Cidades

Escolas dão lições de boa educação

Colégio militar teve o melhor Ideb de 5ª a 8ª. Escolas do Guará e de Samambaia estão em último

postado em 22/06/2008 08:59
Lição número 1 tirada das planilhas de 5ª a 8 ª séries que compõem o Indicador de Desenvolvimento de Educação Básica, o IDEB, divulgado ontem pelo Ministério da Educação: colégio bom não combina com violência. As paredes velhas e pichadas balançam, a polícia prende estudantes acusados de furtos, professores sentem medo. Essa é a rotina do Centro Educacional 04 do Guará. Ali, o clima foi de resignação quando a diretora Janaína de Melo soube do resultado do Ideb. ;Perguntaram se eu era louca quando, em janeiro, assumi o ;patinho feio; da regional de ensino. Acho que sou;, disse Janaína, 29 anos, e com uma baita responsabilidade nas costas. A escola teve a pior média do Distrito Federal empatada com o Centro de Ensino Fundamental 519 de Samambaia. As duas marcaram 1,7 pontos, cinco a menos do que o melhor desempenho do DF, o do Colégio Militar de Brasília, e muito distante dos 8,2 pontos da campeã nacional, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife. Os vencedores de Brasília e o do Brasil vivem de verbas federais, característica comum às cinco primeiras colocadas do país. O ultimo lugar está em Belém do Pará. É a Escola Estadual Eunice Weaver, dono do pífio índice de 0,1, bem pior do que a performance dos adolescentes do Guará e de Samambaia. Acima de tudo seus boletins espelham uma garotada com baixa auto-estima. Já nos primeiros dias de aula de 2008, os professores perceberam que não adiantaria despejar novos conteúdos de português, matemática, história e geografia para os alunos. Eles estavam desmotivados, cansados, sem base para aprender coisas novas. A direção, então, começou uma campanha pela auto-estima. Daqui a duas semanas, haverá a segunda edição do Dia da Auto-estima. Os adolescentes vão cantar, dançar, tocar, mostrar seus talentos. A intenção é provar que eles podem fazer muito mais do que brigar na hora do recreio e pichar os muros da escola. ;Eu vou ser advogado! Mas tenho uma preguiça de estudar. Sei lá. Não gosto, não entendo;, diz, com sinceridade, Igor de Moraes, 14 anos. Suas notas primeiro bimestre: 4,9 em português, 2,5 em matemática. ;Tô tentando melhorar;, conta. Lição número 2 Lugar de professor é na escola. E de pais também Por ali, pais não aparecem nem para buscar o boletim dos alunos. ;Me diga: como que trabalho sozinha? O que posso cobrar de um aluno se o pai não está nem aí?;, questiona angustiada a professora de matemática Eliane da Silva, 46 anos. É muito esforço. Por isso tantos professores ficam pelo caminho. Adoecem. Faltam. Desistem. ;Aí os alunos ficam sem aula mesmo;, lamenta a diretora do CEF 519 da Samambaia, Hilária Soares. "Tem que trabalhar por amor;, desabafa a professora, Andréa Gonçalves, 33 anos. Ela já teve o celular roubado por um aluno e, no último mês, separou duas brigas dentro de sala. Para chegar ao pátio do CEF 519 da Samambaia, é preciso passar por três portões. Dois deles ficam trancados com cadeado. Do contrário, os alunos fogem. A maioria não gosta de ir à escola. Só vai porque é obrigada ou por causa do lanche no meio da manhã ; refresco e biscoito de sal. ;Quero ser jogador de futebol. Não precisa estudar;, deixa escapulir Walliston Nascimento, 14 anos, com gel no cabelo e tênis de molinha nos pés. Lição número 3 Bom aluno adora ir para a escola Assim, parece exagero ouvir do diretor do CEF Polivalente, Fábio Sousa, que nem um de seus alunos vai a escola por obrigação. Mas não é. A unidade de ensino, na 913 Sul, é referência. Sustentou a terceira posição do DF com 5,2 pontos, logo atrás do CEF da 104 Norte, segundo colocado com 5,4. Neste ano, pelo menos 500 mães não conseguiram matricular os filhos no Polivalente. A lista de espera teve de ser suspensa. ;Foi uma glória conseguir vaga aqui;, lembra Isabela Venâncio, da 8ª série, que antes estudava na Ceilândia, onde mora. Lá, só tinha duas aulas por dia. Faltava professor para o restante. Agora, Isabela estuda em horário integral, de 8h as 16h30. Almoça na escola, tem aulas de reforço à tarde, participa de projetos ambientais e que estimulam a leitura e o raciocínio lógico. Lição número 4 Endereço rico não é sinônimo de nota alta. Mas infra-estrutura é essencial O DF caiu uma posição no ranking nacional na avaliação de 5ª a 8ª séries, se comparado ao resultado de 2005. Dessa vez ficou em quarto, com média menor do que Paraná, São Paulo e Santa Catarina. A disparidade entre as escolas do Planto Piloto e as demais é assustadora. Entre as 10 primeiras, sete estão no Plano. Das 10 últimas, apenas uma. ;O Plano é uma área nobre. Imagina se alguém chega de fora e ver uma escola por aqui ruim e destruída. Vai pensar o quê?;, tenta explicar o contraste Rafael Gonçalves, 14 anos, aluno do CEF da 104 Norte. Nos muros da escola de Rafael não há pichações. As salas são ventiladas, as carteiras estão conservadas, e os professores orgulhosos. ;Os pais nos procuram porque sabem que temos algo diferente;, comenta a professora de matemática, Vera Lúcia Bremmer, 57 anos, há 23 na rede de ensino do DF. Professores motivados, alunos motivados. ;Dá orgulho, sabe? As pessoas perguntam: ;Onde você estuda?; Aí eu respondo: ;Na 104 Norte, a melhor do DF;;, conta toda empolgada Irlana Nunes, 14 anos. Para a secretária adjunta de Educação, Eunice Santos, a desigualdade não pode ser vista como um problema. Na avaliação dela, cada escola precisa ser encarada de maneira individual. ;A questão do ranking é uma coisa que a gente não gosta. As escolas são diferentes. É natural que seja assim;, comenta. Os dados do MEC ainda serão analisados pela Secretaria de Educação, mas Eunice adianta: ;As escolas com pior desempenho terão, sim, atenção especial, mas é a proposta é tratar todas de maneira igual, respeitando as diferenças;. Confira a lista completa com desempenho das escolas de todo o País: http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_4_serie_escolas.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_4_serie_municipios.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_8_serie_escolas.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_8_serie_municipios.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_brasil.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_brasil_5_a_8.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_brasil_ate_4.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_uf_e_regiao_4_a_8.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_uf_e_regiao_ate_4_serie.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/junho/divulgacao_uf_e_regiao_ensino_medio.pdf

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