Cidades

Via de lazer: Brasília pode perder o que várias capitais do Brasil já garantiram

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postado em 18/05/2008 08:29

David Ramos de Oliveira, 26 anos, mora na 712 Sul e usa a bicicleta como meio de transporte. Pedala para todos os lugares onde quer ir e não se importa em disputar espaço com os carros nas vias do Distrito Federal, diariamente. Mas, aos domingos e feriados, opta por circular pelo Eixo Rodoviário. ;Se preciso ir ao Lago Norte, pego o Eixão até o final. Além de ser mais seguro, o trajeto tem mais fluência, porque é uma reta única e ainda aproveito para ver a galera;, diz.

O direito que o brasiliense está prestes a perder é garantido em outras capitais do país. A exemplo do que ocorre todos os domingos e feriados no Eixo Rodoviário, prefeituras municipais interditam o trânsito em ruas da cidade em um determinado dia da semana. Assim, aos sábados ou domingos e feriados, a população deixa os carros na garagem e invade as ruas com bicicletas, skates, patins ou simplesmente um par de tênis para longas caminhadas. Aqui, a Secretaria de Transportes ameaça acabar com o Eixão do Lazer, sob a alegação de que isso diminuirá os congestionamentos na área central de Brasília.

Em Belo Horizonte (MG), um novo projeto mobiliza as pessoas que moram nas proximidades da Lagoa da Pampulha. Desde fevereiro, um percurso de 15km na Avenida Otacílio Negrão de Lima, entre as avenidas Novara e Torino, é interditado aos veículos e liberado para pedestres e ciclistas. A iniciativa, chamada Domingo na Orla, funciona das 8h às 17h. Salvador (BA) também destina uma parte de sua orla para o lazer dos moradores. Instituído em 2005, o programa Rua do Lazer funciona na Avenida Oceânica, no Farol da Barra, das 8h às 18h. Além da pista permanente, a prefeitura promove atividades itinerantes na capital baiana. A comunidade que quiser receber uma rua de lazer, nas tardes de sábados ou manhãs de domingos, pode agendar uma data.

Na beira da praia


No Rio de Janeiro, mesmo com um calçadão e uma ciclovia na orla, as ruas que ficam na beira das praias do Leblon e de Ipanema fecham para o trânsito de veículos. Aos domingos, das 7h às 19h, apenas moradores e turistas a pé, de bicicleta, triciclo ou patins estão autorizados a circular pela orla. A Secretaria de Transportes da cidade considera a atração um dos pontos altos da cidade. São Paulo, a maior cidade do Brasil, famosa por não parar nunca e pelos enormes engarrafamentos, também reserva um espaço para os moradores: o Elevado Costa e Silva, ou Minhocão, com 3,4km, no centro da cidade.

Em Curitiba, não há uma rua fixa. Cada bairro tem o seu próprio espaço destinado ao lazer. A cada fim de semana, a Secretaria Municipal do Esporte escolhe cinco ruas na periferia para desenvolver atividades recreativas. As interdições acontecem em horários alternados e podem ser apenas em um período do dia ou durante o domingo inteiro.

O secretário de Transportes do DF, Alberto Fraga, reconhece o sucesso da iniciativa pelo país e garante que o GDF não pretende acabar com o Eixão do Lazer, pelo menos por enquanto. Fraga garante que a redução no horário é temporária: só vai durar até a conclusão da duplicação da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), que tem congestionado o trânsito de Brasília. Hoje, o Eixão do Lazer funciona das 8h às 18h. Mas o secretário quer encerrar as atividades ao meio-dia, com a justificativa de que não há demanda à tarde. ;Nós queremos que as pessoas continuem usando o Eixão, mas depois de acabar esse transtorno maior (na Epia);, diz.

Fraga, porém, ressalta que o Eixo Rodoviário tem uma característica diferente das demais vias brasileiras fechadas para o lazer da população. ;Essas ruas não são as principais das cidades e o Eixão corta todo o Plano Piloto. Todos os dias, 100 mil veículos transitam pela via, que só perde para a Epia (160 mil veículos/dia) e para a EPTG (Estrada Parque Taguatinga), que tem movimento de 120 mil veículos diariamente;, afirma Fraga.

Qualidade de vida


A proposta do governo preocupa o professor da Universidade de Brasília (UnB) Hartmut Günther. ;Essa decisão causará uma perda significativa na qualidade de vida do cidadão. O governo está priorizando o transporte individual em detrimento do transporte coletivo. Essa escolha é insustentável para a cidade;, alerta (leia artigo).

Jocenildo Dantas de Oliveira, 67 anos, corre desde 1993 para aperfeiçoar o condicionamento físico. Ele mora no Cruzeiro Velho, mas é freqüentador do Eixão do Lazer. Segundo Jocenildo, os corredores do DF preferem treinar ali a usar o Parque da Cidade aos fins de semana. ;O parque no domingo é muito cheio. Uma pessoa que está treinando certo ritmo não pode desviar desse tanto de gente;, argumenta.

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