postado em 22/05/2008 08:15
A comunidade acadêmica da Universidade de Brasília (UnB) reagiu com indignação à revelação do luxo da cobertura que servia ao ex-reitor Timothy Mulholland, na 310 Norte. As fotos do imóvel e dos eletrodomésticos e utensílios foram publicadas nesta quarta-feira (21/05) pelo Correio. A cobertura está fechada desde 12 de fevereiro, quando o ex-reitor deixou o endereço sob pressão da comunidade e do Ministério Público. Os artigos de luxo que recheiam o apartamento foram todos comprados com dinheiro do Fundo de Apoio Institucional (FAI), que era abastecido pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), pivô da crise que levou à renúncia da gestão liderada por Timothy.
No último domingo (18/05), o reitor pro tempore Roberto Aguiar questionou, em entrevista ao Correio, a rentabilidade de imóveis luxuosos para a universidade: ;Mercadologicamente, apartamentos menores são mais atraentes, mais rentáveis. Nossa intenção é vender esses apartamentos. Vou propor a idéia ao Conselho Superior;. O apartamento é avaliado entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, por corretores imobiliários. Só a decoração custou R$ 470 mil.
O coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Fábio Félix, expressou repulsa ao luxo em que vivia Timothy. ;Chega a ser chocante como se gasta com lixeira e saca-rolha numa universidade em que faltam água e luz. Isso é uma caricatura de como foi grande a bandidagem desse grupo na universidade, que vive uma condição de lixo em muitos departamentos;, protestou Félix. Ele acredita que o episódio deve servir de exemplo para outras universidades: ;Esse apartamento é um sintoma de um problema estrutural que existe na universidade brasileira, hoje;.
A primeira vice-presidente da Associação dos Docentes da UnB, Graciela Doz, avaliou que ;o apartamento é simbólico de como foi o mau uso do dinheiro público na universidade;. Ela afirma que ;se os colegiados e conselhos tivessem sido consultados, a aquisição do imóvel não passaria;. Graciela também reclamou: ;Como podem comprar uma cobertura dessas numa universidade em que falta giz para dar aulas?;. A professora quer que o imóvel ;seja vendido e o dinheiro revertido para a universidade;.
O presidente do Sindicato dos Servidores da Fundação UnB (Sintfub), Cosmo Balbino, também ficou admirado com a quantidade de artigos de luxo da cobertura. ;É incrível;, falou, ao ver as fotos publicadas no Correio. O Sintfub não consultou os associados para tomar uma posição sobre o destino do imóvel, mas Balbino não acha correto que seja vendido pelo reitor pro tempore Roberto Aguiar. ;Essa decisão deve ser tomada pelo reitor que for eleito pela comunidade acadêmica;, afirmou.
Por meio de sua assessoria, o procurador-geral de justiça do DF, Leonardo Bandarra, disse que ;o caso é emblemático de algo que não pode acontecer no país;. Para seu colega Ricardo Antonio de Souza, a saída de Timothy do apartamento não foi suficiente. ;Deve haver ressarcimento aos cofres públicos, afirma. Souza também cobra uma destinação para o imóvel. ;A UnB deveria vender o apartamento e reverter o dinheiro apurado em melhorias para a comunidade acadêmica.;
Povo fala
O que você acha dos gastos com a cobertura usada pelo ex-reitor Timothy Mulholland?
Dennis Tenner
20 anos, estudante de ciências sociais
;Não acho adequado que o reitor tenha todos esses itens de extremo luxo comprados com dinheiro público. Até acredito que o reitor possa ter um apartamento, mas que seja um imóvel como os que são concedidos a qualquer outro ocupante de cargo público. Mas o problema vai além disso. É reflexo de todo um sistema político que se apoderou da UnB. Talvez seja apenas a ponta do iceberg.;
Fabíola Souza Melo
18 anos, estudante de letras-tradução francês
;Eu acho um absurdo. Tanta gente passando fome e a UnB gastando o dinheiro que é do povo com tudo isso. Tanta gente passando fome e o reitor num apartamento desses. Não há necessidade desse luxo todo. Tem que ser leiloado e o dinheiro investido no câmpus. A gente espera que agora, com o reitor pro tempore, as coisas melhorem.;
Luiz Antonio Guerra
20 anos, estudante de ciência política
;Eu não imaginava que era esse luxo todo. Eu moro numa kit de 18m². É bizarro esse apartamento. Chega a ser constrangedor. Por mais que tenha brechas legais para isso, está na cara que a universidade não pode manter um apartamento assim para o reitor. Se você for ver quanto a UnB gasta com bolsas de pesquisa por ano, acho que não dá o valor desse apartamento e da decoração.;