Cidades

DF tem um espancamento a cada duas horas entre jovens

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postado em 27/05/2008 08:55
O tiroteio ocorrido na noite de sábado (24/05) em Planaltina é mais um capítulo no sangrento histórico da violência juvenil no Distrito Federal. Dois adolescentes ; um de 15 e outro de 16 anos ; acabaram mortos por causa da rivalidade entre grupos rivais de um dos bairros mais pobres da cidade, distante 38km do Plano Piloto. Os disparos no meio da rua são o final de um processo que, em geral, começa banalmente: um empurrão, um olhar atravessado ou uma disputa pela mesma garota. Motivos fúteis que abastecem a ira juvenil desmedida e resultam em socos, pontapés, pancadarias generalizadas e até mortes. Dados da Secretaria de Segurança Pública revelam que, a cada duas horas, um jovem é espancado no DF. O balanço mostra que, em 2007, foram registrados 4.508 casos de lesão corporal dolosa, aquela na qual o autor tem a intenção de machucar o outro. A média é de 12 casos por dia. Aparecem, nesses números, brigas em portas de escolas, em festas e as ocorridas na rua, envolvendo integrantes de gangues rivais. Os dados foram retirados de ocorrências registradas no Plano Piloto e nas demais regiões administrativas do DF. As vítimas tinham entre 12 e 24 anos. Além disso, 428 jovens de 17 a 24 anos se envolveram em homicídios no ano passado: 169 deles aparecem como autores e 259 como vítimas. Somam-se às estatísticas, ainda, duas lesões corporais seguidas de morte e 548 tentativas de homicídio que, em alguns casos, são resultado dos espancamentos. A Secretaria de Segurança Pública não separa quais tentativas de homicídio começaram com pancadaria. O limite entre os dois crimes é tênue. Há delegados que, ao se depararem com agressões graves, optam por registrar a ocorrência como tentativa de homicídio e não como lesão corporal, dependendo da gravidade dos ferimentos das vítimas. Precocidade Em 2007, 28,1% dos agressores tinham entre 12 e 17 anos. Das 3.023 ocorrências registradas pela polícia, menores de idades apareceram como autores em 850 casos. A promotora de Justiça da Infância e da Juventude, Selma Sauerbronn, destaca que a violência ocorre independentemente da classe social. O que muda é a maneira como o jovem resolve as diferenças: os de classe média usam o braço enquanto os mais pobres têm fácil acesso a armas. ;Entre jovens de classe média, a agressão é física, sem instrumentos. Os de classes mais baixas geralmente partem para a aquisição de arma de fogo;, disse. O consumo de álcool e drogas também tem relação direta com grande parte das agressões. A constatação é da delegada Selma Carmona, da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde deságuam as ocorrências envolvendo menores de idade. A maior parte das brigas apuradas pela DCA é gratuita. ;Porém, o que nos parece bobo, para eles é muito grave. Os adolescentes são desprendidos de medo. Estão numa fase de descobertas. Um implicar com outro em uma festa e chamá-lo de frouxo é inadmissível;, explicou. Na Justiça De todas as ocorrências registradas nas DCAs em 2007, 809 transformaram-se em processos judiciais na Vara da Infância e da Juventude (VIJ). Os casos tipificados como lesão corporal e vias de fato pela Justiça representaram 12,65% de todos os processos infracionais da vara ; 6.395 no total (confira arte). ;Nem todas as ocorrências viram processos porque alguns casos são resolvidos na própria delegacia;, esclareceu Deiza Carla Medeiros Leite, supervisora da Seção de Medidas Socioeducativas da VIJ. ;Adolescentes de famílias desestruturadas, excluídos socialmente ou, no caso dos das classes média e alta, sem limites se firmam diante do grupo formando rivalidade com outras tribos;, destacou. Entre todos os fatores que alimentam as reações extremadas dos jovens ; a banalização da violência em jogos eletrônicos e na televisão, a falta de perspectiva e a desestruturação familiar ; um é citado com unanimidade pelos especialistas: a família. Segundo eles, os pais devem estar atentos às companhias dos filhos, aos lugares que eles freqüentam e em quais tribos se espelham (veja quadro). ;A violência está muito próxima da criança e do adolescente, muitas vezes dentro do ambiente familiar;, afirmou a promotora Selma Sauerbronn. Segundo ela, a ausência dos pais abre uma brecha perigosa para a inserção desse jovem no mundo da violência: ;O vazio deixado pelos pais será preenchido de alguma forma;. A delegada Selma Carmona acredita que cabe à família frear o adolescente antes que ele cometa um ato infracional. ;A família deve ser o primeiro controlador social. A polícia é a última instância. Quando o adolescente chega aqui, ele já infringiu a lei;, lembrou. A coordenadora do Setor de Desenvolvimento Social da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco-Brasil), Marluva Noleto, ressalta que combater a violência é dever da família, da escola, da sociedade e do Estado. ;A violência não faz distinção de cor, classe social ou credo. Ela cresce não só entre os jovens mas, também, entre as crianças;, alertou.

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