postado em 17/05/2008 08:07
Quem comprar um veículo 0km neste fim de semana é um forte candidato a dono do carro 1 milhão. Na segunda-feira (18/05), no mais tardar na manhã de terça (19/05), Brasília ficará entre as cinco capitais do país com frota superior a 1 milhão de veículos. O número é simbólico. Mas as conseqüências do aumento vertiginoso do total de automóveis no Distrito Federal não. E o brasiliense começa a entender isso. As avenidas já não comportam tantos veículos nos horários de pico. O trânsito fica lento ou pára em pelo menos 17 pontos do DF. ;Enfrento quatro pontos de engarramento por dia. Na entrada da EPTG; em frente ao Guará; no SIA e no Eixo Monumental;, desabafou o publicitário Daniel Rocha, 28 anos, morador de Águas Claras.
E como ninguém circula o dia inteiro, parar em vagas regulamentadas é um suplício. Na área central de Brasília, 45 mil motoristas disputam todos os dias 15 mil vagas. A funcionária pública Sandra Carvalho dos Santos, 51 anos, é exceção. Ela vai de carro para o trabalho, no Senado, mas, se tem de resolver qualquer problema no centro ao longo do dia, pega um táxi. ;Fica mais caro. Em compensação é mais cômodo e ainda me estresso menos;, comentou. Sem ter lugar suficiente para estacionar, muitos condutores param em qualquer lugar. O governo, por sua vez, multa. Nos últimos quatro anos, o total de punições por estacionamento proibido saltou de 134 para 233, aumento de 73,88%.
O professor Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral Paulo, de Belo Horizonte, compara o fluxo de veículos das cidades ao sistema circulatório do corpo humano. ;As ruas são as veias e artérias. Se ingerimos gorduras, elas se acumulam nas paredes. Com o carro é a mesma coisa;, comparou. Doutor em logística e planejamento de transportes, Resende lembra que, em países desenvolvidos, há renovação da frota, investimentos em transporte coletivo e medidas restritivas. ;Quando isso não ocorre, qualquer pequeno bloqueio se transforma em um aneurisma;, citou.
O problema da mobilidade não está restrito aos grandes centros. O Ministério das Cidades traçou as diretrizes da política de mobilidade urbana. Encaminhado ao Congresso Nacional no ano passado, o Projeto de Lei 1.687/07 orienta estados, municípios e DF a priorizar os meios não-motorizados sobre os demais. Assim como os serviços de transporte coletivo sobre o individual.
O ministro Márcio Fortes disse que o governo apoiará iniciativas como implantação de ciclovias, bicicletários, corredores exclusivos para ônibus, metrôs e veículos leves sobre trilhos. Fortes citou a parceria do governo federal e do DF para ampliar as estações de metrô, mas fez ressalvas. ;O transporte de massa é eficiente quando combina qualidade, pontualidade e preço. A integração é a palavra chave. Não adianta inaugurar quatro estações de metrô se não há trem suficiente para atender a demanda;, afirmou.
Motorizados
Com o menor território entre as unidades da federação, o DF se consolida como o segundo colocado no ranking da taxa de motorização. Aqui, existe um carro para cada 2,4 moradores. Em São Paulo, a média é de um veículo para cada 2,2 habitantes. A diferença é que o estado paulista é 43 vezes maior que o DF. Diferentemente dos outros estados, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) não separa a frota total do DF e a da cidade de Brasília ; por isso, todos os carros emplacados no DF levam o nome da capital e não o das demais regiões administrativas.
O diretor do Detran, Jair Tedeschi, garante que o trânsito do DF ;ainda é bastante viável; e não haverá caos. Na contramão do que recomendam os especialistas, o governo local descarta adotar medidas restritivas como pedágio e cobrança por estacionamento público. A implantação de projetos para desafogar as vias tem sido adiada ou colocada em prática em um ritmo lento.
É o caso do Trânsito Inteligente. No fim do ano passado, o Detran anunciou que assinaria, em março, o contrato com a empresa que instalará 120 câmeras e 20 painéis inteligentes. Mas só agora o projeto está sendo licitado. ;O trânsito inteligente não são só as câmeras. A construção da Ponte JK e a abertura das vias L4 e L3 Norte também fazem parte do projeto e já estão prontas;, ponderou Tedeschi.