postado em 10/06/2008 08:35
A natureza tem seus truques. E o cerrado, ecossistema que ocupa um quarto do território brasileiro, guarda vários deles. Além das estratégias que os animais e as plantas desenvolveram ao longo dos séculos para se adaptar às características da região, há ainda outras artimanhas para a sobrevivência que se estabelecem em nível das relações de convivência. No mundo das espécies vegetais, essas relações são chamadas de interações e podem ser boas ou ruins. Nas interações positivas, não há prejuízos a nenhum dos envolvidos. Já as negativas podem levar ao enfraquecimento ou até a morte de um dos protagonistas.
Por exemplo: orquídeas enroscadas em caules de árvores não chegam a fazer mal aos hospedeiros. As orquídeas aproveitam as plantas maiores como suporte para receber mais sol e assim crescer melhor. O mesmo não se pode dizer das figueiras nativas do cerrado. Para se tornarem árvores frondosas, elas aniquilam a espécie que lhes serve de suporte. As raízes vão estrangulando o hospedeiro como um abraço fatal.
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Universidade de Brasília (UnB) e autor do recém-lançado livro Botânica para quem gosta de plantas, o professor Tarciso Filgueiras é um entusiasta do assunto. ;Entender a natureza, nos permite conhecer mais sobre nós mesmos;, filosofa. Em um passeio pelas áreas urbanas e silvestres do DF, ele guiou a equipe do Correio e revelou detalhes sobre o cerrado que costumam passar desapercebidos aos olhos do observador comum. ;Em uma simples caminhada pelas superquadras, é possível flagrar situações interessantes de luta pela vida;, explica o especialista. O professor Tarciso tranqüiliza os que se surpreendem com uma suposta violência nas interações entre as plantas. ;A natureza é sábia. Nós temos de respeitá-la. Ao final, tudo faz parte do mesmo ciclo que é o ciclo da vida.;Segundo o professor, estão errados os que impõem juízo de valor aos fatos da natureza.