postado em 21/06/2008 08:29
O Distrito Federal tirou nota cinco nas provas que compõem o Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), alcançou a maior média do país, mas o rendimento dos alunos ainda está longe do ideal. Nenhuma das escolas de 1ª a 4ª série ficou entre os 50 melhores colégios públicos do Brasil, segundo o ranking divulgado nesta sexta-feira (20/06) pelo Ministério da Educação. A nota é calculada a partir do desempenho dos estudantes do ensino fundamental em provas de matemática e português, realizadas em 2007, em 65.867 instituições públicas de ensino de 4ª a 8ª série.
Dos 10 melhores colégios brasileiros, nove estão no estado de São Paulo, sendo que três ficam na pequena cidade de Santa Fé do Sul, com 25 mil habitantes, na região de Ribeirão Preto, no noroeste paulista. O colégio campeão nacional alcançou a média de 8,6. Já a líder brasiliense marcou 6,7 pontos e está em 97º posição na lista do país. É a Escola Classe 314 Sul, com 362 alunos, uniforme obrigatório, espaço de leitura, 30 professores, menos de 1% dos estudantes fora da faixa etária recomendada, música clássica para relaxamento antes da aula, quadros brancos para escrever com caneta hidrográfica e acompanhamento regular de pais e mães.
;Estudo aqui porque minha mãe também estudou. Aqui, os professores lutam muito para a gente ficar inteligente. Os professores têm compromisso;, resume Tauane Esteves, 10 anos, aluna da 4ª série da Escola Classe 314 Sul. É uma escola no Plano Piloto, como outras oito entre as 10 melhores do DF, mas não é exclusiva de moradores da área central da capital. ;Não temos nenhum morador da Quadra 314 Sul. Noventa por cento dos nossos estudantes não moram no Plano;, diz a vice-diretora Bernadete Pereira, 47 anos de paixão pelo ensino. ;O nosso segredo não está no endereço de nosso aluno, mas na dedicação dos professores e na participação da família.;
;Minha mãe vem sempre;, diz Mariana Beatriz Ximenes, 8 anos, moradora do Recanto das Emas. ;Já estudei lá, mas não aprendi nada;, emenda a menina. ;Aqui, é tudo muito difícil. O contexto familiar não ajuda. Poucos pais participam;, lamenta Nilza Alves Ribeiro, diretora do Centro de Ensino Fundamental 306 do Recanto das Emas, um dos dois colégios com pior desempenho do DF. Sua média ficou em 3,6. ;Não foi uma surpresa. Assumimos a escola há menos de um ano. O nível é muito ruim, mas estamos tentando melhorar;, completa a professora, cuja batalha começa muito longe da sala de aula. ;Muitas vezes, precisamos ir até a casa do aluno para conversar com a família e descobrir por que ele sumiu. Muitos não têm uniforme nem tênis, nem estojo.;
O reflexo acadêmico é imediato. ;Mais da metade dos nossos alunos estão atrasados. Tenho jovens de 18 anos na mesma turma de menino de nove;, conta a professora Helma Regina, grávida de sete meses, inconformada com o rendimento de seus pupilos. ;Dou aula para garotos que passaram dois anos longe da escola. O desnível é muito grande. Tenho também ótimas alunas, mas elas acabam se prejudicando por causa dos colegas. Ano passado, tive que alfabetizar garoto da 4 ª série.;
A Escola Santos Dumont, em Planaltina, disputa com o colégio do Recanto a última colocação do DF. Não há quadra de esportes, nem parquinho, nem biblioteca, nem laboratório. Quase a metade - 24 dos 53 - estudantes que cursavam a 4 ª série no ano passado, quando o MEC aplicou as provas, estava fora da faixa etária. Muitos alunos assistem à aula de chinelo. Mais de 60% não têm a blusa da escola. ;Eu queria uma escola com quadro branco de canetinha, mas isso só em colégio particular;, sonha Laura Alves, sem saber que a menos de 38km dali, meninas como ela escrevem em quadros como os de seu sonho. E de graça.
Queda entre 5ª e 8ª séries
Mesmo com um pequeno aumento no Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 3,8 para 4,0, o Distrito Federal perdeu uma posição no ranking nacional das escolas de 5ª a 8ª série. Saiu da terceira colocação em 2005 para a quarta em 2007. Ficou atrás do Paraná, que marcou 4,2 pontos e pulou do sexto para o terceiro lugar, e de São Paulo e Santa Catarina, ambos com 4,3 pontos. As cinco escolas mais bem colocadas do país são da rede federal de ensino - três no Rio de Janeiro, duas em Recife e uma em Salvador.
Entre as regiões, o panorama 0de 2005 se manteve. O Nordeste continua na lanterna. E o Sul e o Sudeste dividem a liderança, seguidos do Centro-Oeste e da Região Norte. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, o resultado foi satisfatório. No entanto, ele reconheceu que ainda é preciso avançar, principalmente no Nordeste. ;Ainda existe uma avenida enorme pela frente, mas temos a sensação de que estamos reduzindo as disparidades entre as redes de ensino e as escolas;, comentou.
Com o índice 8,2, a unidade de ensino de melhor desempenho do país foi o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fundado em 1958. Em segundo lugar, com um ponto a menos, o Colégio Militar de Salvador. A Escola Estadual Eunice Weaver, em Belém, amargou o pior resultado. Em 2005, a escola obteve o índice 3,0. Dessa vez, despencou para 0,1.
Na lista das 27.119 escolas de 5ª a 8ª série avaliadas em todo o Brasil, o DF aparece na 9ª colocação, representado pelo Colégio Militar de Brasília, que atingiu 6,7. Depois, só no 223º e no 439º lugares, com o Centro de Ensino Fundamental da 104 Norte ; 5,4 - e o CEF Polivalente 5,2, respectivamente.
Sete das 10 primeiras colocadas do DF estão no Plano Piloto (veja lista completa na página 38). No topo, o Colégio Militar, o CEF da 104 Norte e o Polivalente (913 Sul) foram acompanhados do CEF Santos Dumont (Santa Maria), CEF 01 (106 Sul) e CEF 05 (408 Sul) de Brasília. Das 10 escolas com menor índice, apenas uma está no Plano ; o CEF 01 do Cruzeiro. O Centro Educacional 04 do Guará e o CEF 519 de Samambaia ocuparam as duas últimas posições. Ambos atingiram a média de 1,7.