para o achatamento da curva e para evitar o colapso do setor de saúde. Nós tentamos dar um cunho mais econômico”, explicou Joilson. 

Pouco efetivo
De acordo com o estudo publicado pelos pesquisadores da UFRRJ, o país teria até 13 milhões de infectados e 118 mil mortos sem a aplicação das medidas de restrição social. No entanto, mesmo com a economia de vidas e diminuição de casos, o isolamento feito no país é visto como pouco efetivo. Enquanto o estudo mostra que o número de óbitos no Brasil seria cinco vezes maior sem as medidas restritivas, outras pesquisas indicam que, na Europa, o número de fatalidades seria 25 vezes maior caso não houvesse quarentena. “Isso mostra que o isolamento (na Europa) foi muito mais eficiente do que o nosso”, ressalta Joilson. 

O professor acredita que o recurso poupado seria gasto em algum momento, mas indica que uma quarentena ainda mais eficaz do que o feito no país poderia criar um ambiente mais favorável para compras de insumos pelos gestores. “O que a gente pode concluir é que se o isolamento fosse bem-feito, os estados poderiam fazer suas contratações e compras de produtos em um ambiente mais favorável para eficiência dos gastos. Acredito que esse recurso seria gasto em algum momento, mas a gente poderia evitar a corrupção que vem ocorrendo nas compras de emergência, por exemplo”, avalia.

Para o pesquisador, a falta de um distanciamento social eficaz é resultado da falta de coordenação da pandemia de covid-19. “O STF (Supremo Tribunal Federal) disse que os governadores e gestores municipais tinham a competência de gerir o fechamento de atividades, mas essa gestão tem que ser coordenada e quem faz isso é o Ministério da Saúde. Algumas prefeituras necessitavam de uma ajuda para implementar o isolamento, por exemplo”, criticou.


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags