postado em 27/07/2008 09:43
Os microônibus começaram a circular ontem, sábado (26/07) no Distrito Federal, mas tiveram que disputar espaço e passageiros com as vans. Apesar da proibição do governo local, os permissionários do Sistema de Transporte Público Alternativo (STPA) conseguiram uma liminar da Justiça do Trabalho e permaneceram nas ruas. O GDF, porém, quer acabar com a convivência entre os dois meios de transporte e se prepara para recorrer da decisão judicial já nesta segunda-feira.
Com a liminar, o secretário de Transportes, Alberto Fraga, decidiu liberar a circulação das vans. ;Eu cumpro decisões judiciais. O movimento é menor no final de semana e vamos deixar que elas rodem. A população vai agradecer. Com as vans e os microônibus, esse é o final de semana mais bem servido em termos de transporte;, afirmou. Fraga ressaltou, porém, que a fiscalização seria rigorosa ; três vans foram lacradas por estar com pneus carecas ; e avisou que vai recorrer da decisão judicial. ;Embora não tenha sido notificado, vamos buscar a cassação da liminar. Nosso departamento jurídico vai trabalhar em conjunto com a Procuradoria do DF;, contou.
A universitária Betullia Mariano de Oliveira, 27 anos, elogiou o início da circulação dos microônibus. Ela pegou o transporte para ir do condomínio Morada dos Nobres onde mora ao salão de beleza em Sobradinho. Não precisou esperar nem 10 minutos. ;As vans são um horror. Não tem lugar para segurar, eles colocam mais gente do que o carro suporta, o pessoal vai em pé;, disse.
Para atrair passageiros, algumas vans até baixaram o preço da passagem para concorrer com os microônibus. O clima não foi tão amistoso. Motoristas bateram boca e pelo menos cinco microônibus foram apedrejados. Não houve feridos. Na maior parte da cidade, não foram registrados tumultos. O sábado serviu de teste para os microônibus e passageiros, que começaram a se adaptar ao novo sistema.
Enquanto circulavam lado a lado, os motoristas se estranharam. No terminal de ônibus de Samambaia Sul, usuários do transporte coletivo presenciaram uma discussão entre 15 operadores dos dois grupos. No Setor O, em Ceilândia, um microônibus da Cooperativa de Transporte Alternativo do Recanto das Emas foi apedrejado no momento em que ia para a rua. ;Estava saindo do terminal vazio quando vi dois homens atirarem pedras no carro. Um deles usava uma blusa de cobrador de van. Pouco depois fomos perseguidos por um permissionário, que ficou rindo e fazendo gestos obscenos para nós;, contou o condutor do microônibus, Marcelo Hernandes de Oliveira, 28 anos. Em uma loja onde microônibus fazem manutenção, em Águas Claras, outros quatro veículos estavam com vidros quebrados. Segundo o dono da loja, um veículo foi apedrejado em Samambaia e os outros três em Ceilândia.
O presidente do Sintrafe, Fontedejan Santana, admitiu que o clima entre permissionários e motoristas dos microônibus era tenso, mas negou que os responsáveis pelos ataques aos novos veículos fossem motoristas ou cobradores de vans. ;Em assembléia, decidimos que não iríamos partir para o confronto. Os usuários estão acostumados com um meio de transporte há 17 anos e ficaram revoltados por causa da falta de ônibus;, disse. Alguns passageiros estavam com medo da briga. ;Hoje não me sinto seguro nem no ônibus nem na van;, disse Caio Felipe Sousa Ribeiro, 16 anos, que ia de Taguatinga para o Gama.
A liminar que beneficiou às vans foi concedida por volta das 22h de sexta-feira pela juíza do trabalho Érica de Oliveira Angoti, que atendeu ao pedido do Ministério Público do Trabalho. Procurado pelo Sindicato dos Permissionários (Sintrafe), o procurador Adélio Justino Lucas ajuizou uma ação baseado no Tribunal de Contas do DF, que considerou ilegal a licitação dos microônibus. ;A lei é clara com relação à saída ou permanência do STPA das ruas. Como hoje não é 31 de dezembro de 2009 nem a licitação foi concluída, não há motivo para essas pessoas perderem o emprego;, explicou o procurador. ;Queremos assegurar que o processo de transição do sistema seja feito de forma legal.;