Cidades

Editora UnB repassava verbas sem prestar contas à CGU

Editora da Universidade de Brasília repassou R$ 2,9 milhões para ONG de funcionária. Depósitos foram descobertos por meio de denúncia

postado em 15/05/2008 08:59
O Ministério Público do Distrito Federal investiga indícios de fraude em banco de dados da Editora Universidade de Brasília (UnB). Promotores descobriram que repasses da entidade eram omitidos da prestação de contas à Controladoria-Geral da União (CGU). Os R$ 2,9 milhões recebidos por uma organização não-governamental (ONG) no ano passado não foram declarados.

O montante foi depositado na conta bancária do Instituto Universitas, dirigido por Maria Delzeni Ribeiro. Ela era funcionária da Editora UnB desde 2004: coordenava projetos na gestão de Alexandre Lima, que comandava a entidade até março. Lima deixou o cargo sob suspeita de desvio de dinheiro público. Ele responde a ações por enriquecimento ilícito e improbidade administrativa.

Os R$ 2,9 milhões repassados ao Instituto Universitas são a soma de seis depósitos em conta corrente do Banco do Brasil, realizados entre janeiro e outubro. Contrariando norma do governo federal, os repasses não constavam no portal Transparência Brasil, da CGU. Os investigadores do MPDF descobriram os depósitos nas contas da ONG por meio de denúncia.

Os pagamentos ao Instituto Universitas foram confirmados após consulta ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Nenhum integrante do MPDF quis dar entrevista sobre o caso, nem mesmo o promotor Ricardo de Souza, que responde pelas investigações das contas da editora e dos convênios firmados pelas fundações de apoio à UnB.

O Correio, no entanto, teve acesso aos documentos do Siafi. Neles, os valores são justificados como ;Parceria de cooperação técnica nas ações complementares de apoio à execução das atividades de implantação do centro colaborador em alimentação e nutrição escolar das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste.;

Empresa-laranja
O Instituto Universitas também é investigado pela CPI das ONGs no Senado Federal. Em sessão realizada há duas semanas, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) revelou as relações familiares entre Maria Delzeni Ribeiro e Alexandre Lima, com base em investigação do MPDF. Uma filha de Maria Delzeni é sócia de um filho de Lima na empresa Poranduba Comunicações.

Segundo Dias, essa empresa também foi beneficiada com dinheiro da UnB por serviços prestados ao Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT). Isso reforçou as suspeitas dos parlamentares de que a ONG Universitas era usada como uma empresa-laranja para o recebimento de recursos. Como funcionária, Maria Deuzeni ganhou R$ 59 mil da Editora UnB, somente no ano passado.

Em depoimento na CPI, Lima admitiu suas relações com as pessoas e empresas citadas, mas não deu mais informações sobre os tipos de serviços prestados, valores ou períodos. A Editora UnB repassou R$ 1,2 milhão à ONG de Maria Delzeni, desde 2005. Segundo Lima, o dinheiro era para executar ;projeto na área de nutrição;. Esses valores estão no Transparência Brasil.

Lima e Maria Deuzeni não foram encontrados ontem para entrevista nem retornaram as ligações do Correio. Os integrantes da CPI querem convocar a diretora do Instituto Universitas e ex-funcionária da Editora UnB para um depoimento na comissão, mas a convocação ainda não foi votada.

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