postado em 30/06/2008 08:46
Diferentemente do anunciado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, a Polícia Federal ainda não entrou no caso da morte de Jaiya Pewewiio Tfiruipe Xavante, 16 anos, assassinada quarta-feira (25/06) em um abrigo de índios, no Gama. Até este domingo (28/06) a investigação se concentrava na 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte). Segundo a assessoria da PF, não se sabe nem onde o inquérito será instaurado. Os agentes brasilienses encontram dificuldades em ouvir as principais testemunhas. A corporação se recusa a mandar uma equipe à aldeia São Pedro, no município de Campinápolis (MT), onde a menina morava e está a tia dela, suspeita de envolvimento no crime. Ela estava com a menina no momento das agressões.O delegado Antônio Romeiro, chefe da 2; DP, espera a participação dos agentes federais a partir de hoje para ouvir a tia da vítima, Maria Imaculada Xavante. Jaiya morreu em decorrência de complicações geradas por perfurações no ânus e na vagina, sofridas na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) do Distrito Federal, que fica às margens da BR-060 (Brasília-Goiânia). A menina tinha problemas neurológicos e motores por causa de uma meningite contraída na infância e fazia tratamento no Hospital Sarah Kubitschek desde 28 de maio.
O delegado Romeiro não foi encontrado ontem para dar entrevista. No sábado, ele pediu cautela. Disse que o caso envolve uma cultura desconhecida e, por isso, era imprudente acusar a tia da menina antes do fim da investigação. A linha de trabalho, no entanto, é mesmo a de que a tia tenha matado Jaiya. Agentes investigam a possibilidade de ela ter recebido a ajuda de outro índio abrigado na Casai.
A mãe, Carmelita, e a tia, Maria Imaculada, são casadas com o mesmo homem. A polícia trabalha com a hipótese de a morte ter sido um ato de desespero da tia provocado por ciúmes. Os investigadores sabem que Maria Imaculada era rejeitada pelas outras índias por ser fanha. Sabem também que, no tempo em que permaneceram em Brasília, Carmelita saía para mendigar na cidade acompanhada de outras índias, enquanto a tia era obrigada a ficar com Jaiya.
Luto
O corpo da menina foi enterrado no fim da manhã de sábado na aldeia São Pedro. Como sinal de luto, é costume entre os xavantes cortar o cabelo de parentes da vítima. Nos dias que seguem ao funeral, os índios comem menos, evitam fazer barulho e choram muito para externar a dor da perda. A família costuma receber visitas de outros índios, que levam bolo como gesto de solidariedade.
A aldeia fica a cerca a 660km de Cuiabá e a 60km de Campinápolis. Abriga cerca de 500 índios. Eles têm pouco contato com o homem branco e vivem da plantação de arroz, mandioca, milho e frutas. Existe uma escola municipal na aldeia, coordenada pelos índios e por duas freiras. Também há um ponto de apoio da Funasa, onde o pai de Jaiya, Adriano Tsererawawau, trabalha no setor de enfermagem. Em 2004, ele candidatou-se a vereador de Campinápolis. Recebeu 83 votos e não conseguiu se eleger.
A morte de Jaiya é o assunto mais falado nas ruas de Campinápolis e Barra dos Garças, cidades mais próximas a aldeias. ;Está todo mundo chocado com a história e querendo descobrir logo quem fez isso;, contou o administrador da Funai em Campinápolis, Pedro Tsiruiti, que também é xavante.