postado em 07/05/2008 08:41
O horizonte de Brasília, cuidadosamente preservado no projeto de Oscar Niemeyer e Lucio Costa e considerado um dos bens mais preciosos da cidade, está ameaçado. Segundo membros da Comissão Pró-Federação em Defesa do Distrito Federal, formada por pioneiros, moradores e especialistas em meio ambiente, o perigo vem do crescimento desordenado da região vizinha à área tombada da capital ; que vai da Rodoferroviária ao Lago Paranoá. Na manhã de ontem, a comissão se reuniu com representantes da superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para retomar o projeto de criação da Zona de Proteção do Conjunto Urbanístico de Brasília. Na prática, isso significa a inclusão da Bacia do Paranoá como área tombada da capital.O superintendente regional do Iphan, Alfredo Gastal, afirma que o instituto tem interesse em aprovar o projeto. ;É viável e vem em prol da manutenção das características originais de Brasília. Mas antes precisamos negociar com representantes da comunidade, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e do governo local para que o processo ocorra de forma democrática;, ressaltou. A comissão deve entregar o projeto de criação da zona de proteção ainda hoje ao Iphan. Segundo Gastal, esse mesmo estudo sobre o ;tombamento; da Bacia do Paranoá foi apresentado ao instituto em 2005. Mas devido a ;desencontros durante a negociação teve de ser arquivado;.
A geógrafa da Fundação Sustentabilidade e Desenvolvimento Mônica Veríssimo, responsável pelo estudo, cita a manutenção de dois conceitos para preservar o que restou da capital planejada na década de 1950. Visibilidade: ;Brasília foi feita para ser o centro das atenções, não pode ser ofuscada pelo Entorno. Se crescer sem o respeito ao plano original, pode acabar virando uma São Paulo;. E Ambiência: ;Há um conceito arquitetônico que deve ser preservado. E o desenvolvimento desordenado, por exemplo, quebra essa lógica;.
Preservação
Para o médico e pioneiro Ernesto Silva, integrante da comissão, a preservação ambiental da Bacia do Paranoá é outro ponto relevante do estudo. ;É uma forma de garantir o abastecimento de água da capital e a manutenção do cinturão verde, que vem sofrendo constantes agressões;, defendeu. Já a pioneira Natanry Osório, que acompanhou a visita de funcionários da Organização das Nações Unidas Para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) a Brasília em 2001 ; ocasião em que foram avaliados pontos para preservação da cidade como patrimônio histórico e artístico mundial ; sinaliza a preocupação com a especulação do setor imobiliário. ;Se forem erguidos arranha-céus sem regulamentação, será o fim do belo pôr-do-sol da capital. É preciso frear essa especulação em torno da região;, disse.
O presidente do Conselho Regional dos Consultores de Imóveis, Luiz Carlos Attié, entidade com mais de 15 mil associados, afirma que a categoria apóia o ;tombamento; da Bacia do Paranoá. ;Para nós, a preservação ambiental e das características de Brasília significa a valorização dos imóveis e a manutenção da qualidade de vida. É por isso que temos um dos metros quadrados mais caros do país;, observou.