Cidades

Lei seca esvazia bares e lota táxi

Enquanto motoristas comemoram aumento do movimento após a lei seca, donos de bares começam a reclamar de prejuízos

postado em 01/07/2008 07:53
Os primeiros efeitos da nova legislação sobre o consumo de bebidas alcoólicas antes de dirigir começam a ser sentidos pela população. O medo da fiscalização mais rigorosa levou muitos motoristas a buscarem alternativas na hora de voltar para casa após as noitadas em bares e festas. As principais estratégias são recorrer a caronas com amigos ou familiares e táxis. Muitos táxis. Os veículos passaram a fazer filas em frente aos bares e às casas de festas durante a madrugada. A cena se repete principalmente no Plano Piloto. Levantamentos de uma empresa de rádio-táxi mostraram aumento de chamadas nas asas Sul e Norte, lagos Sul e Norte e no Sudoeste. Os donos de estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas, por sua vez, começam a reclamar, alegando que o movimento tem ficado abaixo do normal. A central de rádio-táxi, que atende todo o Distrito Federal, registrou um crescimento de arrecadação entre 30% e 35% no mês de junho. Dados coletados pela gerência revelam que os taxistas passaram a ser mais requisitados nos períodos noturnos, das 20h às 3h, em pontos onde funcionam estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas. O movimento é maior de quinta-feira a domingo, quando o número de chamadas cresce em até 42%. Mas, de segunda a quarta-feira, há um acréscimo de 30%. Outra empresa do setor registrou aumento de 10% na arrecadação durante o mês de junho. ;Os motoristas têm ficado contentes com a situação. A maioria dos clientes nos procuram por medo de sofrerem punições. Alguns chegam a questionar os funcionários a respeito de onde estão ocorrendo as blitzes, mas passamos orientações para que os taxistas não repassem esse tipo de informação;, afirmou Paulo Sérgio Ilha, gerente de uma das empresas consultadas. Ele acredita que o ;crescimento vertiginoso; nos negócios deve se repetir em julho. Mas muitos motoristas e empresas da categoria não se encontram tão confiantes. ;Não sabemos se o aumento registrado em junho deu-se devido à lei seca ou por conta das festas desta época do ano. Precisamos esperar um pouco mais para analisar os dados;, justificou Célio Batista de Araújo, presidente de outra central de rádio-táxis. O taxista Daniel de Assis, 58 anos, conseguiu lucrar de 5% a 10% a mais do que o normal nos primeiros dias de lei seca. Mas acredita que a boa sorte tem os dias contados. ;Tenho atendido mais essa garotada que vai para as baladas. Só que daqui a pouco eles se acostumam e voltam a ir para as festas de carro, sem preocupação com polícia. São pessoas que não bebem muito e acham que não têm por que temer as autoridades;, disse. Contudo, enquanto o temor da punição perdura, o taxista vai colecionando histórias para contar. Como a do grupo de amigos, ;barbados e encaminhados na vida;, que foram deixados pelos pais no bar e tiveram que voltar para casa de táxi. O Sindicato dos Motoristas Autônomos de Táxi do DF nega qualquer aumento de arrecadação. ;Nossa expectativa é de que aumente, mas não tivemos registro disso ainda. O fluxo continua o mesmo;, afirmou a presidente da entidade, Maria Bonfim Santana. ;Em julho, o movimento costuma cair devido ao recesso no Congresso. Mas esperamos que essa nova lei venha a nos favorecer;, concluiu. Prejuízo Do outro lado da equação, bares e restaurantes têm reclamado da queda de movimento. Proprietários, gerentes, caixas e garçons confirmam: os estabelecimentos não estão mais tão cheios e os clientes saem cada vez mais cedo. ;As vendas caíram para menos da metade no último fim de semana. Tive que demitir quatro funcionários e, se continuar assim, posso ter que mandar mais gente embora;, desabafou Albano Rocha Ribeiro, 54 anos, dono do bar e restaurante Bierfass, no Pontão. Ele reclamou que a fiscalização passa freqüentemente pelo local, espantando os clientes. ;O estacionamento tem amanhecido cheio de carros de pessoas que arranjaram outros modos de voltar para casa. Teve até o caso de um garçom que dirigiu para um cliente para passar da fiscalização e retornou a pé para cá;, contou. ;São pessoas que tomam duas ou três cervejas. Não ficam embriagadas. Mas é o suficiente para disparar o bafômetro;, emendou. No Libanus, um dos bares mais movimentados da Asa Sul, as conseqüências da nova lei também foram sentidas. O gerente Jurandir Pereira Marins, 47, afirmou que teve uma queda de 40% no movimento no último fim de semana. Segundo ele, às 22h de sábado, quando o bar costuma receber mais clientes, muitos já pediam a conta. O estabelecimento estava praticamente vazio por volta da meia-noite. ;A lei seca alterou o comportamento das pessoas. Se a nova regra persistir, vai ser preciso pensar em alternativas para contornar a situação, como bares-hotéis;, brincou. Jurandir percebeu que muitos clientes encontraram jeitos criativos de evitar sair de carro do bar. ;Tenho dois amigos que têm ligado para as esposas no fim da noite para que elas venham pegá-los. Além disso, as filas de táxi em frente ao bar aumentaram bastante;, detalhou. ;Mas a frota de táxis do DF é velha, com taxistas desqualificados e o serviço é muito caro;, atacou. A quantidade de taxistas parados em frente ao bar também chamou a atenção do garçom Paulo Gomes da Silva, 31 anos: ;Sexta-feira bateu recorde. Tinha mais de 20 veículos parados à espera de clientes;.

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