Mayara Subtil - Especial para o Correio
postado em 05/02/2018 06:00
O agito do frevo pernambucano, surgido em 1907 no país, seguiu para o DF na década de 1960. O som do tambor e do pandeiro que formam as rodas de sambas são herança do carnaval carioca que chegaram à capital na mesma época. Há, ainda, gêneros musicais como a eletrônica e o rock que, até então, acreditava-se serem impossíveis de entrar nas comemorações de Momo. Assim, tais misturas criam o ritmo dos blocos carnavalescos de Brasília.
O Bloco Encosta Que Cresce é um desses. Além do axé baiano, a agremiação embala os brasilienses, desde 2014, com marchinhas pernambucanas e finalizam a festa com os sambas-enredos do Rio de Janeiro e o reggae. ;O DF tem uma diversidade cultural muito grande. Essa mistura de sons que faz a diferença;, disse João Edson Pereira Sertão, responsável pela folia.
No caso do tradicional Galinho de Brasília, que passa pelas avenidas de Brasília há 26 anos, a marca é o frevo. ;Como a gente não podia brincar em Recife, decidimos trazer o ritmo para Brasília. Juntamos um grupo pequeno de pernambucanos na rua e foi sucesso;, disse um dos fundadores da folia, o empresário também, do estado nordestino, Romildo Carvalho, 62 anos. O primeiro desfile arrastou 300 pessoas às ruas. Hoje, o número não fica abaixo dos 100 mil foliões, de acordo com os organizadores. ;O carnaval brasiliense é um verdadeiro caldeirão de ritmos;, completou Romildo.
O ;caldeirão; também é representado pelo bloco Essa Boquinha eu já Beijei há quatro anos. Com 20 pessoas no comando da folia, a agremiação é composta apenas por mulheres. O grupo faz questão de tocar músicas que envolvam o samba e o funk de raiz, além do axé e o chamado Ijexá ; ritmo africano que referencia a cultura do candomblé. O bloco, segundo uma das fundadoras Letícia Fialho, é lembrar o respeito ao público feminino e LGBT. ;É uma folia sobre o respeito à diversidade. Buscamos contemplar esse grupo, mas todo mundo é bem-vindo. Todos, mesmo;, assegura.
O tradicional bloco do Pacotão é marcado pelas marchinhas. Há exatos 40 anos, sob a liderança de José Antônio Filho, o cartunista Joanfi, 67, a agremiação segue pelas vias da capital tocando músicas autorais, que criticam a política nacional e internacional. ;Além disso, há letras que satirizam o preconceito. Esse é o espírito;, disse Joanfi. O bloco coleciona 275 melodias. Sete anos após a criação, Joanfi lançou o primeiro CD com as músicas. Nos primeiros cinco anos de folia, o Pacotão arrastou 25 mil pessoas às ruas. Hoje, o número ultrapassa os 65 mil, de acordo com a Polícia Militar. ;Mas o Pacotão não tem síndrome de maracanã. Se tivermos 10 pessoas no bloco, é o suficiente;, completou o cartunista.
Os que fogem da tradição
Em 2018, a Secretaria de Cultura do DF contabilizou 136 blocos carnavalescos, 18 a mais em comparação com o ano passado. Um deles é a agremiação Unidos da Batida por Minuto. Nascido em São Paulo, é o primeiro evento para quem gosta de música eletrônica a desfilar em Brasília. A ideia surgiu em 2016. No primeiro ano, a agremiação arrastou um público de quase 2 mil pessoas. Em 2017, o número chegou a 10 mil. ;Em São Paulo não tinha isso e a população gosta. Depois, vários outros surgiram com a mesma pegada. O carnaval precisa continuar, mas cada um no seu estilo;, completou Bruno. A meta, agora, é expandir pelo país. ;Estamos em conversa com Rio de Janeiro e Belo Horizonte para 2019. Esperamos dar certo;, concluiu o publicitário.
A agremiação do professor de história Leonardo Krieger, 33, chamada Populares do Pânico, é exclusivamente de rock de raiz. O repertório envolve bandas como Guns N; Roses, Led Zeppelin, Iron Maiden e Kiss. ;O carnaval brasiliense não tinha o rock ;n roll de rua. Sentia falta disso;, disse Leonardo, que criou o bloco em 2011. À época, ele resolveu sair com uma bateria de carro, grupo de 30 pessoas e fazer um evento rock;n;roll a céu aberto. A caminhada aconteceu por vias da W2 Norte. ;Ano passado, tivemos 2 mil pessoas. O pessoal gosta;, concluiu Leonardo.
; Um pouco de história
Samba
Nasceu da fusão dos estilos musicais africano e brasileiro durante o período colonial, sendo que é comparado às danças tribais da África. As letras, em sua grande maioria, retratam o cotidiano das cidades, principalmente das regiões de maior vulnerabilidade. Os mais conhecidos são os sambas da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Axé
O gênero musical baiano nasceu na década de 1980. O axé é ligado ao carnaval de Salvador. O termo, além disso, possui significado religioso. Oriundo do candomblé e da umbanda, dizer ;axé; para alguém é o mesmo que distribuir energias positivas. Como ritmo, tem um pouco do frevo pernambucano, dos ritmos afrobrasileiros, do reggae, do merengue, do forró, do maracatu e resquícios do gingado afro-latino.
Frevo
É conhecido pelo ritmo acelerado. Muito executado durante o carnaval, eram comuns conflitos entre blocos de frevo, em que capoeiristas saíam à frente das suas agremiações para intimidar blocos rivais e proteger seu estandarte. Da junção da capoeira com o ritmo do frevo nasceu o passo, a dança do frevo foi utilizada inicialmente como arma de defesa dos passistas .
Eletrônico
A música eletrônica é criada ou modificada pelo uso de equipamentos e instrumentos como sintetizadores, gravadores digitais, computadores ou softwares de composição. A princípio foi relacionada ao rock e, posteriormente, passou a um gênero musical próprio.
Marchinhas
Gênero predominante no carnaval dos anos 20 aos anos 60 do século passado, altura em que começou a ser substituída pelo samba-enredo. Isso porque as escolas de samba não queriam pagar os altos preços cobrados pelos compositores musicais. Mas as marchinhas carnavalescas não foram esquecidas, mas sim adotadas se tornando uma grande atração do carnaval pelo Brasil.
Rock
Nasceu nos Estados Unidos ao final dos anos 1940 e início dos anos 1950. Possui raízes do country, blues, R e gospel. Além disso, faz fusão com ritmo rápido e pitadas de música afro do sul dos EUA. Uma das características mais importantes do estilo é o acompanhamento de guitarra elétrica, bateria e baixo.