postado em 14/07/2008 08:40
Comparação da violência nos primeiros quadrimestres de 2007 e 2008 revela que o Plano Piloto ainda sofre com o crescimento de crimes graves na região. Seqüestro relâmpago, homicídio e roubo em comércios e em postos de gasolina continuam em curva ascendente. Mesmo assim, houve diminuição na maioria dos delitos tipificados pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal na área central da capital do país. As quedas ocorreram em 15 dos 25 listados pelo órgão. Entre eles, lesão corporal, estupro e roubos de veículos e em residências.
Os números também reforçam a idéia de que Brasília provoca atração em assaltantes pela oferta de patrimônio. Nas asas Sul e Norte, concentram-se moradores de médio e alto poder aquisitivo e lojas com produtos mais caros. ;Nessa região, há riquezas e, como em qualquer outra cidade, registra mais crimes contra o patrimônio;, observou o subsecretário de Operações de Segurança Pública, coronel Marcos Aurélio de Oliveira Ramos. A Secretaria de Segurança Pública do DF já está agindo. ;Estamos recorrendo a parceria com sindicatos (dos postos de gasolina e do varejo) e reforçando o policiamento para diminuir os índices;, reiterou o coronel.
Dos crimes que cresceram na área central do Plano, chamam a atenção os assaltos em postos de combustíveis. O problema é antigo e desafia as autoridades de segurança do DF há anos. Houve 55 casos nos primeiros quatro meses de 2007. E 60 no mesmo período deste ano. Só na Asa Norte ocorreram 29. O mais recente, na 405 Norte. Três assaltantes atacaram o local por volta das 4h50 do último dia 9. Passaram-se por clientes que queriam abastecer um Vectra com R$ 70 em gasolina. Mas o frentista acabou rendido com uma arma logo depois de completar o serviço.
O trio o levou para trás da loja de conveniências. O funcionário ficou na companhia de um deles, enquanto os demais quebravam o cadeado do lugar. Fugiram com cigarros, chicletes, balas, microondas e R$ 109 do empregado. ;Acho que não levaram mais coisa porque uma viatura da PM passou em frente ao posto. Foi o quinto assalto aqui só neste ano;, reclamou o gerente do posto da 405 Norte, Marcos Marinho.
A quantidade de assaltos a postos na Asa Sul alcançou 26 no primeiro quadrimestre deste ano ; outros cinco ocorreram na região central, de responsabilidade da 5ª Delegacia de Polícia. Um dos últimos em 25 de maio. O posto de gasolina da 305 Sul sofreu o ataque de um bandido armado por volta de 15h30. ;Ele pediu uma Coca-Cola e pagou com R$ 10. Ao procurar por troco, mostrou uma arma e anunciou o assalto. Fugiu com R$ 258 do caixa;, contou o frentista Joselito Raimundo dos Santos, 38.
Quadrilha
Outro crime que assusta a população do Plano Piloto e continua em ascensão é o seqüestro relâmpago. Foram quatro casos nos primeiros quatro meses do ano passado e 11 no mesmo período de 2008 ; cinco na Asa Norte e seis na Asa Sul. Os números cresceram mesmo com a prisão de uma quadrilha brasiliense especializada no delito em abril de 2007. Cinco homens e duas mulheres acabaram detidos por agentes da Divisão de Repressão a Seqüestro (DRS) um dia depois de raptar e extorquir um senhor de 53 anos em Sobradinho.
Uma das dificuldades da polícia em combater o crime está na característica das ações. Os seqüestros relâmpagos praticados no Plano Piloto acontecem geralmente por situações em que as próprias vítimas se expõem. É o namoro dentro do carro ou a demora em deixar o veículo. Um dos três casos registrados na Asa Sul em 2007 ocorreu no Parque da Cidade. Um médico se viu abordado por dois bandidos na madrugada de um sábado no estacionamento do Pavilhão de Exposições. Foi agredido, mas escapou ao fazer gestos para a polícia.
Assim como o seqüestro relâmpago, aumentaram os índices de homicídio em Brasília. Subiu de quatro para sete na comparação entre janeiro e abril de 2007 e 2008. O crescimento dos assassinatos incomoda a Secretaria de Segurança Pública do DF, pois os índices também sobem em outras regiões administrativas.
Na Asa Norte, houve três assassinatos e um latrocínio (roubo seguido de morte) no primeiro quadrimestre do ano. Um deles, em 22 de fevereiro na 708/709 Norte. Três jovens mataram a facadas o travesti Luís Antônio das Neves Conforte, 43 anos. Os acusados entraram no apartamento da vítima a pretexto de fazer um programa, mas, segundo a polícia, interessados em roubá-lo. Além de Luís Antônio, o também travesti Aurélio Batista recebeu uma facada. Mas sobreviveu. O trio acabou preso duas semanas depois.
Patrulha ostensiva
Os assaltos aos comércios de Brasília ; asas Sul e Norte ; é um dos crimes em crescimento na comparação dos primeiros quatro meses de 2008 com o mesmo período do ano passado. O aumento nos casos, de 45 para 61, provocou recentemente reação da Secretaria de Segurança Pública do DF. A mais imediata determinou a intensificação do policiamento ostensivo nas áreas mais visadas pelos ladrões. A medida saiu após duas reuniões emergenciais entre representantes do órgão de segurança e do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF).
Uma das comerciais a receber o reforço policial é a 304/305 Sul, onde houve três casos em 12 dias. Por meia hora, os quatro funcionários e uma cliente de uma das lojas atacadas ficaram sob a ameaça de dois bandidos armados. ;Eles se passaram por clientes, experimentaram roupas e depois anunciaram o assalto. Quando uma compradora apareceu, um deles ainda tentou se passar por vendedor. No fim das contas, fugiram com várias roupas, celulares de todos e a carteira e jóias da cliente;, contou um dos vendedores, que não quis se identificar.
A rotina do comércio mudou desde então. Funciona agora um sistema de monitoramento por vídeo, com sete câmeras espalhadas pelo local. O horário de atendimento diminuiu em uma hora. Antes do roubo, o estabelecimento comercial fechava às 20h. O que mais sofreu alteração, porém, foi o comportamento dos funcionários. ;Atendemos hoje com muito mais insegurança, pois a confiança diminuiu;, contou o mesmo empregado que preferiu o sigilo.
Diminuição
Apesar do crescimento nos assaltos em comércio e em postos de gasolina, houve queda em cinco das 10 modalidades de roubo no Plano Piloto. Em residências, por exemplo, não houve registros nas delegacias das asas Sul e Norte nos primeiros quatro meses do ano. Os roubos de veículos caíram de 52 para 35 casos. Já os em ônibus estagnou em 10 na comparação de janeiro a abril de 2007 e 2008. Também caíram na região central de Brasília todos os furtos tipificados pela Secretaria de Segurança Pública do DF.
A diminuição dos casos se deve em parte às novas ações de segurança pública na Asa Sul. Desde 29 de abril, o 1ª Batalhão de Polícia Militar (BPM), da Asa Sul, reimplantou a antiga Rocan (Rondas Ostensivas Candanga). Baseou-se nos dados da Secretaria de Segurança Pública ; obtidos a partir das ocorrências registradas pelas vítimas ; para concentrar policiais militares nos pontos mais críticos. O policiamento comunitário no Plano Piloto também é um aposta. Serão 14 na Asa Sul ; um deles funciona na 216/416 Sul. A reportagem não encontrou o comandante do 3ª BPM, da Asa Norte.