Brasil

País tem 64 cidades sem covid

Elas representam 1,2% dos municípios brasileiros e a maioria tem menos de 10 mil habitantes cada uma. Muitas ergueram barreiras físicas para impedir a entrada do vírus. Falta de estrutura hospitalar, no entanto, mantém temor ante a propagação da doença

Correio Braziliense
postado em 02/08/2020 04:13
País de dimensões continentais, o Brasil, em cinco meses, viu o novo coronavírus dominar o território, começando pelos grandes centros urbanos, e se expandir rapidamente para os municípios mais distantes da movimentação das metrópoles. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, o processo de interiorização da covid-19 só deixa de fora 64 cidades que, sem grandes estruturas para lidar com um eventual surto, isolam-se com barreiras físicas para impedir a entrada do vírus.

Os municípios que continuam mantendo a doença fora das fronteiras representam pouco mais de 1,2% do total brasileiro e a maioria tem menos de 10 mil habitantes cada um. Juntos, não somam 350 mil pessoas, pouco mais do que a população de Pelotas (RS). Eles têm como característica a divisão quase por igual entre população rural e urbana. É o caso de Santana, na Bahia, o município mais populoso do Brasil que ainda não possui casos da covid. Para proteger os 27 mil moradores, a prefeitura impôs uma série de medidas.

“Começamos em março, com a suspensão do funcionamento de todas as atividades comerciais, exceto as essenciais. Ficamos 21 dias com tudo fechado. Começamos cedo, porque não conhecíamos ainda a realidade do município, não sabíamos se tinha alguém contaminado. Precisávamos montar a estrutura da unidade de referência para atendimento de eventuais pacientes e as barreiras sanitárias”, explicou o prefeito de Santana, Marcão Cardoso.

Quem chega à cidade passa por um controle rigoroso, com aferição de temperatura corporal e assinatura de termo de comprimento da quarentena, obrigando-se a ficar 14 dias em isolamento. O mais próximo que a doença chegou da cidade foi por meio de uma moradora de um município vizinho. “Ela foi honesta e declarou estar com a doença, achando que poderia cumprir a quarentena aqui, mas foi orientada a voltar para a cidade de origem”, disse o prefeito.

Atualmente, Santana conta com 20 leitos específicos para atender a casos suspeitos ou confirmados de covid — 18 com estruturas de enfermaria e dois com respiradores —, além da estrutura para deslocar um paciente grave que precise de assistência mais específica. Continuam suspensas atividades que provoquem aglomerações, como missas e cultos, eventos, e a feira livre. O acesso ao centro da cidade também é limitado e, em locais como bancos e lotéricas, foram instaladas tendas para que as pessoas façam as filas respeitando o distanciamento. O uso de máscaras também é obrigatório. Qualquer descumprimento pode ser relatado pelo disque-denúncia da cidade.

“Em alguns momentos, somos vistos como radicais, mas o intuito é manter o resultado que temos até agora. São cinco meses desde do primeiro caso, e nós ainda estamos livres dessa pandemia. É motivo de comemoração. Ao mesmo tempo, a cidade está pronta, se houver alguns casos, para dar o encaminhamento. O envolvimento da população tem um papel fundamental”, detalhou Cardoso.

Testagem

Até agora, 109 pessoas na cidade foram testadas e tiveram resultado negativo para a covid. Todas foram monitoradas e precisaram se isolar mesmo após a negativa, obtida, na maioria dos casos, por testes sorológicos. Apenas oito exames do tipo molecular foram realizados até o momento. O enfermeiro Rafael de Jesus Lopes, 27 anos, foi um dos primeiros. Atuando na Estratégia Saúde da Família, tem contato com pacientes e, logo no início da pandemia, desenvolveu uma forte gripe, acompanhada de tosse, dores de cabeça, dores pelo corpo e falta de ar.

“Soma-se a isso o fato de eu já ter o sistema imunológico comprometido, por ter artrite reumatoide juvenil, ser asmático e ter feito cirurgia bariátrica há menos de um ano. Fiquei afastado do trabalho, entrei em contato com a coordenação da vigilância epidemiológica e passei a ser monitorado com visitas domiciliares e ligações até o dia marcado para coleta do material. Recebi ligação de psicólogo, visita médica e medicamentos”, contou Rafael.

À época, a doença ainda não tinha provocado 10 mil mortes no país, e o cenário era de incerteza e desconhecimento na cidade. “Percebo que as pessoas só começam a entender o nível da gravidade dessa doença quando algum familiar passa por ela. Quando não se confirma nenhum caso, a população vai esquecendo dos cuidados básicos, e acredito que é preciso continuar se cuidando”, relembrou o enfermeiro.



Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags