Brasil

À beira de crise inédita

Correio Braziliense
postado em 04/08/2020 04:14
No confronto direto entre saúde e economia em meio à pandemia só há um ganhador: o novo coronavírus. Isso porque, ao focar os esforços em privilegiar um em detrimento do outro, sem a busca por um equilíbrio entre a reabertura econômica e a prevenção sanitária, o diálogo e as propostas não avançam, somente a doença. Em relatório conjunto da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), autoridades trazem a realidade da região, expondo uma crise econômica e social inédita, acentuando as desigualdades.

“Com a pandemia, ficou muito flagrante a concentração de renda nesses países. Se não houver uma ação, principalmente do poder público no sentido de minimizar essas distorções no âmbito da recuperação da atividade econômica, ficará mais difícil resolver o problema”, explica o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques.

A dicotomia com que o problema foi tratado, para Marques, acentua a necessidade de revisão do olhar, tal como sugerem as entidades internacionais. “Colocou-se em oposição às medidas de saúde que são tomadas para conter a pandemia a recuperação da atividade econômica desses países, como se fossem antagônicas, quando, na verdade, deveriam ser complementares. Por isso, a sugestão é de tomada de medidas simultâneas”, acrescenta.

Segundo as projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a pandemia provocou a recessão mais abrupta da história e que implicará numa queda do crescimento do PIB regional de -9,1% em 2020. A desvalorização deve ser acompanhada de um aumento do desemprego, na casa de 13,5%, e da pobreza, em 7,0 pontos percentuais, alcançando 37,3% da população. Com isso, a desigualdade pode ter um aumento médio de 4,9 pontos percentuais.

Marcada por grande desigualdade social, a região deve ter a disparidade agravada e os grupos mais vulneráveis economicamente são, também, os mais impactados ao se falar em oferta de serviços de saúde. Um terço da população ainda enfrenta algum tipo de barreira para acessar os serviços de saúde — área que, além de tudo, ainda sofre com subfinanciamento, já que alcança a média de 3,7% do PIB, abaixo dos 6% recomendados pela Opas como base.

Os números da saúde, no entanto, estão fortemente atrelados a qualquer medida de retomada da economia, como explica o economista Gil Castello Branco. “Quando se libera a economia, há uma crescente necessidade da utilização de leitos. E precisa-se fazer a relação matemática entre a disponibilidade e a perspectiva do número de pessoas que podem vir a ocupá-los para que não haja um colapso. Se há uma liberação e a ocupação de leitos chega, como tem chegado, próximo de 90%, é necessário procurar fechar dentro da ótica de privilegiar a vida. É indiscutível que exista a necessidade desse equilíbrio, mas a preferência precisa ser a vida.” (BL)





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