postado em 05/08/2008 08:51
Os relógios digitais instalados no Eixo Monumental lembram que nesta terça-feira (05/08) faltam 624 dias para a festa de 50 anos da capital da República. Se não quiser passar vergonha diante da multidão de turistas que espera atrair, o governo terá de correr. Muita coisa precisa ser feita para melhorar a aparência e a infra-estrutura dos principais pontos turísticos da cidade. Nos cartões-postais, Catedral, Teatro Nacional, Igrejinha, Torre de Televisão e Praça dos Três Poderes estão impecáveis. A realidade, no entanto, é outra. O Correio foi a cinco dos lugares mais visitados de Brasília e constatou problemas graves.
Os monumentos sofrem com ferrugens, rachaduras e infiltrações. Faltam banheiros adequados e informação aos turistas. ;Não sei o que é cada coisa aqui;, disse a estudante de Salvador (BA) Laysse Porto, 19 anos, em visita à Praça dos Três Poderes na semana passada. Laysse não viu, mas tem até gente morando embaixo do Panteão da Liberdade e da Democracia ; conhecido também como Panteão da Pátria. ;A praça merece cuidados urgentes. Ela está abandonada;, admitiu o diretor do Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura, José Carlos Coutinho.
Na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, eleita em julho deste ano a primeira Maravilha do Patrimônio Cultural e Material de Brasília, mais de 200 vitrais quebrados, sinos desativados e musgos no espelho d;água. A obra do artista plástico Athos Bulcão, que morreu na última quinta-feira, é desrespeitada na Igrejinha (307/308 Sul) e no Teatro Nacional. Neste, a falta de manutenção chegou ao ponto de que só a troca de todos os cubos da área externa poderá devolver a beleza às fachadas laterais.
A insegurança assusta feirantes e turistas da Torre de Televisão. Segundo vigilantes particulares, há em média cinco roubos a cada fim de semana. ;Temos apenas uma viatura para todos os pontos turísticos;, comentou o comandante do Grupamento de Policiamento Turístico da Polícia Militar, tenente Guido de Sousa Nascimento.
O presidente da Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur), César Gonçalves, reconheceu que não há um monumento de Brasília que não precise de reformas. ;Em administração pública, entre a decisão de fazer e ficar pronto existe um tempo.; A idéia é deixar a cidade pronta para os turistas até 2010, quando a capital completará 50 anos. ;É lógico que precisa haver melhorias, mas, com pequenas adaptações, Brasília estará preparada para receber os turistas na festa do cinqüentenário;, garantiu o secretário de Obras do DF, Márcio Machado.
A Brasiliatur e a Secretaria de Obras pretendem, ainda este ano, fazer a reforma do elevador e a padronização das barracas da Torre de TV. Em 2009, além da revitalização da estrutura metálica e das fontes luminosas da torre, a promessa é entregar a Casa de Chá ; ponto de apoio ao turista na Praça dos Três Poderes.
Praça dos três poderes
Quem diria. Logo ela, a praça mais pomposa do país, abandonada. À primeira vista, até parece que não. Basta, porém, um olhar um pouco mais detalhista para constatar as mazelas da Praça dos Três Poderes que tiram o brilho da arquitetura de Oscar Niemeyer e dos traços de Lucio Costa.
;A gente chega e acha tudo muito bonito. Quando começa a reparar melhor, percebe que há muito que melhorar;, resumiu o bancário José Ronaldo Franco, 40 anos, morador de Natal (RN). A praça está suja, apesar de a diretora-geral do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Fátima Có, garantir que todos os meses o calçamento em pedras é lavado com água e sabão. O piso, desnivelado, apresenta pedras quebradas e acúmulo de gordura que jorra dos carrinhos de pipoqueiros. Não há uma lixeira sequer em toda a extensão da praça.
O lixo, como pontas de cigarro e sacos de picolé, acaba jogado no espelho d;água cheio de lodo do Museu da Cidade, uma das três obras que compõem o Centro Cultural Três Poderes. Cinco das 16 luzes desse museu queimaram. Os fios das tomadas estão à mostra. Do lado de fora, as fezes dos pombos deixam imunda a cabeça de Juscelino Kubitschek, já rachada e enferrujada.
