Cidades

Ex-reitor descumpriu normas da UnB ao ocupar cobertura de luxo

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postado em 31/05/2008 09:04
O ex-reitor da UnB Timothy Mulholland foi o único administrador na história da universidade que usou o Conselho Diretor da Fundação Universidade de Brasília (FUB), órgão responsável pela gestão do patrimônio da instituição, em proveito próprio. Pelo Regulamento de Moradia da universidade, 25 dos 2.175 imóveis de propriedade da UnB constituem uma reserva técnica administrada pelo reitor e destinada a professores visitantes e colaboradores da Administração Superior. Timothy decidiu ocupar e mobiliar um desses imóveis ; a cobertura do Bloco J da 310 Norte ; com dinheiro que deveria ser destinado às pesquisas. O ex-reitor, que já responde a uma ação judicial por improbidade administrativa, movida pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), agora pode ser alvo de uma sindicância interna. Isso porque, mesmo respaldado pelo Conselho Diretor, ele não poderia ter tomado a decisão sem consultar outras instâncias administrativas. Ouça entrevista com João Carlos Teatini O comportamento do ex-reitor foi classificado de ;gestão temerária; pela atual administração da universidade. O secretário de Comunicação Social da UnB, professor Luiz Gonzaga Mota, explica como funcionam os conselhos dentro da instituição. O Conselho Diretor ; formado por professores e empresários ; é a instância máxima da FUB, fundação responsável pela gestão financeira e patrimonial da UnB. O Conselho Universitário (Consuni) ; composto por alunos, servidores e professores ;tem a última palavra nas questões acadêmicas. ;Apesar de atuarem em áreas distintas, o estatuto prevê a interação entre as partes. Antes de a decisão de um ser colocada em prática, é preciso consultar e debater o tema. Principalmente nas questões de destinação da verba pública;, ressaltou Mota. A decisão dos membros do Conselho Diretor de destinar a cobertura 604 da 310 Norte e mobiliá-la com artigos de luxo para o ex-reitor não chegou ao Consuni ou a qualquer outra entidade representativa da universidade. O decano de administração e finanças, João Carlos Teatini, membro do Consuni, conta que a atitude de Timothy, apesar de respaldada pela legalidade e autonomia do Conselho Diretor, feriu o interesse público e o caráter democrático da instituição. ;Foi uma decisão tomada às escuras e por isso questionável;, disse. Segundo ele, o desvio de Timothy pode render a abertura de uma sindicância, a pedido de qualquer integrante dos conselhos superiores. ;Mas preferimos deixar nas mãos da Justiça;, complementou o decano. Para visitantes O capítulo IX do Regulamento de Ocupação e Manutenção dos Imóveis Residenciais da FUB determina que os imóveis da reserva técnica ;são destinados à atração de pessoal de alto nível de qualificação, podendo contemplar o Professor Visitante e colaboradores diretos da Administração Superior, selecionados pela UnB para fortalecer e manter o seu quadro docente funcional;. A regra foi quebrada por Timothy. ;Os reitores deveriam morar em apartamentos funcionais, na Colina, 205 ou 206 Norte;, lembrou Teatini. Além disso, o ex-reitor, em outra decisão inédita no Conselho, optou por decorar com recursos públicos a luxuosa cobertura de 400 metros quadrados. O decano de finanças explica que a prática fere os princípios institucionais de moradia. ;A UnB não pode mobiliar os apartamentos. Entregamos em condições básicas de moradia: pintura, fiação elétrica e rede de água. A mobília é por conta do inquilino;, detalhou. Timothy usou indevidamente a verba destinada a pesquisas na universidade, captadas pela Fundação de Empreendimentos Tecnológicos (Finatec). Só na mobília e utensílios domésticos foram gastos R$ 470 mil e mais R$ 72 mil em um carro de luxo. O desvio de verba dentro da UnB é alvo de sindicâncias do MPDF e da Controladoria-Geral da União (CGU) desde o fim de abril. A decisão de vender os artigos e imóveis de luxo comprados pela administração da universidade, anunciada em reunião na última quinta-feira, foi comemorada pela comunidade acadêmica. A vice-presidente da Associação dos Docentes da UnB (AdunB) e professora do Departamento de Engenharia, Graciela Nora Doz, criticou a ação do Conselho Diretor. ;Sempre ressaltamos a ilegalidade e a elitização nas decisões do Conselho. A venda desses imóveis é uma tentativa de trazer a universidade de volta à normalidade;, declarou. O estudante de matemática, Elinaldo Moraes, 23 anos, ressalta a necessidade de rever a estrutura dos conselhos. Para ele, o debate sobre a paridade entre os segmentos nas decisões políticas é fundamental para a UnB sair da crise administrativa. ;O Conselho Diretor, por exemplo, é formado só por professores. É preciso dar mais voz aos estudantes e servidores para fazer da UnB um ambiente mais democrático e evitar novos escândalos como os da última gestão;, afirmou. Hoje, os professores tem 70% de peso nas votações. Estudantes e servidores, 15% cada. Representantes do MPDF preferiram não comentar a decisão, por se tratar de um assunto administrativo interno.

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