Cidades

Acidente na DF-001: passageiro diz que motorista tomou meio litro de vodca

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postado em 30/04/2008 08:11
As investigações do acidente que matou quatro pessoas na DF-001 no último domingo ganharam um depoimento crucial ontem. Um dos sobreviventes que estava no Peugeot suspeito de ter provocado a colisão confirmou que os quatro ocupantes do veículo consumiram ao menos 1,5l de vodca antes de pegarem a estrada. O motorista, o estudante Igor de Rezende Borges, 25 anos, teria sido um dos jovens a ingerir a maior quantidade da bebida alcoólica: meio litro. O testemunho revela ainda a prática de direção perigosa, assim como descaso por parte do condutor com a vida de outras pessoas. Caso essa versão seja confirmada, Igor poderá ser autuado por homicídio doloso eventual (com intenção de matar), cuja pena varia de oito a 20 anos de prisão.

O relato da testemunha, que teve a identidade mantida em sigilo pela polícia, confirma que o motorista transitou pela pista em ziguezague. Os amigos dele chegaram a adverti-lo do perigo de bater em outros carros ao dirigir daquela maneira. Mas, em vez de interromper as manobras, Igor teria dito que gosta de aventuras e continuado a brincar de atravessar de um lado para o outro da via. A testemunha disse ainda que os quatro jovens dentro do Peugeot estavam em busca de uma festa quando ocorreu a tragédia.

A polícia tem prazo de 30 dias para concluir o inquérito, que apontará as causas da tragédia. ;Ouvimos todas as testemunhas, mas só teremos uma conclusão do que ocorreu após receber os laudos periciais ;, afirmou o delegado Mauro Aguiar, titular da 17; Delegacia de Polícia (Taguatinga). ;Esperamos a conclusão da perícia para breve. Talvez na semana que vem. Pedimos urgência para o caso no Instituto de Criminalística;, completou.

O acidente ocorreu por volta de 1h30 de domingo, próximo do viaduto de acesso à Taguatinga e que corta a Via Estrutural. O Vectra dirigido pelo empresário Paulo José Louzeiro, 33 anos, seguia rumo à Brazlândia e estava com mais quatro pessoas a bordo: Paulo da Silva, 20; Joseane Monteiro da Silva, 17; Elilde Costa de Almeida, 23; e Ana Telma da Silva, 24. Com exceção de Paulo da Silva, que continua internado no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), todos os outros ocupantes do veículo morreram na colisão. O Peugeot conduzido por Igor seguia no sentido oposto com outros três passageiros: Ingrid Martins Castro, 17; Graciely Cris do Nascimento e Márcio Alves, ambos com 18 anos. Só Ingrid permanece hospitalizada na Unidade de Terapia Intensiva do HBDF. Não houve mortos dentre os ocupantes do Peugeot.

Dor prolongada
A notícia da morte da Joseane Monteiro da Silva, 17 anos, fez com que a mãe dela, a dona-de-casa Maria Neusa Monteiro, 42 anos, viesse de Belém (PA) para Brasília no último domingo para se despedir da filha. Despedida que não pôde ser feita de forma apropriada até o momento. ;Ainda nem me deixaram ver o corpo da minha menina;, lamentou a mãe, na tarde de ontem, na porta do Instituto de Medicina Legal (IML). Ao lado dela, o pai da garota, o pescador João Nazaré da Silva, 42, permanecia mudo e cabisbaixo. O problema é que Joseane não tinha carteira de identidade, o que impediu o reconhecimento por meio das digitais, dificultou o registro no IML e, conseqüentemente, a liberação do corpo.

A família também não aceitou enterrá-la como indigente. Irmãos e amigos da vítima passaram os últimos três dias tentando mudar a situação, de forma que Joseane seja enterrada com dignidade. A solução para o problema só apareceu no fim da tarde de ontem. ;Será feito um teste de DNA para comprovar que Joseane é filha de Maria Neusa. O resultado deve sair em 15 dias;, explicou a empresária Iracema Loureiro, 43 anos, que é vizinha e amiga da vítima.

Para retirar o corpo da menina, os familiares receberam um número que também será usado para enterrá-la. O nome da vítima só poderá ser colocado em sua lápide após a emissão do certificado de óbito, que será emitido em um prazo de 20 dias. ;Não vamos enterrar um número. Para nós, ela sempre será Joseane;, destacou a mãe da jovem. A garota, que nasceu no Pará, veio para Brasília em busca de melhores oportunidades de trabalho e para estudar. Ela sonhava em se tornar uma policial. Para tanto, fazia supletivo de noite e trabalhava como vendedora em uma loja de bijuterias durante o dia. O sepultamento será hoje, no Cemitério de Taguatinga.

A família de Ana Telma da Silva enfrentou drama semelhante. A moça também foi registrada com origem ignorada no IML porque perdeu todos os documentos três meses antes do acidente na DF-001. O irmão dela, o produtor rural Antônio Dárcio da Silva, 32, fez o que pôde para tentar mudar a situação. ;Mas não teve jeito. Corri tudo que tinha que correr e vou ter que tirar o corpo dela como se fosse indigente mesmo;, reclamou. Ele pretende enterrar a irmã em Brejinho (MA), mesmo com a dificuldade para arrecadar dinheiro suficiente ao transporte e sepultamento do corpo. Dos R$ 3,5 mil necessários, ele só conseguiu R$ 1 mil até ontem. ;Se for preciso me endividar, que seja de uma vez. O importante é que minha irmã descanse em paz;, concluiu.

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