Não se consegue ler quase nada nas placas com informações para turistas. Elas precisam ser trocadas. ;Vou tirar foto e depois procurar na internet para saber que monumentos são esses;, disse a estudante soteropolitana Laysse Porto, 19 anos. ;Como não tem guia nem outra maneira de conseguir informação, a gente tira foto pela boniteza e por ser a capital da República;, completou a mãe dela, Wilma Porto, 45.
O Espaço Lucio Costa ; localizado no subsolo da praça ; sofre com infiltrações. Não há rampas para deficientes físicos. Os freqüentadores não podem ouvir a mensagem que explica a imensa maquete da cidade porque o sistema de som não funciona há três anos. ;Fico com vergonha de dizer que ainda está quebrado;, confessou a assistente Maria Eliete Melo, 56 anos, que trabalha no espaço há 15.
Fechado desde abril para uma reforma geral que ainda não começou, o Panteão da Liberdade é outro problema sério da praça. O teto de gesso do subsolo desabou. Os carpetes nunca foram trocados. Algumas placas de mármore da área externa caíram, obrigando a colocação de tapumes em volta do monumento. Colchões e uma escada revelam que moradores de rua encontraram abrigo no subsolo do Panteão. Eles entram por meio de uma grade que fica coberta por lençóis. ;A visitação caiu enormemente. A praça em si está uma tristeza;, reconheceu a gerente do Centro Cultural Três Poderes, Clarissa Wagner Reyes.
Torre de TV
Do mirante da Torre de Televisão, a 75m do solo, Brasília é uma maravilha. Dá para ver toda a beleza do Eixo Monumental, as águas do Lago Paranoá ao fundo e os prédios das asas Sul e Norte. Mas, se o olhar volta-se para baixo, a precariedade chama a atenção. Avistadas de cima, as barraquinhas da feira de artesanato espalhadas ao redor do pé da torre estão com lonas imundas, rasgadas e remendadas. Para sustentar as coberturas improvisadas entre uma barraca e outra, os feirantes usam vassouras, tijolos e paus. ;Não é nada atraente;, constatou o bancário alagoano Carlos André Barros, 47 anos.
No mirante, além do piso enferrujado, pichações enfeiam a estrutura metálica. Carlos André e os amigos de Maceió comentavam a falta de estrutura do lugar. ;Lá embaixo, não há placas indicando onde fica a subida para o mirante. Não tivemos orientação alguma;, ressaltou Douglas Lucas da Silva, 40 anos. Para chegar ao andar superior e apreciar a vista, o grupo de quatro bancários subiu no elevador de cheiro desagradável, tapete velho e tela do teto quebrada.
A 13ª maior torre do mundo, com 224m de altura, é um dos pontos turísticos mais visitados da capital da República. De passagem pela cidade, a comerciante do interior do Mato Grosso Ilda Costa, 42 anos, fez questão de conhecer o local. Apontou o esgoto que transbordava do bueiro, as calçadas quebradas e reclamou da falta de padronização das barracas. ;Infelizmente, não gostei do que vi;, afirmou Ilda.
Os banheiros públicos da torre, sinalizados à caneta em folhas de papel afixadas na porta, ficam no subsolo. Passaram por reforma no ano passado, mas, segundo o próprio presidente da Brasiliatur, César Gonçalves, a obra apenas garantiu as ;condições mínimas do serviço;.
Na parte dos quiosques que vendem comidas típicas dos estados, copos plásticos no chão dos corredores apertados, apesar das lixeiras. A escultura em formato de berimbau, atrativo para os flashes dos turistas, precisa de restauração: a ferrugem a desgastou. A poucos metros dali, as fontes luminosas do Jardim do Eixo Monumental não funcionam há pelo menos oito meses. O caminho até lá está depredado.
Aos fins de semana, quando o movimento aumenta, a população reclama da falta de estacionamento e de segurança. Em média, são 20 assaltos por mês, de acordo com vigilantes particulares que não quiseram se identificar. Alguns dias atrás, dois homens ; um deles armado ; levaram a bolsa da feirante Macélia Lima, 19, quando ela chegava para trabalhar. ;Era pouco depois das 9h em pleno sábado;, lembrou ela.
Leia sobre outros monumentos no Correio Braziliense desta terça-feira