Cidades

Planetário, fechado há 11 anos, tem patrimônio de R$ 700 mil encaixotado

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postado em 19/06/2008 08:27
Um patrimônio de R$ 700 mil está encaixotado em uma saleta de nove metros quadrados na Unidade de Administração Geral da Secretaria de Ciência e Tecnologia do DF. O local onde são guardados os equipamentos de alta tecnologia é o mesmo usado para armazenar pilhas de papéis que fazem parte do arquivo da unidade. Dentro das quatro caixas de madeira empilhadas no canto há mais de um ano estão lâmpadas, motores e lentes responsáveis por modernizar o projetor do Planetário de Brasília. A compra dos equipamentos seria a chance do GDF reabrir o local que encantou os brasilienses até 1997, mas, agora, o governo corre o risco de ser obrigado a devolver o dinheiro ao Ministério da Ciência e Tecnologia, financiador do projeto. Com o tempo em que está no almoxarifado, o material pode se deteriorar ou ficar desatualizado. As caixas de madeira estão lacradas, mas acumulam poeira. Além disso, a sala não tem sistema de climatização capaz de proteger os equipamentos. ;A gente evita mexer para não danificar nada;, conta o gerente de Material e Patrimônio da Secretaria de Ciência e Tecnologia, Saulo de Tarso Reis. Apesar do cuidado, os itens são extremamente sensíveis à poeira e à umidade. ;São equipamentos óticos e eletrônicos suscetíveis às variações do clima e que precisam ser bem acondicionados. A sala deve ter um tipo de absorvente de umidade, tem que ser seca e não pode ter poeira;, ressalta José Leonardo Ferreira, doutor em ciências espaciais e professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB). Tudo parado O ministério, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Digital, liberou os recursos graças a um convênio firmado em 2004 entre os governos local e federal para a reabertura do planetário. No acordo, o GDF seria responsável por reformar o prédio abandonado no Eixo Monumental para permitir a instalação dos aparelhos responsáveis por transformar a tecnologia do projetor, ainda analógica, em digital. Mas a contrapartida do governo local nunca foi dada e não há previsão para início da reforma do planetário. Inicialmente, o GDF teria dois anos para cumprir sua parte no acordo com o governo federal, mas o prazo encerrou-se em 2006. O Ministério da Ciência e Tecnologia prorrogou-o inúmeras vezes ; quatro secretários passaram pela Secretaria de Inclusão Digital nesse período ;, mas decidiu encerrar o contrato em janeiro deste ano e aguarda a prestação de contas do GDF. Depois de analisar as justificativas que serão apresentadas, o atual secretário do MCT, Joe Valle, decidirá se pede ou não o dinheiro de volta. ;O que nós queremos é a aplicação dos recursos investidos. Não temos interesse em recebê-los. Quem perde com isso é a comunidade.; Assim, bastaria uma sinalização do GDF de que a obra será, enfim, iniciada, para que o ministério siga com o convênio. Há um projeto pronto para a reforma do planetário e a obra já foi inclusive licitada. A Soltec Engenharia Ltda. ganhou a concorrência, em janeiro, para executar a reforma, orçada em R$ 7 milhões e com prazo de execução de oito meses. Pelo projeto, parte do prédio atual será demolida e o planetário ganhará um museu de ciência e tecnologia, que funcionará no local dos aquários que nunca funcionaram, oficinas de tecnologia e um cybercafé. Mas o GDF não tem dinheiro em caixa para bancar a obra. ;A Secretaria de Obras e o governador (José Roberto Arruda) têm interesse de começar a obra logo;, garante o chefe da Unidade de Administração Geral da Secretaria de Ciência e Tecnologia, Saulo de Oliveira Duarte. Via láctea Sem o planetário, as crianças do DF perdem a oportunidade de visualizar como funciona o espaço, o sistema solar e Brasília fica de fora da rota internacional de astronomia. Ano que vem, astrônomos do mundo inteiro comemorarão os 400 anos da invenção da primeira luneta, feita por Galileu Galilei, e 2009 será o Ano Internacional da Astronomia. Além disso, o Brasil será a sede da reunião anual da União Internacional de Astronomia. Rio de Janeiro, João Pessoa, Porto Alegre e Belém receberão eventos do encontro, mas a capital não está incluída na programação por não ter um planetário. ;A geração mais nova brasiliense nunca visitou um planetário. O governo pode até fazer parcerias para realizar essa obra, tão importante para a cidade;, comenta o deputado distrital Cabo Patrício, líder do PT na Câmara Legislativa.

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