Jornal Correio Braziliense

Canta Brasília

Quarteto de Brasília leva a música instrumental da capital para o mundo

O quarteto fez sua fama a partir do alto nível técnico dos quatro integrantes e do repertório eclético, focado em compositores clássicos, mas que também flerta com o popular


Com prêmios acumulados e turnês por Estados Unidos, Europa e Ásia, o Quarteto de Brasília leva a música instrumental da capital para o mundo há 27 anos. ;Depois de tanto tempo de trabalho, nosso grupo já tem público cativo. Quem vai assistir vai sempre, porque gosta;, justifica a tcheca Ludmila Vinecka, primeiro-violino do quarteto e mulher de Guerra Vicente, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e violoncelista do grupo. Completam a formação a professora de viola da UnB Glêsse Collet e o ex-spalla e atual regente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, Cláudio Cohen ; o único membro ;novo; em relação à formação original, integrado ao quarteto com a saída do violinista Moisés Mandel, há 22 anos.

O nome do grupo não foi uma decisão das mais difíceis. ;Glêsse foi criada aqui; eu, o Guerra e o Moisés achamos aqui a nossa felicidade, através do trabalho; por isso batizamos com o nome da cidade: Quarteto de Brasília. O Cláudio, que entrou depois, nasceu aqui;, explica Ludmila. Natural de Praga, República Tcheca, a violinista de 64 anos migrou para o Brasil aos 21, atrás de oportunidade de trabalho. ;Lá, não aceitavam mulher em orquestra.;

O quarteto fez sua fama a partir do alto nível técnico dos quatro integrantes e do repertório eclético, focado em compositores clássicos, mas que também flerta com o popular. ;Nossa linguagem é erudita; quando abordamos temas e músicas populares, o fazemos dentro de uma roupagem erudita;, explica Guerra Vicente. Curiosamente, dos nove álbuns do quarteto, os dois de maior sucesso têm exclusivamente versões instrumentais de canções brasileiras de sucesso. ;Temos dois CDs só de música popular, com clássicos da MPB e arranjos de bossa nova, como Chico Barque e Tom Jobim. São os que vendem mais;, conta Guerra Vicente.

Ao chegar a Brasília, em 1972, o violoncelista se deparou com uma cidade em formação que, para a música erudita, não guardava boas surpresas. ;Naquela época, com a sala Villa-Lobos ainda fechada, os concertos aconteciam de forma provisória na sala Martins Pena, que tinha uma rampa famosa, onde o pessoal caía, quebrava o pé...;, rememora Vicente.

Hoje, segundo Vicente, o cenário é mais acolhedor para a música de concerto e de câmara. ;Temos o CCBB, com uma estrutura ótima; as várias unidades do Sesc, com auditórios maravilhosos; Sesi; Caixa Cultural; a sala Cássia Eller; da Funarte; os auditórios da Escola de Música de Brasília; a Brasília Super Rádio FM, entre outros;, enumera.

Mesmo com a oferta de palcos, a vida atribulada dos integrantes do Quarteto de Brasília levou o grupo a um ;descanso;, nas palavras do violoncelista de 71 anos. Enquanto a próxima apresentação não é confirmada, Ludmila recorda-se da última grande turnê do grupo, em 2010: ;Passamos por 86 cidades do Brasil. A aceitação foi uma coisa maravilhosa, e não era popular. Era música erudita, brasileira;.