postado em 15/06/2008 09:08
Apenas uma empresa tem permissão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para fazer transporte de passageiros no trajeto Distrito Federal-Goiânia na Rodoviária de Taguatinga. Apesar da falta de opções, a Viação Araguarina mantém veículos saindo de hora em hora, entre as 6h e a meia-noite. Mesmo assim, os piratas firmaram clientela no local, a ponto de provocar prejuízos no serviço legalizado. Em dia de fiscalização contra o transporte clandestino, por exemplo, a Araguarina estima que carrega 200 passageiros a mais até a capital goiana.
O gerente de Transportes Rodoviários da empresa, Leônidas Elias Júnior, disse que denunciou a ação dos ilegais em Taguatinga à ANTT. O órgão de fiscalização mantém um escritório no próprio terminal rodoviário da cidade e um fiscal também circula no lugar em horário comercial, mas o assédio dos piratas continua. ;Isso afeta diretamente os nossos caixas. A ação dos ilegais é organizada e eles só saem com a lotação completa. A gente perde passageiros no estacionamento mesmo. Sem falar no perigo para quem usa o serviço. Não há nenhuma segurança;, afirmou.
Arrependimento
O motoboy Érido Bezerra de Oliveira, 25 anos, é um dos brasilienses arrependidos de ter apelado ao serviço irregular. ;Dá medo, pois eles correm demais. É uma média de 120km/h até Goiânia. Acho que só vou de novo se estiver com mais alguém;, comentou. Érido viajou até a capital de Goiás em um Gol 1.0. Deixou Taguatinga inseguro com as condições do carro, aparentemente antigo. Na última semana, preferiu pagar a passagem do ônibus convencional a entrar em mais um veículo sem autorização para transportar passageiros.
O pintor Gisley Pereira, 32, por sua vez, usa o serviço clandestino em casos de emergência. Mas apenas quando está sozinho. Não abre mão da empresa permissionária se tem a companhia da mulher e da filha na viagem. ;Já fui de van e achei tranqüilo. O motorista ainda exigiu que todos colocassem o cinto de segurança. Pedi para o condutor diminuir a velocidade em um determinado momento e ele tirou o pé do acelerador;, detalhou. ;Só que com eles (piratas) é um tiro na escuro, pois nunca se sabe;, admitiu Gisley, que precisa ir a Goiânia uma vez por mês.
;Não tem autorização;
O Correio ouviu um dos motoristas ilegais da Rodoviária de Taguatinga. Ele é um dos que distribui cartões de apresentação no estacionamento do local (veja arte com trechos da conversa). A identificação dele trata o serviço como ;transporte alternativo 24h; para Brasília, Goiânia, Caldas Novas ;etc;. Também revela que busca encomendas e cumpre serviços para embaixadas e aeroportos. Aparecem ainda os nomes de mais dois condutores, com celulares de prefixo da capital goiana. ;A gente faz transporte alternativo. A gente faz, mas não tem autorização, não;, reconheceu.
O motorista admitiu que nem sempre consegue driblar a fiscalização nas estradas. Mas tem chance de escapar da multa. ;Quando param a gente e estamos com passageiro, pedem para descer. Se é a primeira vez, não dá multa, não;, revelou. ;Faz um tempinho que eu faço isso. É o que a gente faz para sobreviver, não tem outro jeito;, concluiu. O negócio dele é feito em família. O irmão também trabalha como pirata em Taguatinga.
ATENÇÃO BÁSICA
Transporte pirata interestadual é crime previsto em lei. A multa pode alcançar R$ 4 mil, segundo a Resolução nº 233, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Sempre que for viajar, prefira os ônibus das empresas com permissão para levar passageiros. Os veículos passam por revisão e são obrigados a seguir as regras dos órgãos fiscalizadores.
Carros de passeio e vans não recebem autorização para longos percursos. Táxis também não têm permissão para transporte coletivo.
Os motoristas clandestinos não observam as regras de segurança. Alguns carros não têm cinto de segurança ou rodam com os pneus carecas. Se ocorre um acidente, não há seguro. A responsabilidade fica por conta do passageiro.