Brasil

Líder do Alto Xingu não resiste à força do vírus

Correio Braziliense
postado em 06/08/2020 04:04

Morreu ontem, vítima da covid-19, o cacique Aritana Yawalapiti, 71 anos. Líder indígena do Alto Xingu, ele lutou contra a doença por pouco mais de duas semanas. Foi internado, primeiro, em uma Unidade de Terapia Intensiva, em Canarana (MT), e depois transferido para um hospital particular em Goiânia. Ele também era presidente do Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu (Ipeax).

Antes de adoecer, o cacique lutava pela instalação de um hospital de campanha no Alto Xingu. Watatakalu Yawalapiti, sobrinha da Aritana e coordenadora do Movimento Mulheres do Xingu na Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), comentou a morte do tio. “É a perda de 98% da nossa língua. Significa para a gente muitos desmontes. Se a gente não ficar firme, a perda do meu tio Aritana significa a perda do Xingu inteiro”, lamentou.

Segundo Watatakalu, Aritana tentava, nos últimos tempos, construir um hospital de campanha no Alto Xingu. “Lutou até o último momento contra a religião do homem branco que estava entrando na nossa aldeia. É uma perda irreparável. É um buraco que se abre debaixo dos nossos pés”, salientou.

Por nota, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirmou que a morte do cacique representa uma perda irreparável para os povos indígenas. “Cacique desde os seus tempos de juventude, Aritana (71 anos) lutou bravamente, desde a década de 1980, pela defesa dos nossos direitos”, afirma o texto.

Em 8 de julho, o presidente Jair Bolsonaro vetou 16 dispositivos da Lei 14.021/20, que cria o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos territórios indígenas. A sanção veio sem a obrigatoriedade de o Estado dar às comunidades indígenas e quilombolas acesso à água potável, folhetos informativos, materiais de higiene, leitos hospitalares e de UTI, e respiradores mecânicos.

Ontem, o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo não deixe os índios entregues à própria sorte. O coronavírus têm se mostrado letal entre os povos originários, que têm um sistema imunológico mais frágil contra algumas doenças. Para agravar a situação, o vírus tem atingido, principalmente, os mais velhos e lideranças de diversas etnias, como Aritana.

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