postado em 20/06/2008 08:36
Depois de aprovar, na semana passada, a paridade para a eleição do próximo reitor da Universidade de Brasília, o Conselho Universitário da UnB (Consuni) reúne-se novamente na tarde desta sexta-feira (20/06) para concluir a elaboração das regras do processo eleitoral. Professores, estudantes e servidores vão discutir detalhes como o financiamento da campanha, a realização ou não de segundo turno e as normas éticas da disputa. As eleições para a escolha do novo reitor devem ser realizadas em setembro.A reunião do Consuni e o processo eleitoral serão conduzidos pelo atual reitor pro tempore, Roberto Aguiar. Ele foi escolhido para assumir a UnB em meio à crise causada pelas denúncias contra o antigo reitor, Timothy Mulholland. Quando assumiu o cargo, Aguiar se comprometeu a comandar a universidade por um prazo máximo de seis meses, além de organizar o processo eleitoral. ;Fui designado para presidir a escolha do novo reitor e para que essa eleição fosse democrática e totalmente transparente;, destaca Roberto Aguiar. ;Até setembro, esse processo deve estar concluído;, acrescenta.
Durante a reunião desta tarde, os estudantes querem garantir dois turnos para o processo de escolha da lista tríplice de candidatos. Os três nomes serão entregues ao presidente da República, que nomeará o novo reitor. Para os alunos, os dois turnos garantem o confronto entre os programas dos candidatos ; a intenção é diferenciar de maneira explícita os partidários do ex-reitor Timothy Mulholland, que pediu licença do cargo em meio a denúncias de improbidade administrativa e uma ocupação da reitoria que durou 14 dias. Os estudantes também querem que seja estabelecido um critério de quorum mínimo de participação em cada uma das categorias.
;O segundo turno é importante para que se saiba qual a hegemonia na universidade;, afirma o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Fábio Félix. Há uma grande preocupação entre os dirigentes estudantis com a possibilidade de o futuro reitor ser do mesmo grupo que apoiou a gestão de Timothy. Na última quarta-feira, os estudantes se reuniram para decidir como será a mobilização para garantir seus objetivos na reunião do Conselho Universitário de hoje.
Se a regra do quorum mínimo for aprovada, a fórmula que calcula o peso de cada um deles prevê que o total de votantes das três categorias seja dividido pelo total de votantes de cada uma delas e multiplicado por um terço. No caso de uma ou mais categorias não alcançar o quorum de 10%, a fórmula levará em conta o total de aptos a votar em toda comunidade acadêmica dividido pelo total de eleitores da cada uma delas, sem levar em conta o total de pessoas que forem às urnas.
Tanto a decisão sobre os dois turnos quanto o quorum mínimo são pontos de honra para os representantes dos alunos da UnB. Eles apostam na polarização da eleição mas temem que o voto da categoria tenha menos peso, por isso querem garantir a regra do quorum mínimo. Embora não esteja fazendo um mapa dos possíveis votos, a direção do DCE acredita que as discussões serão acaloradas na reunião de sexta.
Dúvidas
A questão levanta dúvidas. O reitor pro tempore Roberto Aguiar teme que, da forma como está posto, o quorum mínimo possa trazer complicações. ;Para mim não está claro. Da forma como está a redação eu acredito que dá problema de entendimento. Está mal escrito, mal elaborado. Pode dar mil interpretações jurídicas. Temos que limpar aquele texto em função das preferências da assembléia;, afirmou. Sobre a possibilidade de dois turnos nas eleições, Aguiar disse não ter opinião formada. ;Minhas posições sempre são muito claras, mas disso eu não tenho certeza;, falou.
Os estudantes já contam, pelo menos, com o apoio da Associação dos Docentes (Adunb). A presidente da entidade dos docentes, Rachel da Cunha, defende a inclusão da regra do quorum mínimo no regimento das eleições. ;A paridade representa a retomada do processo de redemocratização da universidade;, afirma. Ela acredita que a regra seja a garantia de que as três categorias tenham o mesmo peso na escolha do novo reitor.
A direção do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação UnB (Sintfub) apóia o quorum mínimo, mas não considera os dois turnos convenientes na eleição. O presidente do sindicato, Cosmo Balbino, quer evitar a partidarização das eleições. ;Já fizemos isso (a partidarização) no sindicato e foi um grande erro para a categoria. Num momento de crise como o atual, isso teria um preço muito alto;, disse. Cosmo prefere se esforçar para o que chama de candidaturas viáveis, que representem os interesses da universidade acima de tudo.
Se depender do clima da reunião da sexta-feira passada, as discussões no Consuni prometem muita polêmica hoje à tarde. A contagem dos votos ; 35 a favor da paridade e 27 contrários ; foi tensa. A decisão começou pelos representantes dos institutos, a maioria contra a paridade. Mas todos os alunos e membros da administração superior pro tempore votaram pela mudança no processo. ;Acredito que o voto paritário vai envolver mais a comunidade acadêmica nas decisões institucionais;, declarou o reitor temporário Roberto Aguiar. Já do lado dos contrários à causa estudantil, houve quem reclamasse do clima na reunião. ;Os estudantes estão pensando no poder. Acho que seria melhor gastar esse tempo para debater a missão da universidade;, criticou o professor de psicologia Hartmut Günther, que votou contra à medida.