postado em 13/07/2008 23:22
É água que não acaba mais: cada morador do Lago Sul consome, em média, mil litros por dia. O bairro lidera o ranking de consumo no Distrito Federal, no Brasil e, segundo especialistas, se aproxima dos locais que mais gastam água em todo o mundo. Na seca, para não deixar os jardins com aparência de deserto e garantir a piscina cheia, a população abusa e o desperdício aumenta. A área mais nobre de Brasília só não corre o risco, a curto prazo, de ficar com as torneiras vazias porque a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) altera a distribuição toda vez que o abastecimento do bairro fica ameaçado.
O consumo no Lago Sul nos últimos 12 meses superou em mais de cinco vezes o considerado suficiente em centros urbanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Também foi quase cinco vezes maior do que a média do DF, que é de 248 litros por habitante/dia. Se comparado ao Riacho Fundo I e II, onde cada morador gasta, em média, 114 litros por dia ; o menor consumo do DF ;, o número é 10 vezes maior. Em São Paulo, depois das campanhas de racionamento, a média hoje fica em torno dos 150l. No bairro paulistano de maior consumo, o Brooklin, não passa de 600. Na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde o carioca mais gasta água, o consumo médio é de 580l.
Acostumado a lidar com esses números, o professor da pós-graduação em tecnologia ambiental e recursos hídricos da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide sempre soube que no Lago Sul o consumo era assustador. A média de mil litros no último ano, no entanto, o pegou de surpresa. ;Não há outro lugar no mundo que consuma essa quantidade de água. Talvez apenas em Beverly Hills, nos Estados Unidos;, afirmou. Na avaliação do especialista, a situação exige urgente mudança de comportamento dos moradores: ;O DF não tem tanta água à disposição. Se alguém consome demais, outro será prejudicado;.
Desvio
A Caesb precisou remanejar a distribuição de água deste ano para não comprometer o abastecimento do Lago Sul. Água que iria para o Plano Piloto teve de ser desviada para o outro lado do Lago Paranoá. As asas Sul e Norte, garante a Caesb, não foram prejudicadas porque, apesar das manobras, houve aumento no volume produzido na Estação de Tratamento de Água de Brasília. ;No Lago Sul, a gente trabalha no limite, na capacidade máxima de distribuição;, alerta o engenheiro e analista operacional da Superintendência de Produção de Água da Caesb Ulisses Assis Pereira.
A média registrada pela companhia envolve o volume de água roubada e os vazamentos, o que não ameniza o consumo exorbitante no bairro, cuja população é estimada em 28 mil pessoas. Cerca de 90% das casas têm piscina. É impossível encontrar um lote que não preserve a área verde, por menor que seja. ;Mas não existe desperdício. A conta de água é cara e nem todo mundo que mora aqui é milionário;, argumentou a vice-presidente da Associação de Moradores do Lago Sul, Edilamar Batista.
A reportagem do Correio passou uma tarde circulando pelas ruas do Lago Sul e flagrou cenas de desperdício. Em vários conjuntos, a água que saía de mangueiras esquecidas abertas escorria pela pista. Até telhado de casa era lavado na QL 24. Em outra, a irrigação do jardim já durava 30 minutos. ;Isso aqui vai ficar até o fim do dia. Desperdiça água mesmo;, assumiu o caseiro. ;Aqui, cumpro ordens. Mandou lavar, eu lavo;, justificou o trabalhador de outra casa, que varria a garagem com a torneira ligada.
Conta alta
Na casa da aposentada Dinalra Nogueira, 59 anos, o esforço para economizar ainda não reduziu o valor da conta, que chega às vezes a R$ 400. Ela diz que vai continuar tentando. A água da piscina não é trocada há um ano. Toda semana o caseiro limpa, põe cloro e aproveita parte do volume que seria despejado para regar as plantas. As roupas só entram na máquina de lavar quando acumulam muito. ;São coisas simples no dia-a-dia que podem fazer a diferença;, acredita Dinalra. A filha Déborah, 19, jura que não passa mais de 15 minutos embaixo do chuveiro. ;Juro! Sou super- consciente com essas coisas;, comentou a estudante.
A seca faz com que os moradores usem mais água. Entre julho e outubro, o consumo no Lago Sul, como em todo o DF, atinge o pico. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Ambiental da UnB Henrique Leite Chaves, tem chovido menos a cada ano. Menos chuva, lembra ele, significa rios mais secos e, assim, menos oferta de água para a população. ;Isso é uma agravante de uma demanda cada vez maior. Moradores e governo têm que começar a se preocupar;, sustenta Chaves, especialista em recursos hídricos.
Como economizar
Não deixe a torneira aberta enquanto ensaboa as mãos, escova os dentes ou faz a barba. Uma torneira mal fechada pode desperdiçar 46 litros de água em um dia.
Evite banhos demorados. Ao ensaboar-se, desligue o chuveiro. Reduzir um minuto do banho pode gerar economia de até seis litros de água.
Dê preferência às caixas de descarga no lugar das válvulas. Instale torneiras com aerador ; ;peneirinhas; na saída da água.
Lave louças e verduras em uma bacia com água e sabão e abra a torneira só para enxaguar.
Lave de uma vez toda a roupa acumulada. Use a máquina de lavar com carga máxima e tome cuidado com o excesso de sabão para evitar mais enxágües.
Regue o jardim de manhã cedo ou à noite para reduzir a perda por evaporação. Molhe a base das plantas, não as folhas. Cultive plantas que necessitam de pouca água (bromélias, cactos, pinheiros, violetas).
Armazene água da chuva em recipientes colocados na saída das calhas ou na beirada do telhado e depois use-a para regar as plantas.
Fonte: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Torneira aberta
Locais que mais consomem no DF
Lago Sul ; 1000 litros de água por habitante/dia
Lago Norte ; 607 litros por habitante/dia
Park Way e Núcleo Bandeirante ; 368 litros por habitante/dia
Outras cidades
São Paulo (capital) ; 150 litros por habitante/dia
Rio de Janeiro (capital) ; 390 litros por habitante/dia
Belo Horizonte (MG) - 162 litros por habitante/dia
Bairros
Brooklin (SP) ; 600 litros por habitante/dia
Jardim América (SP) - 560 litros por habitante/dia
Zona Sul do Rio ; 580 litros por habitante/dia
Fonte: Caesb e companhias estaduais de água e esgoto