postado em 28/07/2008 08:01
A liberdade e a adrenalina de voar entre os pássaros não têm preço. Mas exige cuidados. Na tarde de sábado (26/07), um acidente de asa-delta tirou a vida do geólogo Luís Pedro Basílio Neri, 28 anos, morador da Asa Norte. Ele voava no Vão do Paranã, em Formosa (GO) ; a 80 km de Brasília ;, quando a alça que o prendia ao equipamento arrebentou. O jovem despencou em queda livre e não resistiu ao impacto. Laudo oficial da Polícia Civil sobre as causas do rompimento sai em 30 dias. Mas análise preliminar indica que a corda havia sido alterada e a quebra se deu no ponto do remendo. Especialistas alertam para a atenção redobrada com os itens de segurança antes de praticar o vôo livre.
Conhecido pelo jeito alegre e aventureiro, Luís começou no esporte há um ano. Após o curso de formação, realizou cerca de 40 vôos. Pela quantidade de decolagens, era um piloto iniciante. ;A experiência vem com o tempo, quando se atinge uma média de 150 vôos. Mas ele era dedicado, não acredito que foi uma falha de pilotagem;, comentou Bruno Alexandre Basílio, 40, primo dele e piloto de asa-delta há três anos.
Basílio explica que agosto e setembro são esperados pelos esportistas pelas ótimas condições de vôo, com ventos fortes. Outro atrativo para Luís Neri e os amigos na tarde de sábado foi o fato de a região central do país guardar um dos melhores locais do mundo para a prática do vôo livre: a rampa do Vão do Paranã, placo dos principais campeonatos da modalidade.
Folha de papel
O presidente da Associação de Vôo Livre do Distrito Federal (AVLDF), Ricardo Ortega, 53, estava no Vão do Paranã no momento da tragédia, por volta das 14h. Ele lembra que só viu a asa-delta de Luís solta no ar, como uma folha de papel. ;Não vimos a queda, pois o pára-quedas de segurança também não abriu.;
Um helicóptero e um carro do Corpo de Bombeiros participaram das buscas pelo corpo, encontrado às 17h. Com 28 anos de experiência, Ricardo lembra que não quis voar naquela tarde por considerar as condições climáticas inadequadas. ;É um esporte que exige a avaliação de fatores como o tempo, local, equipamentos e a condição pessoal. Mas cada piloto tem o seu livre arbítrio;, ressaltou.
Para Ricardo, que acompanha os trabalhos da perícia nos equipamentos, a tragédia não ocorreu por falha humana, mas por falta de instrução. ;Havia uma nova costura na alça de sustentação do piloto, onde ocorreu a quebra. Como as correntes de vento estavam fortes (veja arte), um solavanco pode ter forçado o remendo;, observou o presidente da AVLDF.
Ricardo diz que os fabricantes dos equipamentos de segurança deixam claro que em hipótese alguma os acessórios devem ser alterados. ;Como todo esporte radical, o vôo livre tem seus riscos. Que o lamentável acidente com Luís possa servir como alerta aos praticantes;, ponderou o especialista.
O corpo do esportista deve ser cremado nesta segunda-feira (28/07). A família ainda não decidiu onde serão jogadas as cinzas. ;É costume jogá-las sobre o Vão (do Paranã), como uma homenagem. Mas os pais vão decidir;, contou o primo da vítima, Bruno Alexandre.