Cidades

Funcionários da UnB ganhavam R$ 30 mil por formatura

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postado em 14/06/2008 08:36
A sindicância aberta pela Universidade de Brasília (UnB) para apurar a cobrança de taxa de colação de grau vai identificar todos os beneficiários dos pagamentos feitos pelos formandos. A investigação parte da relação de prestadores de serviço das cerimônias realizadas no fim do ano passado. Também integram a lista funcionários da instituição de ensino superior. Além do salário regular, eles ganhavam por trabalhos em cada formatura. Entre essas pessoas, a mais bem remunerada era a coordenadora de cerimonial da universidade, Ana Velloso. Com salário de R$ 3,9 mil pelo cargo de confiança, ela embolsava mais R$ 30 mil para organizar uma formatura ; R$ 15 mil pelo ensaio e R$ 15 mil pela cerimônia oficial. Velloso chegava a coordenar até seis cerimônias em um ano. Muitos reuniam alunos de cursos diferentes. Conforme revelou o Correio na edição de ontem, os estudantes da UnB só podiam colar grau em solenidades organizadas pela equipe chefiada por Ana Velloso. Cada um pagava de R$ 110 a R$ 220 para participar do evento e receber o diploma. O valor variava de acordo com a renda. A mestre de cerimônias contratada por Ana Velloso ganhava R$ 3 mil por ensaio e mais R$ 6 mil por participação na solenidade oficial. Essa pessoa, segundo assessores da reitoria da UnB, é filha de Ana Velloso. A ex-coordenadora de cerimonial da universidade tinha autonomia para escolher toda a equipe que organizava as colações de grau e os fornecedores dos eventos. Ela contratava fotógrafos, lavadeiras, técnicos de som, equipamentos de iluminação, sem se preocupar com licitações. Um técnico em primeiros socorros, por exemplo, recebia, em média, R$ 2,5 mil por cerimônia. Qualquer estudante de ensino superior precisa fazer os juramentos do ritual para receber o diploma de conclusão de curso, como exige o Ministério da Educação (MEC). Há nove anos, as colações de grau da UnB ocorriam no Centro Comunitário da instituição. O dinheiro da taxa ia para a Associação de Ex-alunos da UnB, sem vínculo com a universidade. Antes, as comissões de formaturas dos alunos organizavam o evento fora da universidade. Caixa eletrônico Ana Velloso também portava um cartão corporativo. No Portal da Transparência, da Controladoria-Geral da União (CGU), consta que ela gastou R$ 23,7 mil com o cartão bancário fornecido pelo governo federal, no ano passado. Do total, R$ 16,9 mil saíram direto de caixas eletrônicos. O site não informa como o dinheiro foi usado. O restante, Velloso consumiu em papelarias e lojas de fotografia. Detalhe: as compras eram feitas na mesma papelaria. Somente em fevereiro e março de 2008, ela gastou mais R$ 5,3 mil do cartão corporativo. A maior parte também na papelaria. Além do salário do cargo comissionado e dos ganhos por colação de grau, Ana Velloso recebe aposentadoria da UnB. A administração da universidade, porém, não informou o valor. Ela trabalhava na instituição desde julho de 1974. Assumiu a Coordenadoria de Cerimonial em 1994. Velloso e demais funcionários não-concursados da unidade foram exonerados em abril pelo reitor temporário, Roberto Aguiar, logo após assumir o cargo no lugar de Timothy Mulholland. Aguiar extinguiu a taxa de formatura há quatro dias. Timothy saiu da UnB com toda sua equipe em decorrência dos escândalos provocados por denúncias de mau uso de dinheiro público. Segundo o Ministério Público, verbas que deveriam ser destinada a pesquisas foram usadas, entre outras coisas, para decorar o apartamento funcional ocupado pelo ex-reitor e financiar almoços e jantares de até R$ 12 mil organizados pela Coordenação de Cerimonial. Por telefone, Ana Velloso disse ao Correio que não dará entrevista. ;Só falo em juízo;, afirmou.

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