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Apenas 46 motoristas foram multados em Goiânia

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postado em 27/07/2008 08:37
;Eu sou a favor. Tem que ter mesmo. Já reduziram muito os acidentes por causa da lei seca. ;Mas você está bebendo e vai dirigir, né? ;É porque não estão arrochando. Entre um gole de cerveja e outro, a conversa travada por um casal de namorados em um bar de Goiânia, na madrugada da última quinta-feira, ilustra bem como a lei seca tem sido tratada na capital vizinha. Vitor Ugo de Castro, de 27 anos, e Monique Ferreira, 21, reconhecem os benefícios da legislação que impede a parceria entre volante e consumo de álcool. Mas confessam que, sem a ação dos fiscais, fica difícil abandonar um hábito tradicional da cidade. ;Aqui temos muitos bares e boates. Semana passada, fui a Brasília e fiquei surpreso quando um dos amigos sugeriu que tirássemos na sorte quem não iria beber. Aqui, o povo está bebendo do mesmo jeito;, diz o dono de uma copiadora. A observação do jovem empresário, motorista naquela noite, é comprovada pelas estatísticas. De 20 de junho, quando a Lei nº 11.705 entrou em vigor, até a última quinta-feira, o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar autuou 46 motoristas. Em Brasília, 174 multas foram aplicadas no primeiro mês de vigência da lei. Só no final de semana passado, foram 24, mais da metade do que os policiais goianos aplicaram nesse período. Enquanto a polícia daqui monta operações para flagrar condutores embriagados, os agentes de lá adotam o discurso da educação e da normalidade. ;Não fazemos operações exclusivas por conta da lei seca. É até um desperdício de pessoal. O artigo 77 do Código de Trânsito diz que o condutor tem que ser submetido ao bafômetro quando houver sinais de embriaguez;, justifica o major Lucimar de Oliveira Mesquista, responsável pelo Batalhão de Trânsito. ;Montamos uma campanha em que vamos aos bares com bafômetros descartáveis e não deixamos que as pessoas que estão bêbadas dirijam;, diz Aldeman Cavalcante Tonhar, diretor interino de fiscalização da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT). A campanha de conscientização está suspensa porque faltam bafômetros descartáveis. Dos 1.000 equipamentos comprados, 250 foram enviados à SMT, mas já foram utilizados. Vinculada à prefeitura de Goiânia, a superintendência é responsável, junto com o Batalhão de Trânsito da PM, pela fiscalização das leis de trânsito na capital. A equipe de 134 agentes têm apenas um bafômetro para fiscalizar a cidade com mais de 800 mil veículos. O outro está em manutenção em São Paulo e não há data prevista para a devolução. Desde que a lei seca entrou em vigor, nenhum motorista foi multado pela SMT. ;Quem faz mais autuações desse tipo é a Polícia Militar, porque eles atendem os acidentes mais graves;, justifica o diretor de fiscalização. A superintendência cuida dos acidentes de trânsito sem vítimas, que, segundo Aldeman, diminuíram cerca de 30% depois da lei seca. Férias O número é o mesmo apresentado pelo Hospital de Urgências de Goiânia com relação à quantidade de atendimentos. ;Ainda tenho certa relutância em atribuir toda essa redução à lei seca. Estamos em um período de férias;, pondera Luciano Leitão, diretor-geral do hospital. Gerente do bar Escritório do Chefe, João Antônio Silva também acredita que o atual período não é o melhor para avaliar os reais efeitos da lei. No estabelecimento, montado há um ano e meio em Goiânia, o movimento caiu em torno de 40%. ;Acho que, depois do recesso, vai aumentar. E não vejo as pessoas pensando em alternativa por conta da proibição;, diz. Serviços como o Escolta Amiga ou a oferta de bares e restaurante para deixar o cliente em casa ainda não existem em Goiânia. E há quem, mesmo sem conhecê-los, questione a facilidade. ;Como é que vou deixar que um desconhecido leve o meu carro?;, pergunta a estudante de publicidade Maria Mascarenhas, de 21 anos. Ela e um grupo de amigas bebiam calmamente em bar de Goiânia na madrugada da última quinta-feira. ;Vou dizer a verdade: a maioria de nós está bebendo e todo mundo vai voltar para casa dirigindo. Poucas pessoas mudaram o hábito aqui em Goiânia;, diz Maria. A única facilidade que Vinícius Resende e Stephane de Paula conhecem são as dicas dos seguranças das boates que freqüentam. ;Quando a gente está saindo, eles avisam onde estão a blitzes;, diz a estudante de 19 anos.

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