postado em 18/06/2008 14:48
Estimativas mundiais de organizações não-governamentais e centros de pesquisa apontam que a cada 500 pessoas, uma tenha algum nível de autismo. Traduzido para o Distrito Federal, o cálculo indica quase 5 mil portadores do transtorno. Para quem sofre da doença e suas famílias, esta quarta-feira é especial: o 18 de junho é o Dia do Orgulho Autista.
Durante a manhã, uma blitz montada na BR-040 abordava os motoristas para distribuir panfletos e informar sobre o autismo. A ação é uma parceria da organização não-governamental Movimento Orgulho Autista Brasil, da Coordenadoria para Inclusão da Pessoa com Deficiência (Corde) da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejus) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O objetivo é conscientizar a população sobre as características do transtorno e sobre a necessidade de políticas públicas para a doença.
Pai de um autista de 10 anos e coordenador da Corde, Fernando Cotta lamenta a ausência de políticas públicas direcionadas ao autismo. "O governo tem que dar atenção ao ensino especial dessas pessoas e à inclusão social", defende. Ele frisa que quem tem renda menor sofre ainda mais com a doença por não ter acesso ao tratamento. "Se forem aplicadas medidas corretas desde cedo, o portador pode se adaptar melhor. Senão, será considerado a vida inteira um doente mental severo", acrescenta.
A presidente da ONG Movimento Orgulho Autista do Brasil, Alexandra Capone, de 33 anos, também tem um filho com o transtorno. Victor, de 8 anos, não tem mais crises, fala, lê e escreve. "Antes do tratamento ele era muito diferente", lembra Alexandra. Em 2005 pais de alguns autistas se juntaram e decidiram lutar por políticas públicas. Do encontro nasceu a ONG, que todos os anos organiza manifestações no dia 18 de junho. Atualmente, mais de 50 famílias participam ativamente do movimento. "Graças ao grupo pudemos dar mais apoio a pessoas que tinham autistas na família e não sabiam quem procurar", diz Alexandra, que conversa durante esta tarde com deputados na Câmara Legislativa do DF sobre ações que beneficiem quem sofre com a doença.
O transtorno
O autismo, um Transtorno Global do Desenvolvimento que aparece nos três primeiros anos de vida, se caracteriza pela deficiência na comunicação e na relação com pessoas e ambientes. A incidência em homens é de três a quatro vezes maior do que nas mulheres. Entretanto, as meninas tendem a ter graus mais acentuados da doença.
Reconhecido em diferentes níveis, o autismo pode comprometer em quase nada ou totalmente a interação social do portador. As principais características de uma pessoa com o transtorno são a dificuldade de se relacionar socialmente, o atraso no desenvolvimento da linguagem, diferentes interesses dos comuns a sua faixa etária, hábitos repetitivos, apreciação exagerada da rotina e mais atenção aos detalhes do que ao todo.
Não há cura e o tratamento depende do grau da doença. De maneira geral, o autista costuma receber educação especial e acompanhamento psicológico, psiquiátrico, pedagógico e fonoaudiológico. Cerca de 75% das pessoas com autismo são também deficientes mentais.
A psiquiatra Rosa Horita, do Centro de Orientação Médico Psico-Pedagógica (COMPP), que trata a saúde mental de crianças e adolescentes, lamenta que as políticas públicas brasileiras para o autismo ainda engatinhem. "É sempre muito complicado ter uma criança com alguma dificuldade em casa, mas sem tratamente, é dificílimo", acredita.