postado em 12/05/2008 14:47
Uma operação da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e da Polícia Civil que começou na última sexta-feira (09/05) e continua nesta segunda-feira (12/05) descobriu um esquema de furto de água que envolvia pelo menos 25 estabelecimentos comerciais da Asa Sul, Asa Norte, Guará, SIA, Setor de Oficinas e Gama. Nesses quatro dias, cinco pessoas foram presas por estarem envolvidas no roubo e uma por desacato à autoridade.
Alessandro Santos da Costa, 31 anos, que já havia trabalhado para a Caesb, era pago para adulterar os hidrômetros. ;Há cerca de oito anos ele foi empregado de uma empresa que prestava serviço para a Companhia e foi aí que ele aprendeu a mexer no aparelho;, conta o superintendente de comercialização da Caesb, Emerson de Oliveira.
Segundo o delegado-chefe da Delegacia de Repressão a Furtos (DRF), Eric Seba de Castro, o ladrão agia de três formas diferentes. Na primeira maneira, ele tirava o lacre do hidrômetro, parava a contagem do consumo de água e a religava somente quando se aproximava a data da verificação pelos fiscais da companhia. Na segunda, ele voltava o ponteiro com o dedo para uma posição de menor consumo. No terceiro, ele alterava o hidrômetro de forma que, a partir do 15º dia do mês, os ponteiros começassem a contar para trás.
Dos três modos, o valor pago pelo estabelecimento era sempre muito inferior à quantidade real de água consumida. ;Em algumas pousadas da W3 Sul, onde houve as primeiras prisões, o gasto mensal era de oito metros cúbicos de água, consumo correspondente ao de uma casa em que vive somente um casal de idosos, por exemplo;, comenta Emerson.
O delegado da DRF aponta outros cálculos ainda mais extremos. ;A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê um consumo médio diário de 600 litros de água por pessoa;, comenta Eric Seba. ;Na Pousada Dom Bosco (703 e 704 Sul), por exemplo, onde hospeda-se uma média de 15 pessoas por dia, o consumo deveria ser de 270 metros cúbicos de água por mês, mas as contas delas vinham somente com gastos mensais de 40 metros cúbicos;, completa. Segundo levantamento inicial da Caesb, a fraude pode dar um prejuízo de R$ 1,8 mil a R$ 2 mil mensalmente por cada hidrômetro adulterado.
As investigações duraram dois meses e, após reunir provas suficientes, além de Alessandro, a equipe da DRF prendeu, durante a noite da última sexta-feira, Getúlio José Valente, 58 anos ; dono da Pousada Dom Bosco -, Vanessa Dias Goulart, 34 anos ; dona da Pousada Zen, na 705 Sul - Cleide de Oliveira, 47 anos ; dona do restaurante Quem Temperou, na 302 Sul e de uma Pousada na 705 Sul ; e o compadre de Cleide, Adonai da Silva Ferreira, 54 anos.
Após prestarem depoimento, todos receberam o direito de responder ao inquérito em liberdade, por terem bons antecedentes. ;Ainda estamos em busca de outras duas pessoas que fazem o mesmo que Alessandro, mas sem nenhuma relação, e tentamos provar algo contra os outros clientes dele;, informa o delegado.
Operação continua
Na manhã desta segunda-feira, cerca de dez fiscais e policiais visitaram sete estabelecimentos citados. Os restaurantes Líbanus (206 Sul), Quem Temperou (302 Sul) e Italianinho (Conic) foram autuados por estarem com o lacre do hidrômetro rompido. No Villa;s (Conic), o equipamento havia sido trocado de lugar sem autorização da Caesb.
Segundo o superintendente da Caesb, nenhum outro comerciante foi preso ainda porque a medição de água estava sendo feita normalmente nesta segunda-feira. Ele acredita que, após ter sido liberado, Alessandro deve ter avisado aos clientes sobre a descoberta do caso. ;Esses estabelecimentos serão multados por violação, terão de pagar a recuperação do hidrômetro e multa em torno de R$ 800, além de devolverem à Caesb toda a água que foi roubada;, garante Emerson de Oliveira.
Durante os próximos dez dias, fiscais da companhia irão avaliar a média de consumo das empresas e multiplicar por 30 para se chegar ao valor que elas terão de pagar. Ao longo desta segunda-feira, a equipe substitui os hidrômetros adulterados para encaminhá-los à perícia, na qual será possível comprovar se houve ou não a violação indevida e o roubo de água. A pena prevista para furto qualificado é de três a oito anos por cada hidrômetro alterado, no caso. Todos os acusados devem prestar depoimento nesta terça-feira (13/05) e podem ser indiciados, dependendo dos dados levantados pela Caesb.
Saiba mais sobre o caso na edição impressa do Correio Braziliense desta terça-feira.