postado em 24/04/2008 20:53
Mais de um milhão de multas foram aplicadas no Distrito Federal em 2007. A punição aos motoristas infratores e as políticas governamentais voltadas para a educação do motorista, entretanto, não significaram melhoria nos índices de violência no trânsito. Pelo contrário. Só no ano passado, 422 pessoas perderam a vida nas ruas do DF ; foi o maior saldo de acidentes fatais registrado desde 2003, quando 470 pessoas morreram vítimas de colisões e atropelamentos. De acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran), de 1996 a 2007, mais de 5 mil brasilienses morreram vítimas do trânsito. Neste ano, só em janeiro ocorreram 30 mortes.
O diretor-geral do Detran-DF, Délio Cardoso, atribui o elevado número de acidentes fatais à redução no valor das multas, fixada em 2002, pelo Conselho Nacional de Trânsito. Uma infração de excesso de velocidade (até 20% acima do limite permitido na via) custa, atualmente, R$ 85,13. "Esse erro já foi percebido pelo governo federal. A Medida Provisória que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias, aliada à correção dos valores da multa, vai determinar a correção do erro cometido pelo governo", sugere Délio.
"No momento em que tivermos o aumento do valor real da multa aliado à proibição da venda de álcool vamos experimentar uma significativa redução no número de acidentes", completa.
Apesar de não citar dados específicos, o diretor-geral do Detran afirma que os motoristas homens na faixa etária de 19 a 28 anos respondem pela maior incidência de multas e acidentes com vítimas no DF. "Em 60% dos casos, eles estão alcoolizados", garante. Das um milhão e nove mil multas registradas na capital federal em 2007, 693 mil (68%) são de excesso de velocidade. Foram aplicadas também 85.134 (8,4%) infrações de estacionamento irregular e 77.919 (7,7%) de avanço de semáforo.
Pardais
Questionado sobre a real eficiência doa fiscalização eletrônica na redução do número de acidentes, Délio Cardoso defende, embora a quantidade de desastres tenha aumentado, que os radares são fundamentais. Para ele, o equipamento tem uma função extremamente importante como método educador e de controle de abusos. "O que não se pode, é usar o pardal como arapuca ou pegadinha, de maneira a iludir o motorista bem intencionado", avalia. A função dos pardais, porém, chegou a sua estagnação, na opinião do diretor. Délio afirma que também é preciso investir na chamada "fiscalização presencial". "(É necessário) levar o agente de trânsito a rua, de maneira que se evite esse tipo de infração cometida no intervalo entre os pardais".
Embora já tenha sentido no bolso o peso das multas, o consultor de vendas Gustavo Silveira, 26 anos, que já foi um crítico dos pardais, defende a fiscalização eletrônica. "A violência no trânsito está muito grande. É preciso ter cada vez mais pardal. Só assim os motoristas deixarão de abusar do excesso de velocidade", considera. Silveira lembra que gastou quase R$ 5 mil em multas nos últimos anos.
Aumento na frota
O aumento na frota de veículos do Distrito Federal preocupa o Detran. Atualmente, 986.768 carros, motos, caminhonetes e caminhões estão cadastrados no Distrito Federal. Além desse número de veículos, automóveis do Entorno também trafegam diariamente pelas ruas de Brasília. A quantidade de condutores habilitados também impressiona: são 1 milhão e 69 mil pessoas com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no DF. Segundo Délio Cardoso, as ruas da cidade ganham 4 mil novos motoristas a cada mês.
Na visão do diretor-geral do Detran, os novos habilitados não têm sido bem formados pelas auto-escolas. O instrutor de auto-escola Soel dos Santos concorda. Para ele, deveria haver mais tempo para qualificação e treinos dos futuros condutores. Ele estima que 90% dos candidatos que passam nos testes de direção do Detran não têm condições de encarar o trânsito da cidade. "Deveria haver mais rigor na avaliação do Detran", entende.
A instrutora de auto-escola Cátia Ferreira analisa que os "recém aprovados" motoristas sabem conduzir um veículo, mas na hora de encarar o trânsito do dia-a-dia se complicam. Segundo ela, os jovens condutores só aprender a dirigir, de fato, no dia-a-dia. Cátia destaca que, nessa fase inicial de CNH, a pessoa ainda tem dúvidas sobre como respeitar as sinalizações e encarar momentos de fluxos mais intensos.