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Ataque de cães a menino de nove anos provocou perda de 20% de sangue

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postado em 31/07/2008 07:51
O ataque furioso de quatro cães resultou na morte de mais uma criança brasiliense. Os animais, cruzamento das raças fila e pit bull, deveriam fazer a segurança da casa onde o menino de 9 anos morava com a família, no Gama Oeste. Eram considerados cachorros dóceis e cresceram com o garoto. Mas, na manhã desta quarta-feira (30/07), sem nenhuma razão aparente, todos partiram para cima de Vitor Ribeiro de Brito. O menino passou por dois hospitais até morrer devido a um choque hemorrágico. A tragédia ocorreu em uma chácara no Setor Oeste da cidade. A propriedade abriga a casa de Vitor, um lava a jato e a residência de uma tia do menino, que deveria cuidar dele ontem cedo para que a mãe da criança (e irmã dela) fosse a uma consulta médica. Familiares acreditam que Vitor tenha sido mordido no momento em que tentava ir da casa dele para a da tia, por volta das 6h. Vítor morreu após ataqueVitor se arriscou a vencer a distância entre as duas residências, pouco mais de 10m, por ter medo de ficar sozinho ; a mãe dele, a secretária Cleonice Ribeiro dos Santos, 32, saiu para a consulta por volta das 5h30. Antes, se despediu do filho. Uma hora depois, a tia e madrinha de Vitor, Gilvânia Maria Ribeiro dos Santos, 42, avistou o corpo da criança caído em um gramado perto de casa. Próximo ao corpo estavam pedaços ensangüentados de roupa. Desesperada, a tia pegou a criança no colo. Ela chamou o filho e, juntos, eles entraram no carro da família. Com o pisca alerta do veículo ligado, percorreram os 5km que separam a chácara do Hospital Regional do Gama (HRG). O garoto deu entrada no hospital às 7h10. Apresentava cortes profundos na face, no pescoço, no tronco, no abdômen, nos braços e nas pernas. A gravidade das lesões e a falta de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica fizeram com que médicos do HRG pedissem a remoção do paciente para o Hospital Regional da Asa Sul (Hras). Levou uma hora e meia para a transferência ser autorizada. O transporte da criança foi feito de helicóptero. Ouça a entrevista com o diretor interino do Hospital Regional do Gama, Álbiton Borges, que explica que Vitor Ribeirom chegou a emergência praticamente sem vida. O menino de apenas 9 anos apresentava cortes e perfurações no rosto, pescoço, abdômen e membros superiores e inferiores. Apesar dos esforços da equipe o garoto não resistiu e morreu devido a perda excessiva de sangue. Dificuldades Policiais militares, bombeiros, médicos e funcionários do hospital ajudaram no transporte da vítima. Segundo os militares, a grande quantidade de pessoas que cercavam o HRG e a precariedade do hospital prejudicaram a remoção da criança. A aeronave decolou do Gama por volta das 11h10, cerca de 25 minutos após ter pousado no HRG. Pouco antes da chegada à Asa Sul, a criança sofreu uma parada respiratória. Era a segunda do dia. Minutos depois, já com a aeronave em solo, Vitor precisou ser reanimado novamente. A direção do Hras informou que Vitor deu entrada às 11h20. Duas equipes com 22 pessoas, entre médicos, enfermeiros e auxiliares, participaram do atendimento no Hras. A criança recebeu pelo menos duas transfusões de sangue. Mas morreu, por choque hemorrágico, 27 minutos depois de chegar ao Hras. Vitor perdeu mais de 20% do sangue. A mãe do garoto desmaiou ao saber que o filho não resistira aos ferimentos. O pai e a tia da criança também entraram em choque. Agentes da 20ª Delegacia de Polícia (Gama) recolheram as peças de roupa da criança. ;Tudo indica que foi um acidente. Mas, se confirmado o descuido no trato dos animais, os responsáveis pelos cães poderão pegar até um ano de prisão;, disse a delegada-adjunta Waleska Romcy. Os cães foram recolhidos pela Zoonoses e, durante 10 dias, serão submetidos a exames para comprovar se estão raivosos. Cidade em choque A morte de Vitor Ribeiro de Brito, 9 anos, comoveu a comunidade do Gama. ;Perdi um grande amigo;, dizia Ana Paula Alves, 15 anos, com os olhos vermelhos e o semblante triste. A jovem mora em frente ao Rancho Califórnia, onde a vítima foi atacada. Sentada na calçada onde costumava encontrá-lo, ela chorou a morte do companheiro de brincadeiras e bate-papo. Ana Paula estranhou a presença da polícia, ainda pela manhã, na casa do amigo. Logo começaram os boatos de que Vitor havia sido atacado e estava em estado grave no Hospital Regional do Gama. Uma hora depois, a confirmação da morte. ;Conheci ele quando era pequeno. Gostava de conversar sobre a escola, a vida. Era uma menino divertido;, lembrou ela, aos prantos. Ana revelou ter medo dos cães da chácara: ;Sempre que eu ia lá, eles latiam do canil. Tinha medo deles;. Vitor era uma criança querida na vizinhança. Os moradores da região disseram que ele gostava de jogar futebol e nadar na piscina da chácara onde vivia desde que nasceu. Na Escola Classe 6, onde o menino alegre e estudioso cursava a 1 ª série do ensino fundamental, alunos e professores estavam de luto. A professora Francisca Soares, 41 anos, que acompanhou o menino desde o início do ano, afirmou que ele freqüentava a escola assiduamente. Ontem, ela estava inconsolável: ;Vi ele ontem (anteontem), todo feliz, me mostrando uma foto que tirou no circo com um elefante. Contou que tinha comprado cadernos novos para este bimestre;. Segundo a professora, uma das habilidades mais notórias de Vitor era desenhar, sempre usando várias cores. Na pasta da turma, a última pintura de Vitor representava um mutirão de limpeza na escola: alunos e professores com vassouras em mãos, sob o céu azul e um sol com um sorriso de ponta a ponta. Os desenhos serão entregues à família do garoto. Enquanto aguardava atendimento na 20ª DP, a comerciante Maria Rita Araújo, 38, também se mostrava chocada com a morte do menino: ;Ele era colega do meu filho na escola. A gente fica assustada com a fragilidade da vida, né?;. O corpo da criança será enterrado nesta quinta-feira (31/07), no Cemitério do Gama.

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